
Rebecca Brito – acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da Unama
Na conjuntura hodierna, sabe-se que as américas foram palcos de um colonialismo baseado num sistema escravagista fundamentado no racismo com a subjugação de populações originárias e, sobretudo, povos negros a trabalhos forçados, em condições de privação de liberdade ao serem julgados como propriedades e mercadorias. Eventualmente, vale ressaltar que tal dinâmica resultou numa diáspora negra, no qual no continente americano o Brasil foi o país que recebeu o maior fluxo de escravos africanos entre os séculos XVI e XIX (IBGE, 2000), o que representa cerca de 300 anos de escravidão e a constituição de uma sociedade com raízes étnicas diversas, racistas, de desigualdade e injustiça.
Ademais, é importante destacar que tal dinâmica não foi pacífica, sendo bastante violenta, mas não deixou de enfrentar movimentos de resistência contra tal dominação, sendo a Guerra dos Palmares um dos episódios mais notáveis na história, dado a sua extensão territorial e populacional que configurou significativa rebelião e ameaça à ordem colonial portuguesa na América (Marquese, 2006). Sob esse viés, o líder quilombola zumbi dos Palmares é o símbolo dessa oposição à escravidão e por isso o dia 20 de novembro, aniversário de sua morte, tornou-se o dia da consciência negra (DW, 2020).
Outrossim, é válido abordar que tal data é de suma importância para o resgate histórico, reflexão sobre maior necessidade de medidas afirmativas e lutas contra o racismo estrutural, haja vista que mesmo com a abolição da escravidão em 1888, as consequências ainda permeiam na nação, uma vez que as populações antes escravizadas não tiverem nenhum tipo de assistência política e inclusão, sendo privados de instrumentos básicos de ascensão social, permanecendo assim as margens da sociedade (Agência Senado, 2020), além de que até hoje existem descobertas de trabalho análogos a escravidão sendo noticiados.
Nesse sentido, de acordo com a teoria crítica das relações internacionais, a transformação da realidade se dá na superação das formas de dominação existentes, assim sendo por meio da ação comunicativa, conceito criado por Habermas, se deve reconhecer o princípio de socialização e reflexão com a possibilidade do sujeito se posicionar criticamente na reinterpretação dos discursos mediante um saber holístico que abranja a multiplicidade de vozes dissonantes (Conte, 2016). Logo, compreende-se que valorizar as vozes daqueles que foram silenciados e sofrem exclusão na sociedade, abrindo o diálogo e o protagonismo a todos faz parte da emancipação e autonomia pública na formação social, educacional inclusiva e equilibrada.
Sob esse viés, as lutas contemporâneas do movimento negro cada vez mais presentes nas sociedades, como a Frente Negra Brasileira (FNB, o movimento negro unificado (MNU), o movimento internacional “Black Lives Matter” e entre outros, é de fundamental relevância para dar voz a um povo que historicamente foi invisibilizado e violado, formando um ambiente físico e virtual que visa combater o racismo e seus efeitos sociais, oferecendo protagonismo aqueles que estão à margem da sociedade e lutam por justiça e igualdade perante um contexto de opressão.
Desse modo, observa-se que é pelas lutas dos movimentos negros que se tem maior consciência do papel dos povos negros na história, suas dificuldades de inclusão social com a persistência do racismo estrutural que assola a sociedade, bem como é onde se identifica as demandas populares, sociais, culturais, políticas e econômicas destes que apesar dos avanços ainda se encontram em condições raciais assimétricas no sistema.
Referências:
Território Brasileiro e povoamento. Instituto brasileiro de geografia e estatística, 2000. Disponível em: https://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento/negros#:~:text=Presen%C3%A7a%20negra,ter%C3%A7o%20de%20todo%20com%C3%A9rcio%20negreiro. Acesso em: 09, de novembro de 2022.
Como 20 de novembro se tornou o Dia da Consciência Negra. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/como-20-de-novembro-se-tornou-o-dia-da-consci%C3%AAncia-negra/a-55664979. Acesso em: 09 de novembro de 2022.
CONTE, E. A FORMAÇÃO NO DEBATE COMUNICATIVO DE JÜRGEN HABERMAS. Cadernos de Pesquisa, São Luís, v. 23, n. 3, p. 134–147, 2016. DOI: 10.18764/2178-2229.v23n3p134-147. Disponível em: https://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/4733 . Acesso em: 9 nov. 2022.
Marquese, Rafael de Bivara. Dinâmica da escravidão no Brasil: resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX. Novos estudos CEBRAP [online]. 2006, n. 74, pp. 107-123. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-33002006000100007 . Acesso em 09 de novembro de 2022. Westin, Ricardo. Racismo estrutural mantém negros e indígenas à margem da sociedade. Agência Senado, 2020. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2020/01/racismo-em-pauta-2014-racismo-estrutural-mantem-negros-e-indigenas-a-margem-da-sociedade. Acesso em: 09 de novembro de 2022.