
João Pedro Lameira Vieira
2° semestre de Relações Internacionais
Com uma história rica, tendo sido lar de grandes Impérios como Kanem e Bornu, sendo caracterizado como um país desconhecido por muitos, nos referimos ao Chade. Localizado no centro da África, ao sul da Líbia, o país é enorme, tendo um dos maiores territórios do mundo, cerca de 1.284.000 km². A população do país é concentrada ao Sudoeste do mesmo, onde encontra-se o Lago Chade, lago este, que abastece hidricamente mais de 20 milhões de pessoas não apenas no Chade, mas também em países como Camarões, Níger e Nigéria.
Porém, para entender seu momento de guerra, é necessário entender o que levou a ela. O país havia sido um lar de grandes riquezas e ricos impérios por décadas, entretanto, em 1920, a França coloniza a região, aderindo-a à África Equatorial Francesa. O país conquista sua independência em 1960, passando também por uma guerra civil que só terminaria em 1990. De acordo com o professor Mario J. Azevedo, membro do Departamento de Estudos Africanos e PhD em História Africana pela Universidade de Duke, afirma que após a independência, o país era finalmente administrado por Tombalbaye, um chadiano, que mantinha relações amigáveis com seus vizinhos, inclusive com a família real líbia.
A Líbia, entretanto, vive em um período de caos. Depois da política da região ter mudado com o golpe orquestrado por Muammar Al-Gaddafi, a partir de 1969, a relação entre as duas regiões, Chade e Líbia, que já não eram tão boas antes do golpe, pioram durante o governo, que cai apenas em 2011. O governo líbio apoiava o movimento Fronte de Libertação Nacional do Chade, defendendo a independência do norte do país. Após as frequentes ameaças de ambos os lados, seja a população chadiense sugerindo apoio à deposta família real líbia, seja Gaddaf apoiando o FROLINAT, houve por fim a paz entre as duas nações africanas. Em 1972 é assinado um acordo mediado pelo presidente do Níger.
Entretanto, mesmo depois de meses de paz, com o rompimento do tratado, a Líbia avança militarmente e invade o norte do Chade, interpretando-se claramente como o início da Guerra do Deserto: a anexação da Faixa de Aouzou, sendo ela uma área no norte do Charde, inserindo-se 100 quilômetros de largura e mais 60 quilômetros adentro do país, rica em urânio e outros minérios, sendo um dos principais interesses da Líbia, além de manter a França afastada da região. Já em 1978, alguns anos depois, há outro acordo, dessa vez um cessar-fogo, fazendo-se reconhecido o grupo FROLINAT pelo governo Chadiano. Em 1979 sobe ao poder no Chade Gukuni Wedei, sendo muito mais favorável aos líbios. Um ano depois Gukuni negociou o Tratado de Amizade e Cooperação com a Líbia, fortalecendo assim sua posição no país.
O tratado levou tropas do país invasor para os arredores de sua capital, depois do Chade ter seu território ocupado por oito anos. Em 1981 houve um tratado surpreendente entre Líbia e o Chade, que era formar uma só República Islâmica, porém não foi posto em prática.
Como é visto, a cooperação entre Muammar Gaddafi e Gukuni era imensa e amigável, porém mudaria drasticamente com um único acontecimento: dois comandantes chadienses foram enviados à Líbia e foram mortos por dissidentes, culminando assim em uma revolta por parte do presidente Gukuni, virando-se contra os Líbios. Entretanto, a Líbia ainda ocupava a Faixa de Aouzou, e fez uma investida cruzando a linha vermelha, cuja delimitação terrestre havia sido feita pela França com o objetivo de conter o avanço tanto do Chade quanto da Líbia em território alheio.
Porém, mesmo sendo uma nação superior militarmente falando, ainda perdeu para uma nação mais fraca, pois a Líbia não conhecia o terreno. A baixa moral dos soldados, a enorme insatisfação com o país e os equipamentos muito pesados, atrasaram as tropas. Sendo assim, o Chade consegue deter o avanço Líbio, porém, a Faixa ainda continuava ocupada. Todo o conflito acaba mudando com a ascensão ao poder, via golpe de estado, de Idris Deby, ditador do Chade que está no poder até os dias atuais. Em meados de 2020, conseguiu acordos de paz entre ambos os países, porém, por pouco tempo.
Após diversas tentativas de negociação fracassadas, em 1990 ambos concordaram em submeter a disputa territorial à Corte Internacional de Justiça. E, finalmente, em 1994, chega-se à conclusão: a Líbia deve remover sua administração e suas forças militares da faixa de Aouzou, sendo fiscalizado pelas forças militares Chadianas. Foi sugerido também, pelo Secretário-Geral da ONU, que se criasse um grupo de observação da Faixa de Aouzou, pondo fim à guerra que perdurou por anos.
Referências:
MILHOMEM, Gustavo. A Guerra do Deserto: A LÍbia e o Conflito Com o Chade. Goiânia, Goiás. 2020. Disponível em <https://www.doisniveis.com/africa/norte-africano/a-guerra-do-deserto-a-libia-e-o-conflito-com-o-chade/ > Acessado em: 9/11/2022
OCI. O Conflito da Líbia: Análise e Perspectivas. Série Conflitos Internacionais. Disponível em <https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/observatoriodeconflitosinternacionais/v.-7-n.5-out-2020.pdf> Acessado em: 9/11/2022