
Keity Oliveira e Lorena Carneiro – Acadêmicas do 4º semestre de RI
O recente encerramento da nova versão da clássica novela Pantanal, exibida pela primeira vez em 1990, pela Rede Manchete e agora, em 2022, pela Rede Globo, buscou como uma de suas principais missões, levantar a bandeira de preservação da natureza e do bioma do Pantanal, que desde o ano de 2019, sofre com a devastação de sua fauna e flora, promovida por queimadas. Em paralelo a isso, a degradação ambiental da área também chama atenção para o processo de colapso sofrido pelos ecossistemas da Amazônia, outro grande bioma brasileiro que está sendo constantemente ameaçado pelo desmatamento e pela destruição desenfreada.
Diante disso, o quadro Amazônia em Foco, através deste texto, busca sinalizar para a situação emergencial que se encontram os biomas e mostrar a importância interconectada de ambos para o país e o mundo.
O Brasil, considerado um “santuário” quando se fala em biodiversidade, tem sido palco de tristes e gigantescas ondas de destruição ambiental. Seus dois maiores biomas, Pantanal e Floresta Amazônica, estão desaparecendo com a intensificação das queimadas e do desmatamento (Greenpeace, 2020). A receita para o caos ambiental se dá pelas transformações climáticas já vivenciadas no mundo, provocando secas severas, que facilitam a propagação do fogo, por exemplo, e, principalmente, pelo descaso proposital do poder público no que tange à pauta. Pode-se dizer que o Brasil vive hoje a pior crise ambiental de sua história.
O Pantanal, maior planície inundável do mundo e considerada pela Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – como Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera, teve, em setembro de 2020, cerca de 21% de sua área devastada (Folha de São Paulo, 2020). Os imensos campos de pastagem e o colorido dos animais silvestres deram lugar a cinzas, carvão e restos mortais. As áreas afetadas incluem, ainda, terras indígenas, como a Baía dos Guató, localizada em Barão do Melgaço, no interior de Mato Grosso, que teve sua rotina fortemente afetada pela catástrofe, tendo em vista que a natureza era o seu principal meio de subsistência.
Assim como acontece na Amazônia, a logística para resgate e ajuda no Pantanal é muito precária. Para o resgate de animais, por exemplo, foi necessária a conjunção de forças de médicos e auxiliares veterinários, muitos desses voluntários do GRAD- Grupo de Resgate de Animais em Desastres, bombeiros civis e estudantes, que além de seu conhecimento, doaram equipamentos e o mínimo de tecnologia para desenvolverem as suas atividades. Não existe um grupo de resgate/ ajuda oficial de governo, seja em qual esfera for, para atuar em casos extremos como esse. As ações oficiais foram em caráter de parceria através de órgãos como IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
Tantas lacunas já mostram a ineficiência governamental frente ao tema. Especialistas já alertavam as autoridades sobre as mudanças naturais/climáticas na região pantaneira. A estiagem, observada desde 2019, pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas, da UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso, mostrava uma queda nos índices pluviométricos na região, o que naturalmente já poderia ser um fator de preocupação com o bioma. Somando-se a isso, a intensificação das ações antrópicas, como o turismo desregulamentado e a expansão de pastos para a criação de gado de corte, fizeram com que o Pantanal se tornasse uma verdadeira bomba-relógio, como afirma a professora Cátia Nunes da Cunha (Folha de São Paulo, 2020), pesquisadora do supracitado setor da UFMT. Infelizmente, mais uma vez, a ciência foi ignorada.
Na Amazônia, o rastro de destruição e morte continua. Os índices de desmatamentos e queimadas, provocados pelos empresários do agronegócio, atingiram, em agosto de 2022, recordes quando comparados com os últimos dois anos (Amazônia Real, 2022). O ponto de inflexão da floresta, ou seja, ela não terá mais a capacidade de se regenerar, está cada vez mais próximo. A influência desses empresários junto aos órgãos responsáveis pelos licenciamentos para exploração ambiental estabeleceu um verdadeiro desmonte das responsabilidades e negligências com a natureza. Desmonte esse, naturalizado e institucionalizado pelo governo federal e que representa uma sentença de morte, especialmente para os povos tradicionais dessas regiões, como comunidades indígenas e quilombolas.
