
Railson Silva (acadêmico do 4º semestre de RI da UNAMA)
A Teoria Crítica foi baseada nos pensamentos de Cox e Linklater, que trouxeram impactos profundos para campo das Relações Internacionais (RI), inaugurando uma forte crítica às teorias positivistas, além de trazer uma ótica que proporcionou novas formas de reflexão. Nesse viés, tais pensadores abordaram discussões teóricas além daquilo apresentando no tradicional debate em RI.
Inicialmente abordaremos as indagações apresentadas por Robert Cox, na qual ele contrapõe as teorias positivistas ao afirmar “Teoria é sempre para alguém e para um propósito” (Cox, 1986, 207). Cox percebeu que as teorias tradicionais são marcadas pela metodologia positivista e pela tendência de legitimar a ordem social e as estruturas políticas prevalecentes (SARFATI, 2005). Nesse viés, Cox condenou as formas de governança global e em que medida elas perduram as assimetrias de poder e riqueza. Desse modo, ele desenvolveu o conceito de hegemonia da ordem mundial, na qual se trata de a possibilidade do capitalismo global manter as desigualdades materiais pela coibição e esforços para buscar o consentimento (COX, 2001).
Ademais, como forma de distinguir as teorias Cox (1995 a; 1995b), propôs uma diferenciação em três níveis, são elas: a perspectiva, a problemática e o propósito, permitindo assim a sua compreensão.
A perspectiva retrata a localização espaço-temporal. Desse modo, para ele a Teoria Crítica baseia-se numa abordagem historicista, observando perspectivas de mudanças sistêmicas significativas no plano histórico.
“O mundo é visto de uma posição definida em termos de nação ou classe social; de dominação ou subordinação; de ascensão ou declínio de poder; de um sentido de imobilidade ou de crise atual; de experiências passadas e de esperanças e expectativas para o futuro. Uma teoria jamais é a expressão pura e simples de sua perspectiva. Por outro lado, quanto maior a sua sofisticação, mais ela reflete sobre si e transcende sua perspectiva. Por conseguinte, não existe teoria por si só, divorciada de sua posição no tempo e no espaço. Quando uma teoria se apresenta como tal, faz-se necessário examiná-la como uma ideologia, e tentar revelar sua perspectiva” (COX, 1995, apud SILVA, 2005, p. 261)
Andrew Linklater, apoiado em Robert Cox, e com grande influência da escola de Frankfurt abordou a questão de que a tarefa da teoria crítica internacional seria fornecer uma teoria social da política mundial. Sob essa ótica, suas contribuições estão em sintonia com a defesa da noção de que a emancipação no domínio internacional deve ser alcançada na forma da expansão das barreiras morais entre comunidades políticas. Dessa forma, Linklater defende o universalismo moral sem exclusão.
Segundo Linklater (1998) seu pensamento está centrado no conceito de comunidade, revendo a separação entre as posições comunitarista e a natureza das barreiras moralmente relevantes de inclusão e exclusão da comunidade.
Sua ideia de comunidade política, ou cidadania cosmopolita, está vinculada na forma de uma comunidade dialógica, assim todos estão convidados a cooperar e qualquer posição moral está propensa ao questionamento. Logo, haveria uma responsabilidade coletiva e individual para o mundo como um todo e ao apoio de instituições globais efetivas, capazes de enfrentar as diversas assimetrias. Esse seria um modo mais adequado de determinar os melhores arranjos para uma ordem social mundial e de evitar a exclusão enquanto se celebra a diferença por meio da promoção de uma cultura dos direitos humanos universais. (LIMA, 2012)
Por fim, é de suma importância as abordagens apresentas para o âmbito das relações internacionais e devemos o reconhecimento as contribuições desses pensadores no desenvolvimento da Teoria Crítica, visto que, seus esforços estão em conciliação com a defesa da noção de que a emancipação no arbítrio das formas governança global é de extrema importância para entender as desigualdades fomentadas pelo sistema. Desse modo, tais pensamentos críticos apresentam uma visão inovadora nas discussões epistemológicas no âmbito das Relações Internacionais e no debate metateórico contemporâneo.
Referencias
SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. 2005
LIMA, Marcos (org) et al. Teóricos das Relações Internacionais. São Paulo: Hucited Ed. Capes, 2012.
SILVA, Marco Antonio de Meneses. Teoria Crítica em Relações Internacionais. IN. CONTEXTO INTERNACIONAL. Rio de Janeiro, vol. 27, no 2, julho/dezembro 2005, pp. 249-282.
COX, Robert. “Social forces, states and world orders: beyond international relations Theory”. In: KEOHANE, Robert. The neorealism and its critics. New York: Columbia, 1986.
COX, Robert. “Social forces, states and world orders: beyond international relations Theory”. In: COX, Robert W. & SINCLAIR, T.J. Approaches to word order. Melbourne: Cambridge University Press, pp. 85-123, 2001.
LINKLATER, Andrew, “The Achievements of Critical Theory”, in S. Smith, K. Booth e M. Zalewski (orgs.), International Theory: Positivism and Beyond. Cambridge University Press, 1996.
COX, Robert W. (1995a), “Critical Political Economy”, in B. Hettne (org.), International Political Economy: Underglobal Disorder. Nova Scotia, Fernwood Books.