
Por Kamilly Mácola – acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da Unama.
Durante a década de 1980, o construtivismo destacou-se por ir contra as principais vertentes do positivismo, criando uma nova premissa que afirma que o mundo é construído socialmente de acordo com as interações do agente e estrutura (ONUF, 1998). Também podemos adicionar que as ações humanas são motivadas pelas ideias, que são o meio propulsor da ação social, definindo os limites e resultando nas práticas (ADLER, 1999).
A Copa do Mundo realizada pela Federação Internacional de Futebol (FIFA), no intervalo de quatro anos, atrai a atenção das pessoas leigas e não leigas, sobre futebol, para torcerem pela seleção do seu país, colocando em jogo sua identidade nacional. A afirmação do autor marxista, Eric Hobsbawn, identifica mais o sentimento da identidade nacional quando afirma:
“A imaginária comunidade de milhões parece mais real na forma de um time de onze pessoas com nome. O indivíduo, mesmo aquele que apenas torce, torna-se o próprio símbolo de sua nação.” (HOBSBAWM, 2004, p.171)
É possível dizer que o evento é muito mais que uma ação do Estado, assim envolvendo áreas como a economia, marketing, jornalismo e etc. para a construção da identidade que é desenvolvida ao longo do tempo e a parte da mídia e comunicação que sempre realçam a explosão da torcida e convidam os mesmos a torcer pela seleção.
Com a televisão nas cores preto e branco, o Brasil sediava a copa de 1950 com a certeza de que seleção seria campeã mundial, assim levando cerca de 199.854 torcedores para ver o Brasil levantar a taça, porém o que ficou conhecido como “Maracanazo” aconteceu e marcou a história do futebol brasileiro de forma deplorável com a derrota da seleção brasileira para a seleção uruguaia por 2 x 1. Entretanto, esse acontecimento foi importante para criar o que hoje chamamos de “País do futebol”.
No ano de 1958, a sede da copa era outro país, mas a festa foi brasileira. Em solo sueco, o Brasil conquistava o seu primeiro título mundial e todos, no mundo, conheciam e se rendiam a Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé. Em sua primeira copa aos 17 anos, o homem que se tornaria o idolo maior do futebol foi o destaque do time brasileiro, revolucionando a maneira de se jogar futebol e a forma de como o mundo enxergava o Brasil, incorporando ao esporte, políticas e ideologias anti-racista, agora um negro se encaminhava para ser a estrela maior, o rei do futebol. Além disso, este primeiro título mundial fez o povo reconquistar a sua paixão e identidade nacional através do esporte. Agora, o mundo via o Brasil como um país da miscigenação racial e da “ginga” de seus dribles dentro e fora das quatro linhas do campo.
Essa foi uma das mais importantes ações feitas, já que pela conduta do Brasil muitos países mudaram sua política, principalmente dentro do futebol, e a partir desse ato, jogadores como Vinicius Júnior e Mbappé tiveram a chance de entrar em times europeus e disputar copas.
Já com as televisões com telas coloridas, a chamada “seleção canarinho” pode ser vista ao vivo pelos torcedores brasileiros. Esta informação fez as vendas de novas televisões dispararem, pois todos queriam assistir, por exemplo, o jogo entre Brasil e Inglaterra teve uma audiência mais alta que a transmissão da chegada do homem à lua. Desde essa época, o futebol construía um laço muito forte com a economia, além do prêmio milionário para o ganhador, há muitas vendas de televisões como em 2022, onde lojistas esperam aumento na venda de 30% com relação aos últimos anos.
Além disso, a copa de 1970, foi marcada pela música “Pra frente Brasil” usada pelos militares para promover uma imagem boa do país, ou seja, a música não se referia somente pelo apoio dos torcedores brasileiros no futebol, mas para transmitir uma imagem que todos estavam apoiando a ditadura militar, além de camuflar a violência que o Brasil sofria diariamente.
