
Profª. Drª. Lygia Socorro Sousa Ferreira
Desde o final do século XX, a educação vem passando por significativas transformações com a inserção das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) no contexto escolar. Tanto que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (lei 9394/96) e o Plano Nacional de Educação (lei 10.172/2001) já citavam de modo específico a importância da implementação das ferramentas tecnológicas para a democratização da educação, ao permitirem a expansão do acesso aos variados níveis de ensino, da pesquisa e da criação artística, além de ser concebida como instrumento estratégico para estimulação do diálogo entre elementos culturais que favorecem o enriquecimento do currículo.
Sabe-se que toda essa alteração no modus operandi educacional é consequência do advento da cibercultura, quando os aparatos infotecnológicos que, a partir dos anos 90, passaram a ressignificar as relações sociais, redefiniram as dimensões do trabalho e do lazer, modificaram as estruturas políticas, institucionais e, obviamente, também interferiram no processo de aprendizagem. Por isso, um dos mais populares autores favoráveis a revolução tecnológica, Pierre Lévy (1999), afirma que o contexto cibercultural engloba o conjunto de técnicas, práticas, comportamentos, modos de pensamento e de construção de valores que se originam e se desenvolvem em consonância com o crescimento do ciberespaço.
Sobre o ciberespaço, é válido ressaltar que não se reduz à estrutura material que serve de suporte para a comunicação digital, mas a todo universo de informações que ela abriga, como a ampla rede de usuários que não apenas navegam por este espaço, mas também o alimentam e fazem expandi-lo. Por isso, devido a influência do ciberespaço, o grande desafio imposto ao professor é mudar completamente a forma de ensinar, saindo do modelo consolidado há anos, no qual existe uma relação hierarquizada entre professor-aluno e padronizada dos conteúdos para outra que incentive a construção de espaços mais inclusivos, com fluxos não lineares que permitam o diálogo entre os sujeitos envolvidos na intenção de torná-los protagonistas da ação educativa.
Tais posições de Lévy (1999), tornaram-se relevantes no cenário pedagógico, sobretudo, após as primeiras políticas públicas voltadas para implementação das TICs no ambiente escolar com a aquisição de computadores e com a instalação de internet nas instituições de ensino. Contudo, aos poucos, a efusão pelo uso das ferramentas tecnológicas foi arrefecendo, possibilizando o retorno às antigas práticas pedagógicas. Alguns docentes, praticamente, voltaram a ter imensa aversão ao uso de tecnologias em aulas, esquecendo-se que o próprio contexto social, econômico e político no qual estão inseridos é eminentemente infocomunicacional.
A descentralização do uso dos computadores, para o acesso móvel dos celulares, desmobilizaram os laboratórios de informática nas escolas, trazendo de modo inevitável os dispositivos para dentro de sala de aula e renovando, mais uma vez, os significados da utilização dessas ferramentas no campo educativo. O princípio do hipertexto que interliga em uma mesma rede blocos de conteúdos textuais, audiovisuais, imagéticos, infonográficos foi um fator determinante para entender que o fazer pedagógico é interferido pela ação da TIC. Por isso, ganharam força as discussões sobre a utilização dos processos metodológicos “ativos” e os benefícios da gameficação para tornar o ensino e aprendizagem mais lúdica e colaborativa.
No entanto, apesar de todas as transformações já vivenciadas no dia a dia pelos docentes, vê-se ainda o desafio na formação dos professores tanto dentro das universidades, quanto fora delas durante as formações continuadas, para tornar o profissional cada vez mais apto para acompanhar o fluxo contínuo de transformações impostos pela época, mantendo a lógica dromocrática. Como afirma Trivinho (2007) e Virilio (1996) a cibercultura traz consigo a imposição do sistema dromocrático que vigora com a lógica de dominância imaginária do domínio do capital cognitivo e financeiro para permanência da hiperconecxão.
Contudo, sabe-se que nem todas as pessoas têm acesso a tecnologia de modo igualitário, tanto que o relatório da OCDE mostrou que durante a pandemia os mais pobres ficaram à margem da educação, incluindo professores e alunos que não tiveram acesso nenhum, abandonados pela falta de políticas voltadas para inclusão digital. Como é possível perceber, os desafios dos professores nesta sociedade hiperconectada são imensos, tanto em termos econômicos, quanto políticos-sociais, ainda mais em um pais que pouco tem investido na educação nos últimos 4 anos. Porém, algo que não falta é capacidade e conhecimento que, ao longo dos anos, tem sido fundamental para continuar formando sujeitos empenhados em assumir com responsabilidade as atividades educacionais nos diversos níveis de ensino.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996.
BRASIL, MEC. Plano de Desenvolvimento da Educação. Brasília: MEC, 2001. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.phpoption=content&task=view&id=593&Itemid=910&sistemas=1;
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Rio de Janeiro, Editora 34, 1999.
TRIVINHO, Eugênio. Dromocracia Cibercultural. São Paulo, Paulus, 2007.
VIRILIO, Paul. Velocidade e Política. São Paulo, Estação Liberdade, 1996.