Importante ressaltar que os ecossistemas existentes no mundo são interconectados. Não há que se pensar em consequências isoladas para um ou dois países. A Amazônia, por exemplo, é a grande responsável pela formação dos “rios voadores”, que formam e dispersam as chuvas ao redor do mundo (Mamed, 2020). A alteração dos ciclos naturais na região afeta todos os outros biomas existentes, não só no Brasil, como na América do Sul e ao redor de outros lugares. O Pantanal, por ser o mais próximo, acaba sendo o mais prejudicado nesse contexto. A morte da fauna e flora dessas áreas altera toda a cadeia produtiva e alimentar, que afeta a todos nós.
Não bastasse a sua inação, o Estado brasileiro, proclama inverdades sobre a sua realidade ambiental, quando o presidente da república, Jair Bolsonaro, discursa na Assembleia Geral da ONU (Agência Brasil, 2020) e afirma que os incêndios e o desmatamento na Amazônia e no Pantanal são fatos pontuais, que fogem da normalidade dentro do país e colocando, ainda, a culpa dos desastres nos povos tradicionais que vivem nas áreas.
É dever constitucional do Estado brasileiro a proteção e zelo pelo nosso patrimônio ambiental. Infelizmente a realidade que temos é reflexo do projeto de destruição conduzido pelo governo Bolsonaro. O enfraquecimento e desmonte sistemático da legislação e das estruturas e políticas públicas de proteção e conservação ambiental consegue promover no Brasil uma avalanche de destruição e morte.
Em suma, “o Brasil está em chamas, e isso não é uma figura de linguagem” (GREENPEACE BRASIL, 2020), no qual seus principais biomas estão em um processo de degradação promovido por mudanças climáticas e principalmente pela ação desenfreada humana, que com o aval do governo federal, abre espaço para novas tragédias ambientais que impactam diretamente na vida da população brasileira. Nesse sentido, cabe-se destacar que é dever do governo zelar pelo patrimônio ambiental dos brasileiros, no qual os biomas fazem parte da história e identidade do país. As ações ambientais implementadas até o momento, já se mostraram ineficazes e insuficientes, colaborando para o aumento de casos de crimes ambientais que atingem tanto a floresta, quanto as várias comunidades que ali residem.
Portanto, sinalizar para a necessidade de proteção das florestas e dos demais ambientes naturais brasileiros é resistir contra um contexto de intensas crises climáticas e de destruição causada pelo modelo capitalista predador. Como é sublinhado pelo autor Michel Foucault (1992), onde existe poder, há sempre a possibilidade de resistência. Dessa forma, a resistência encontra-se na sociedade civil, em especial as próprias comunidades que residem nessas regiões e que lutam diariamente para a defesa e conservação dos biomas.
Diante da temática exposta, recomendamos dois documentários, o primeiro é “Jaguareté-Avá: Pantanal em Chamas” de Lawrence Wahba, que acompanhou, durante 10 semanas, o início de um dos maiores incêndios da história do bioma do Pantanal. Durante esse tempo, Wahba acompanhou brigadistas, veterinários, voluntários e pesquisadores na luta pela vida e recuperação do bioma do Pantanal após os incêndios. Mais que um filme sobre o que aconteceu, o documentário tem como objetivo chamar atenção da sociedade para a urgente necessidade de preservação do bioma. O documentário está disponível no streaming do Globoplay e pode ser visualizado pelo link a seguir:
< https://globoplay.globo.com/jaguarete-ava-pantanal-em-chamas/t/1cQkyY9BPG/ >
O segundo se chama “Amazônia Selvagem: Berço da vida”, produzido pelo National Geographic e que apresenta as mais variadas espécies que habitam a Amazônia. Além disso, a produção mostra a interação entre os animais e a luta por sobrevivência em meio às queimadas, mudanças climáticas e desrespeitos ocasionados por ações humanas. O documentário está disponível no Youtube e pode ser visualizado pelo link a seguir:
< https://www.youtube.com/watch?v=aWnglSRmilc&ab_channel=PlanetaNarrado >
Ademais, destaca-se o trabalho realizado pelo Greenpeace Brasil, braço do Greenpeace no país, que se constitui como uma organização não governamental de ambiente, com mais de 30 anos de luta em defesa do meio ambiente. É presente no Brasil desde 1992 com a atuação de ativistas que denunciam e confrontam governos, empresas e projetos que incentivam a destruição da Amazônia e ameaçam o clima global.
