Amanda Olegário – 2º semestre
A Guerra do Peloponeso é considerada até os dias de hoje como um conflito de grande importância histórica por servir como instrumento analítico para compreender as guerras e os conflitos que a sucederam e debater sobre a relação entre o âmbito político e o bélico, como a Primeira Guerra Mundial e a Guerra Fria. Ela também serve como base para o estudo do Realismo Clássico na área das Relações Internacionais fundamentada pela obra do historiador grego Tucídides (464 – 401 a.C.) chamada “A História da Guerra do Peloponeso”.
Com isso, a Guerra do Peloponeso é definida como sendo a disputa entre Atenas e seu império (Liga de Delos) contra Esparta, Tebas, Corinto e outras cidades-estado (Liga do Peloponeso), e ocorreu entre 4 de abril de 431 a.C. com Tebas tentando atacar Platea, aliada de Atenas, e seu fim se deu em 25 de abril de 404 a.C. com a derrota de Atenas e a ascensão de Esparta como única potência grega restante. Segundo Pedro Paulo Funari (p. 29, 2006), a guerra pode ser dividida em seis etapas: 1) a guerra sob a liderança de Péricles e a revolta no Império Ateniense (432 – 427 a.C.) ou então a Guerra de Arquidamo, rei de Esparta; 2) as novas estratégias atenienses (426 – 421 a.C.); 3) paz e guerra (421 – 416 a.C.); 4) a guerra no teatro de operações ocidental (Sicília) e a derrota ateniense (416 – 413 a.C.); 5) revoltas no Império de Atenas (413 – 410 a.C.), também chamada de Guerra na Jônia; e 6) a restauração da democracia em Atenas e a queda de Atenas (410 – 404 a.C.).
Os principais antecedentes da guerra decorrem da invasão persa e do congresso pan-helênico em 481 a.C. em Corinto com a reunião de quase todas as cidades-estado e a formação de uma aliança para combater os persas, além das transferências de lideranças tanto de Atenas quanto de Esparta. Vale elencar também o despotismo do rei espartano Pausânias, a criação da Liga de Delos por Atenas e seus aliados para mobilizar uma frota naval contra os persas e proteger a Grécia, seguido pelo crescimento do império ateniense.
Com a ascensão de Péricles no poder, as iniciativas de Atenas acabam alterando o equilíbrio de forças entre a Liga de Delos e a Liga do Peloponeso gerando atritos e conflitos entre os Estados, como a construção de longos muros de Mégara até seu porto de Nisea, o ataque à frota de Egina após esta se sentir prejudicada comercialmente por Atenas e se juntar à Liga do Peloponeso (JAGUARIBE, p. XXIX – XXX, 2001) e a conquista da cidade de Mênfis, no Egito. Esparta acaba entrando em conflito direto com Atenas após o episódio de Egina, mostrando a superioridade espartana nas lutas terrestres e Atenas nos combates marítimos.
Após alguns conflitos com outras cidades-estado, uma trégua que sucedeu a Paz de 30 Anos, o confronto entre Corinto e Córcira e o embargo econômico contra Mégara, Esparta se viu forçada a reiniciar a guerra com Atenas por conta não somente desses acontecimentos, mas principalmente porque não queria ceder seu poder ao império.
Tucídides explica de forma sucinta a motivação da guerra, afirmando da seguinte forma: “a causa mais verdadeira de conflito, mas a menos comentada, foi o crescimento do poder (arkhé) de Atenas, que amedrontava os espartanos e forçando-os à guerra” (FUNARI, p. 32- 33, 2006 apud TUCÍDIDES), pois, segundo Pedro Paulo Funari (2006), Atenas queria expandir sua hegemonia para outras regiões e conquistar os benefícios de uma liderança comercial e marítima, e Esparta se preocupava com sua segurança interna por conta do medo das populações submetidas e das cidades-estado vizinhas que circundavam a região do Peloponeso se voltassem contra a hegemonia espartana e se inspirassem na democracia ateniense.
Com tantas batalhas, crises políticas, a peste e a alternância de êxitos militares entre Atenas e Esparta, a Guerra do Peloponeso enfraqueceu a Grécia e foi o motivo de seu declínio. Esparta saiu como única potência hegemônica restante após a derrota de Atenas e instituiu uma ditadura sobre a Grécia. Mas sua liderança não durou muito, e logo o território grego foi dominado por Felipe II da Macedônia e mais tarde pelo Império Romano.
A partir do prisma realista clássico, no primeiro momento, percebe-se que as cidades-estado, especialmente Atenas e Esparta, são tratadas como Estados e como atores unitários por terem uma centralização política própria, além de agirem de forma racional ao analisarem a situação de forma pragmática e se unirem para defender um interesse em comum: a segurança do seu território contra os persas. Posteriormente, é demonstrado como causa da Guerra do Peloponeso o desequilíbrio de poder entre as cidades-estado por conta de conflitos por território e por fontes de abastecimento e, mais tarde, pelo crescimento do poder ateniense.
Com isso, cada cidade-estado deveria garantir sua própria segurança nacional, estabelecer alianças e aumentar seu poder a partir de suas potências militar e bélica, levando em conta a análise dos custos e benefícios de cada ação e estratégias que possibilitavam chegar a tal objetivo, que são premissas consideradas relevantes na hierarquia das relações internacionais, segundo o paradigma realista. Então, além de ter sido inovadora em questão de estratégias militares e grandes inovações diplomáticas que serviram para outros povos e conflitos, a Guerra do Peloponeso serve para compreender as motivações, táticas e estratégias utilizadas tanto nas guerras quanto no âmbito político, aprimorando o estudo e análise das Relações Internacionais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FUNARI, Pedro Paulo. Guerra do Peloponeso. In: História das Guerras / Demétrio Magnoli, org. 3. Ed. São Paulo: Contexto, 2006, p. 19 – 46.
SARFATI, Gilberto. Teoria de Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 37 – 46.
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Prefácio de Hélio Jaguaribe; Tradução do grego de Mário da Gama Kury – 4ª edição – Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001.