A famosa comemoração de Galvão Bueno e Pelé com a frase “É tetra! É tetra!”, na copa do mundo dos Estados Unidos, foi transmitida para todos os brasileiros depois que Baggio, jogador italiano, errar o pênalti e dar o título para o Brasil. Isso fez com que houvesse um impulso ainda maior com o sentimento nacionalista e patriotismo brasileiro, assim como o aumento da audiência das mídias. Mesmo após a crise que assolou metade dos países na década de 1980, o espírito do esporte tinha tomado conta dos brasileiros novamente e mostrado para o mundo, o país do futebol e da alegria, que vinha sendo construído junto com a política do Brasil.
Em 2002, na copa conjunta entre Japão e Coreia do Sul, já com o plano real e com as políticas do Brasil encaminhada, o futebol e a política do país caminharam lado a lado, e ressaltou a frase “Brasil, país do futebol”. Entretanto, a imagem desse país divulgada por estrangeiros, não seria possível devido a grande massa de torcedores que torcem e rezam pelo time do coração.
Contudo, no decorrer do tempo, desde 1950 até os dias atuais, o Brasil vem modelando sua imagem para o exterior de forma festiva, pelos dribles, comemorativa, pelos cinco títulos, e alegre, pelo seu jeito, além de contar com a torcida, com o sentimento de patriotismo. Pode-se afirmar que dentro de uma partida de futebol há um construtivismo, tanto com os times jogando, no qual projetam valores no imaginário coletivo social e no sistema internacional (MONTANINI, 2017). Além disso, a retomada da identidade brasileira, em 1950, foi construída em conjunto, o Estado e o futebol. Hoje é possível dizer que os jogadores, herdeiros dessa construção que se tornou mundial, como Vinicius Junior, Neymar Junior, Pedro, Richarlison, Raphafinha e outros jogadores podem bailar à vontade pelos gramados que servem de palco para a arte do futebol.
REFERÊNCIA
COPA do Mundo 1962 – Chile. GE, [S. l.]. Disponível em: https://ge.globo.com/futebol/copa-do-mundo/historia/copa-do-mundo-1962-chile.htm.Acesso em: 25 out. 2022.
COPA do Mundo 1970 – Chile. GE, [S. l.]. Disponível em: https://memoriaglobo.globo.com/esporte/copa-do-mundo-do-mexico-1970/noticia/copa-do-mundo-do-mexico-1970.ghtml . Acesso em: 25 out. 2022.
MONTANINI, Marcelo Marinho. “Imagina na Copa!?”: uma análise da construção da imagem do Brasil através do futebol, da mídia e da política externa no período 2003-2014. ISCSP, [s. l.], 2017.
O CONSTRUTIVISMO e Suas Versões no Estudo das Relações Internacionais, [s. l.], 2010.PELÉ 80 anos: a brilhante Copa do Mundo de 1958 de um menino. In: Seleção Brasileira. [S. l.], 23 out. 2020. Disponível em: https://www.cbf.com.br/selecao-brasileira/noticias/index/pele-80-anos-a-brilhante-copa-do-mundo-de-1958-de-um-menino. Acesso em: 25 out. 2022.
URUGUAI VENCE A COPA E CALA O MARACANÃ. [S. l.], 16 jul. Disponível em: http://memorialdademocracia.com.br/card/o-dia-em-que-o-pais-inteiro-chorou. Acesso em: 25 out. 2022.
“Imagina na Copa!?”: uma análise da construção da imagem do Brasil através do futebol, da mídia e da política externa no período 2003-2014. In: Jogos Eternos : Brasil 1 x 2 Uruguai 1950. [S. l.]. Disponível em:https://imortaisdofutebol.com/jogos-eternos-brasil-1×2-uruguai-1950/. Acesso em: 25 out. 2022.
“IMAGINA NA COPA!?”: FUTEBOL, MÍDIA E POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO PERÍODO DE 2013-2014. In: MONTANINI, Marcelo Marinho. “Imagina na Copa!?”: uma análise da construção da imagem do Brasil através do futebol, da mídia e da política externa no período 2003-2014. [S. l.: s. n.], 2017.