Para mais informações, acesse:
Site Oficial: < https://www.greenpeace.org/brasil/ >
Instagram: < https://www.instagram.com/greenpeacebrasil/ >
Facebook: < https://www.facebook.com/GreenpeaceBrasil/ >
Twitter: < https://twitter.com/greenpeacebr >
Por fim, recomenda-se o Centro Brasileiro de Relações Internacionais – CEBRI, um think thank de referência em relações internacionais e atua com uma rede de especialistas ampla, influente, plural que busca soluções inovadoras e multidisciplinares para questões relevantes e atuais, influenciando na formulação de políticas públicas voltadas à promoção da agenda internacional do Brasil, incluindo um núcleo voltado ao meio ambiente.
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REFERÊNCIAS
AGÊNCIA BRASIL. Veja a íntegra do discurso de Bolsonaro na 75ª Assembleia Geral da ONU. Publicado em 22 de setembro de 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-09/veja-integra-do-discurso-de-bolsonaro-na-75a-assembleia-geral-da-onu. Acesso em: 21 de outubro de 2022.
AMAZÔNIA REAL. Queimadas batem recorde em agosto na Amazônia. Publicado em 01 de setembro de 2022. Disponível em: https://amazoniareal.com.br/queimadas-batem-recorde-em-agosto-na-amazonia/. Acesso em: 23 de outubro de 2022.
FOLHA DE SÃO PAULO. Pantanal: o rastro de destruição do fogo que já devastou 21% do bioma. Publicado em 2020. Disponível em: PANTANAL: o rastro de destruição do fogo que já devastou 21% do bioma. Acesso em 17 de outubro de 2022.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 1992. Acesso em: 23 de outubro de 2022.
GREENPEACE. Brasil em chamas: do Pantanal à Amazônia, a destruição não respeita fronteiras. Publicado em 16 de setembro de 2020. Disponível em: https://www.greenpeace.org/brasil/blog/brasil-em-chamas-negando-as-aparencias-e-disfarcando-as-evidencias/. Acesso em: 20 de outubro de 2022.
MAMED, Danielle. Queimadas na Amazônia e no Pantanal em tempos de pandemia: meio ambiente, saúde e direitos humanos em pauta. Anais do XVII do Congresso Internacional de Direitos Humanos. Publicado em novembro de 2020. Disponível em: https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/69256274/2021_artigos_gt_10_queimadas_pantanal-with-cover-page-v2.pdf?Expires=1666542005&Signature=bMVm0J5GaMGC3d04NGzDIVMsxCQ3y8MrN3mKTouRWlq4edu92x7xAMfDS3B3PO4rgzfM5WyMTtYoJ9czrvivTZIgCTeU9RD1MVq~k3nhA7xhoq4DI8HcyLHlDuqFKnKZczCiUEOHWklU~axAR0y2U3bvXIozNZGI5Rk8p-42XaqPg-i9jmm2vvumhUItKe1jHGtH2ryYQfs5GzoUKoL1zv~hy8vR6I6BOE9lPv82-KYVeXfISPyDXcfUqpFOhe2J1T0~nJDXIPBA6GP9Z1Z0uyKCmc2NSl7FgbM6x7QOtPrx2rV4qPm-P78qwz6gOwAuwd-F1URVsaCmUW3kAv2GBw__&Key-Pair-Id=APKAJLOHF5GGSLRBV4ZA. Acesso em: 23 de outubro de 2022.