Gabriela Grosso – acadêmica do 4º semestre de Relações Internacionais da Unama.

Ao contestar o pensamento, até então, consolidado a respeito da natureza anárquica do sistema internacional, a teoria construtivista afirma que a estrutura é moldada de acordo com a interação dos agentes, sendo construída a partir das identidades e interesses dos atores, constituídos por ideias compartilhadas, mostrando-se fundamentais para a composição da realidade. Para Alexander Wendt, autor que colaborou para o desenvolvimento da teoria, os Estados procurarão sempre a cooperação ao interagirem com países que têm boas relações, porém, quando a situação se mostra contrária, partirão para a balança de poder. (SARFATI 2005, p. 264).

Após os resultados das eleições presidenciais, no dia 30 de outubro de 2022, começou-se a levar questionamentos e suposições a respeito do direcionamento que a política brasileira assumirá. Principalmente que com a futura posse de Luiz Inácio Lula da Silva há uma possibilidade de construção de um cenário diferente do que tem sido apresentado nos últimos anos no Brasil, o que foi perceptível em seu primeiro discurso após ganhar as eleições, apontando a prioridade de reconstruir o país com um maior senso de união nacional, por meio da política, economia e gestão pública. Pode-se esperar a continuidade de projetos sociais como o “Auxílio Brasil” e a retomada do programa “Minha Casa Minha Vida”, além do aumento do salário mínimo, assunto que foi levantado por Lula em meio às campanhas durante o segundo turno. Essas medidas tendem a melhorar a conjuntura econômica e possibilita o comprimento de uma das promessas feitas pelo presidente eleito de combate à extrema fome e pobreza com a melhoria da renda da população. 

Com a consolidação das medidas apresentadas e uma restauração da solidez das instituições brasileiras, embora não vá ser uma transição de governo fácil, apresenta-se a perspectiva de uma maior margem para o investimento internacional, como já foi anunciado pela Noruega com o retorno de investimento contra o desmatamento na Amazônia, que havia sido suspenso em 2019, por conta da abordagem de Jair Bolsonaro em relação às questões ambientais. A necessidade de reintroduzir o Brasil no ciclo de discussões a respeito das mudanças climáticas é uma das transformações esperadas no novo governo e apontadas por Lula, especialmente em sua recente participação na COP27, garantindo a participação do Brasil nos esforços da causa climática e afirmando que o agronegócio passará a ser um aliado no empenho de uma agricultura regenerativa e sustentável. 

O retorno à pauta ambiental como foco da política brasileira é um dos motivos para uma mudança do isolamento que o Brasil vinha sofrendo internacionalmente nos últimos anos, que ocasionou danos à imagem do país e perdas econômicas. Logo após os resultados das eleições, houveram movimentações de diversos líderes mundiais reconhecendo a vitória de Lula, como os presidentes Joe Biden, Isaac Herzog de Israel e Emmanuel Macron, o presidente da França divulgou um vídeo logo depois do resultado parabenizando o presidente eleito em uma ligação. Esse panorama gerou uma expectativa positiva de restauração da política externa brasileira e um futuro retorno do prestígio do Brasil na comunidade internacional. Ainda no dia 31 de outubro, Lula recebeu a visita do presidente argentino, Alberto Fernández, e ambos compartilharam da necessidade da integração regional da América Latina, na direção de um maior crescimento regional. Esse movimento já era esperado por parte do futuro presidente, por conta da política externa e a cooperação sul-sul presente durante seus dois primeiros mandatos (2003-2010). 

Essa postura tende a se encaixar no que foi explicado na teoria construtivista a respeito da formação da estrutura internacional como algo influenciável pela movimentação e interação dos agentes, apresentando um cenário cheio de possíveis transformações. Por meio dessa colocação, torna-se possível compreender as ações de aproximação dos outros Estados com o Brasil após as mudanças ocorridas nas últimas semanas, tendo em vista a futura colaboração e as transformações esperadas no cenário brasileiro para os próximos anos e a possibilidade do país recuperar uma posição de destaque no âmbito internacional.

REFERÊNCIAS

“Leia e veja a íntegra dos discursos de Lula após vitória nas eleições.” G1, 31 de outubro 2022, https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/10/31/leia-e-veja-a-integra-dos-discursos-de-lula-apos-vitoria-nas-eleicoes.ghtml. Acesso em: 17 de novembro de 2022.

“Lula discursa na COP27: “O mundo tem pressa de ver o Brasil participando novamente das discussões do futuro do planeta.” GZH, 16 novembro 2022, https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2022/11/lula-discursa-na-cop27-o-mundo-tem-pressa-de-ver-o-brasil-participando-novamente-das-discussoes-do-futuro-do-planeta-clajukg6300740170w0771vgt.html. Acesso em: 17 de novembro de 2022.

SARFATI, Gilberto. Teorias de Relações Internacionais. São Paulo: Editora Saraiva, 2005

ROCHA, Roseani. “As perspectivas de negócios, consumo e imagem do País sob o governo Lula.” Meio e Mensagem, 31 de outubro de 2022, https://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/2022/10/31/eleicao-2022.html. Acesso em: 15 de novembro de 2022.

WENDT, Alexander. Anarchy is what States Make of it: The Social Construction of Power Politics. 1992.