Gabriel Micael Contreira Ferreira – acadêmico do 4° semestre de Relações Internacionais da Unama

Joseph Nye em sua obra “The Future of Power” (2011) trata das transições de poder no sistema mundial, mas antes de adentrar na teoria do autor, precisamos entender como ele conceituava o sistema internacional. Nye afirmava que o poder estava relacionado com a produção, ou seja, quanto mais um país produzia, mais poder ele possuía dentro do palco internacional.

Anteriormente à Revolução Industrial, o poder se concentrava na Ásia, visto que a maior parte da população mundial se encontra nessa região e quanto maior a mão de obra disponível, maior seria os valores de produção. Entretanto, com a chegada das máquinas industriais, o desenvolvimento produtivo foi crescendo no Ocidente, principalmente na Europa, transferindo o poder mundial para esse território, no qual não iria permanecer por conta do acontecimento de duas guerras em seu próprio solo, abrindo brechas para a inserção da China no sistema mundial. E assim, o país passou a incentivar a abertura econômica nas cidades litorâneas, dando o ponta pé inicial para o retorno de sua influência em termos regionais e mundiais.


No mês de setembro desse ano, ocorreu o 20⁰ Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), evento que acontece a cada cinco anos e marca mudanças nas estratégias internas e externas do país. A reunião desse ano possui suas particularidades com políticas voltadas ao combate da Covid-19 como a “Covid Zero” e a perpetuidade de Xi Jinping como líder do Estado em seu terceiro mandato, gerando a necessidade de entender essas alterações e os desdobramentos dessa peça importante dentro do xadrez mundial.


Cabe sinalizar, em primeira instância, os valores vitais e inegociáveis para o Estado Chinês: A segurança desse como aparelho estatal, a manutenção da sua soberania e da política interna lidera pelo PCC e a composição de uma ambientação internacional favorável, com isso, podemos compreender que quaisquer tomadas de decisão irão se fundamentar nesses princípios. Outro fato, que é importante destacar, é o episódio da retirada do ex-presidente Hu Jintao do salão onde ocorria o encontro, a agência de notícias governamental Xinhua declarou que o ex-presidente não poderia presenciar o evento por uma questão de saúde, entretanto, um fato curioso de se destacar são as políticas de Hu e de Xi que traçam caminhos opostos. A retirada de Hu, e de outras personas políticas ligadas a ele, representam uma metáfora do afastamento das antigas políticas e a adoção de novos caminhos, principalmente aqueles que envolvem o sistema econômico de produção e de tecnologia, sem se distanciar de seus pilares essenciais e de uma forma menos branda. A mudança dos cargos mais altos por figuras ligadas a Xi Jinping e a sua declaração na última assembleia da ONU afirmando que “Qualquer esquema para interferir nos assuntos internos da China serão esmagados pelas rodas da história” fortalecem esse posicionamento político compactado na imagem de Xi, de um país que deseja estar na mais alta prateleira das relações internacionais, além de revigorar uma política interna mais fechada.


Dessa forma, podemos entender que as condutas do Congresso do PCC trabalham no âmbito da ruptura, removendo a presença das velhas políticas, mas dando continuidade as estratégias que envolvem seus valores vitais de uma maneira mais firme, materializando o pensamento de Joseph Nye, no qual afirmava que o poder mundial está retornando para a Ásia, portanto, a China pretende manter seu dragão fortalecido de qualquer influência externa na região, embarcando em direções que se auto fortalecem.

Referências:
BROW, Kerry e BĒRZINA-ČERENKOVA, Una. Ideology in the era of Xi Jinping. Journal of Chinese Political Science, 2018. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11366-018-9541-z

BRITO, Amanda e DE CASTRO, Maria Carolina. China e Segurança Cibernética. Rede CTIDC, 2020. Disponível em: https://redectidc.com.br/assets/files/China-eSegurancaCibernetica.pdf
LYRIO, Maurício Carvalho. A Ascenção da China como potência: fundamentos políticos internos. Fundação Alexandre Gusmão. 2010

Análise: O que aconteceu com o ex-líder da China Hu Jintao. CNN, 29 de outubro de 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/analise-o-que-aconteceu-com-o-ex-lider-da-china-hu-jintao/

NYE, Joseph. The Future of Power. PublicAffairs. 2011