Lana Borges – Acadêmica do 4 º semestre de RI

Com o avanço da globalização e a crescente integração dos mercados, os governos e as empresas de atuação transnacional começaram a definir novas estratégias para não somente competir pelo acesso aos mercados internacionais, como também para garantir matérias primas cada vez mais disputadas.

A Amazônia é uma região de grandes proporções geográficas, rica em recursos naturais e minerais, potencial hídrico e grande biodiversidade, os quais geram interesses e preocupação por parte do mercado internacional e de países hegemônicos como França, Alemanha, Inglaterra, China e Estados Unidos. Por ser detentora de grandes reservas desses recursos naturais estratégicos, que são limitados, porém indispensáveis para a continuação do crescimento econômico atual, a região é vista como central no que concerne às disputas geopolíticas mundiais, dado a perspectiva de finitude de muitos desses recursos (alguns deles indispensáveis não só para o mercado, mas para a vida em si, como a água) em um futuro não tão distante. Desse modo, a região tem sido visada por grandes potências como EUA e China, assim como diversos países europeus, que buscam garantir o acesso a esses recursos para sobreviverem enquanto potências mundiais. (AMIN, 2015)

Por isso, esses países fazem grandes planejamento estratégicos para uso desses recursos e controle dessa região. Como foi definido pelo professor e estrategista Michael T. Klare, em seu artigo “A Nova Geopolítica da Energia”, em um futuro não muito distante, as guerras por ideologia e equilíbrio de poder darão espaço aos conflitos por recursos energéticos e regiões estratégicas, como a Amazônia, que serão palco dessas disputas, sem qualquer preocupação com os impactos sociais e ambientais que as guerras possam causar nesses locais. (AMIN, 2015)

Tendo em vista todos esses interesses das grandes potências mundiais, tem sido colocado em pautas de discussões diplomáticas das organizações internacionais, como a própria Organização das Nações Unidas, desde a segunda metade do século XX, a internacionalização da Amazônia, ou a relativização da soberania dos países que detém, sob seu domínio, a maior floresta tropical úmida do mundo. Sob o guarda-chuva do discurso de proteção ambiental, utiliza-se como argumento principal, para justificar a violação do conceito de soberania, a incapacidade do governo brasileiro de gerenciar esses recursos de maneira sustentável, e de impedir o avanço do desmatamento e destruição da floresta. (RIBEIRO, 2005)

Esses discursos não são, porém, feitos de maneira explícita oficialmente. No entanto, existiram diversos projetos, a princípio mascarados de projetos de cooperação técnico-científica, que visavam violar a soberania brasileira do território. Entre eles, pode-se citar os projetos Hindu, Japonês e Chinês, que eram basicamente tentativas de ocupação da região por pessoas de países superpopulosos, e até mesmo, a utilização do território como abrigo para os norte-americanos em caso de guerra nuclear no país. Além destes, também pode-se citar o Instituto Internacional da Hiléia Amazônica, o qual foi uma proposta da ONU, feita em 1945, para a criação de um órgão de pesquisas científicas em diversas áreas, que foi, posteriormente, identificado como tentativa de ocupação da Amazônia por países hegemônicos, violando, inclusive, o exercício de jurisdição nacional. (RODRIGUES, 2020)

Os Estados Unidos da América fizeram diversas tentativas nesse sentido. Dentre eles, o Instituto Hudson, o Projeto Centro do Trópico Úmido e o Plano Colômbia. Este último, vale ressaltar, seria o mais grave. Ele utiliza-se da narrativa da guerra às drogas e o combate ao narcotráfico para legitimar a ocupação militar norte-americana na Amazônia. Todos os projetos estavam ligados ao governo Estadunidense, ao pentágono e aos interesses deste país na investigação e exploração dos recursos amazônicos, passando por cima da soberania dos países que formam a pan-amazônia. (RODRIGUES, 2020)

Para entender essas disputas internacionais, o autor norte-americano John Mearsheimer vai colocar, em sua teoria do Realismo Ofensivo, que os Estados vão utilizar toda sua capacidade para maximizar seu poder relativo, ganhando cada vez mais força às custas dos outros Estados, sendo necessário, acima de tudo, a interferência nos mesmos, para manter-se na posição de hegemon do sistema internacional.

Para Ratzel, autor de geopolítica clássica, inspirador da Escola de Munique, o Estado é um organismo vivo, de expansão ilimitada, já que o espaço é o que confere poder, e o mesmo é essencial para o pleno desenvolvimento da nação. Neste sentido, o conceito de espaço vital vai ser fundamental, pois ele corresponde a essa “capacidade de um espaço geográfico para satisfazer as necessidades de uma sociedade humana etnicamente diferenciada que o habita” (Pag. 140, CORREIA). Por isso, segundo essa escola de pensamento, os Estados podem e devem expandir-se, em busca de assegurar seus interesses hegemônicos. 

Neste sentido, percebe-se que a Amazônia está sendo colocada enquanto espaço vital dos países hegemônicos, dado sua importância estratégica por ser o lar de uma grande diversidade biológica, detentora da maior reserva de água doce do mundo, e possuir um solo onde encontra-se diversos metais preciosos e outros minerais, com vantagens locacionais de grandes bacias hidrográficas navegáveis, com saída para o mar. Diante do avanço do capitalismo e da globalização, torna-se cada vez mais necessário assegurar o acesso e controle aos recursos naturais limitados e indispensáveis para o contínuo crescimento econômico das potências mundiais. Neste sentido, as ideias do realismo ofensivo vêm como ferramenta para entender as investidas sucessivas de países como os Estados Unidos, contra a soberania brasileira da Amazônia, para garantir a livre exploração dos recursos valiosos da região, de maneira a se manter como hegemon do Sistema Internacional.

REFERÊNCIAS

AMIN, Mario Miguel. A Amazônia na geopolítica mundial dos recursos estratégicos do século XXI, in: Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 107 | 2015. Acesso em:  <http://journals.openedition.org/rccs/5993>

CORREIA, Pedro Pezarat. Manual de Geopolítica e Geoestratégia. Edição 70. 2018. Edições Almedina, S.A.

KLARE, Michael .A nova geopolítica da energia. 2008. Disponível em: <http://www.ecodebate.com.br/2008/05/26/a-nova-geopolitica-da-energia-artigo-demichael-t-klare/&gt;

MEARSHEIMER, John J. The Tragedy of great power politics. First Edition. W. W. Norton & Company, Inc. New York.  2001.

RODRIGUES, Bernardo Salgado.Em defesa do Eldorado: disputa internacional pela Amazônia brasileira. Rio de Janeiro: ESG, 2020.

RIBEIRO, Nelson de Figueiredo. A questão geopolítica da Amazônia: da soberania difusa à soberania restrita. Brasília: Senado Federal, 2005.