Railson Silva (acadêmico do 4º semestre de RI da UNAMA)

Dentre as correntes teóricas que fazem parte da área de Relações Internacionais (RI), é a Teoria Crítica, na qual foi formulada a partir da Escola de Frankfurt, reconhecida como precursora filosófica e metateórica da Teoria Crítica em RI. Nesse sentindo, é imprescindível conhecer os pensadores Max Horkheimer e Adorno que fizeram parte da construção dessa teoria. 

Esta teoria faz uma reflexão sobre a construção social, além de tratar sobre os efeitos do conhecimento nos arranjos sociais. Ela investiga as perspectivas de novas formas de comunidade almejando a liberdade dos indivíduos, rejeitando os pressupostos que as estruturas existentes são imutáveis, visando não permitir a reprodução constante das diversas formas de dominação. Tais temas foram de suma importância na crítica ao neorrealismo e na implementação gradual de um projeto emancipatório.

Primeiramente, a preocupação central da teoria crítica é a emancipação. Sob essa ótica, uma das vertentes da Teoria Crítica mais influentes na área tem sido o pensamento de Max Horkheimer, em que aborda a Teoria Crítica na perspectiva da razão emancipatória. Segundo Horkheimer (p. 156- 157, 1980), “A teoria crítica não almeja de forma alguma apenas uma mera ação do saber, ela intenciona emancipar o homem de uma situação escravizador”. Através dessa obra o pensador buscou mostrar a incapacidade da Teoria Tradicional em fornecer conhecimento para um projeto emancipatório humano e social, além de não dar conta de explicar a realidade que vivemos.

Max Horkheimer e Adorno elaboraram a Dialética do Esclarecimento (1947), na qual deu origem ao “pessimismo” da nova teoria crítica sobre a possibilidade da emancipação humana e da liberdade.

A princípio a Teoria Crítica na tradição Iluminista, vê na razão uma base possível de emancipação. Nessa perspectiva, a teoria crítica faz jus ao Iluminismo que ousa pensar por si mesmo, como condição para a possibilidade de autonomia humana.

Essa mesma razão se instrumentaliza, se subordina à técnica e a um processo de dominação da natureza, consequentemente se afastando assim de seus princípios. Por isso Adorno e Horkheimer buscam revisar a própria racionalidade humana, resgatando o significado de guiar-se pela razão. Para eles: “[…] a humanidade, em vez de entrar em um estado verdadeiramente humano, está se afundando em uma nova espécie de barbárie” (ADORNO & HORKHEIMER, 1985, p. 11), levando à “autodestruição do esclarecimento”.

Adorno e Horkheimer denunciam o esclarecimento como propósito iluminista, em que a modernidade nasce afirmando a autonomia do sujeito e uma razão emancipatória, que se converte em uma razão procedimental e instrumental interrompendo o projeto original de liberdade.

Seguindo essa lógica, o próximo aspecto do “esclarecimento” que precisa ser ressaltado no caminho para a dominação se dá no campo da cultura. O tema da indústria cultural se insere no esforço de Adorno e Horkheimer em compreender o processo civilizatório, ou como se efetivou o esclarecimento. Dessa forma, eles buscam enfatizar o domínio da razão instrumental sobre a cultura, ou seja, a análise da indústria cultural que revela a engrenagem que faz “girar” o sistema de dominação e controle ideológico e político. Eles pintam com cores fortes essa nova realidade:

[…] a cultura contemporânea confere a tudo um ar de semelhança. O cinema, o rádio e as revistas constituem um sistema. Cada setor é coerente em si mesmo e todos o são em conjunto, até mesmo as manifestações estéticas de tendências políticas opostas entoam o mesmo louvor do ritmo do aço. Os decorativos prédios administrativos e os centros de exposição industriais mal se distinguem nos países autoritários e nos demais países. Os edifícios monumentais e luminosos que se elevam por toda parte sãos os sinais exteriores do engenhoso planejamento das corporações internacionais, para o qual já se precipitava a livre iniciativa dos empresários, cujos monumentos são os sombrios prédios residenciais e comerciais de nossas desoladoras cidades (ADORNO & HORKHEIMER, 1985, p. 113).

Em suma, as contribuições de Adorno e Horkheimer resulta na convicção da pertinência de sua reflexão filosófica para o pensamento contemporâneo e sua contribuição para o confronto, pela crítica social, política, cultural e educacional, das graves questões da nossa sociedade como um todo – a chamada civilização da razão – empregando uma ótica sobre o seu desenvolvimento, a partir do seu interior.

REFERÊNCIAS

Filosofia e teoria crítica. Trad. J. L. Grümmewald (et al.). In: Os pensadores Walter Benjamin; Max Horkheimer; Theodor W. Adorno; Jurgen Habermas Textos escolhidos. São Paulo, Abril Cultural, 1980a, p. 155-161

HORKHEIMER, Max. Teoria tradicional e teoria crítica. In: HORKHEIMER, Max e ADORNO, Theodor W. 5 ed. – São Paulo: Nova Cultural, 1991.

ADORNO, Theodor W. e HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução: Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985.

LIMA, Marcos (org) et al.Teóricos das Relações Internacionais. São Paulo: Hucited Ed. Capes, 2012.

MEDEIROS, Alexsandro M. Adorno e Horkheimer: a Teoria Crítica como objeto de emancipação (RESENHA). Disponível em: < https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/adorno-e-horkheimer-a-teoria-critica-como-objeto-de-emancipacao-resenha/ https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/adorno-e-horkheimer-a-teoria-critica-como-objeto-de-emancipacao-resenha/>