Matheus Castanho Virgulino

8° semestre de Relações Internacionais

O mundo como o conhecemos vivenciou muitos Estados, nações e impérios. Desde a opulência de Roma e os feudos da idade-média até o Estado-Nação interconectado do século XXI. Alguns desses Estados duraram séculos, outros apenas alguns anos, porém todos com um potencial ou outro.

A história do Sudão do Sul é uma tragédia, pois, sendo o Estado mais novo do mundo atualmente, representou uma oportunidade única para a comunidade internacional de desenvolver suas instituições. Com apoio suficiente da comunidade internacional, o jovem país poderia ter se tornado uma vibrante economia crescente uma nação moderna. No entanto, por inanição e descaso por parte da sociedade global e das organizações internacionais, a nação acabou por ser mais uma adição na lista de potenciais perdidos.

O Sudão do Sul veio à surgir apenas em 2011, sendo assim o mais recente Estado da comunidade internacional. Pela maior parte da sua história, o Sudão do Sul fazia parte do Sudão, mas em contraste com a população do norte, de maioria Árabe e Muçulmana, o Sul era composto em maior parte por cristãos e aderentes de religiões tradicionais (MARTELL, 2019).

Violência entre o Norte e o Sul ocorria de forma intermitente desde a independência do Sudão do império Britânico em 1956. Os muçulmanos ao norte acabaram por formar a elite política do país, retendo a maior parte das posições de poder. Líderes autoritários como o presidente Omar-al-Bashir e Gaafar Nimeiry criaram estruturas de poder corruptas que serviam apenas para explorar os recursos naturais do Sudão, enquanto a população descendia em direção à pobreza e fome (BRITANNICA, 2022).

O sul, por sua parte, era tratado como região periférica, e tinha pouca margem de manobra em relação à governança do Norte. Uma guerra civil entre Norte e Sul permaneceu por décadas até 2005, quando as duas partes acordaram um cessar-fogo que garantia a autonomia do Sul e concedia o direito do voto pela independência por meio de referendo. Através do apoio das Nações Unidas, os Estados Unidos e outros membros da comunidade internacional, o voto foi realizado em janeiro de 2011, onde 99% da população ficou a favor da independência (id.).

Havia bastante otimismo após a independência do Sudão do Sul;, acreditava-se que o nascimento de um país em uma nova era de globalização e cooperação multilateral abriria novas portas para seu desenvolvimento. No entanto, essas esperanças logo desapareceram quando divisões políticas internas e rixas étnicas começaram a corroer as fundações do Estado.

O Sudão do Sul é lar de mais de 60 grupos étnicos diferentes, cujos membros pela maior parte deixaram de lado as diferenças durante a luta contra o Sudão do norte. Após a sua eleição, o presidente Salva Kiir, da etnia Dinka que compõe 35,8% da população, convidou Riek Machar da etnia Nuer para ser seu vice-presidente (MARTELL, 2019).

Machar começou uma campanha de críticas contra o presidente Kiir, o que iniciou um ciclo de antagonismo entre os dois lados. Em 2013, escaramuças começaram entre soldados leais aos dois líderes, o que apenas exacerbou as tensões étnicas entre os dois lados e levou à uma guerra civil direta (CENTER FOR PREVENTIVE ACTION, 2022). A situação apenas piorou quando armas provindas de países vizinhos começaram à entrar no país, e uma resolução dos Estados Unidos para impedir o fluxo bélico se encontra paralisada nas Nações Unidas. 

Massacres e violência sexual tornaram-se fenômenos corriqueiros no Estado, em adição às mais de 7 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, e mais de 2 milhões de pessoas sendo forçadas a deixar o país (CAMPEANU, 2022). Um acordo de paz foi assinado em 2018, este terminando as hostilidades oficiais entre as duas partes e consolidando Riek Machar como vice-presidente. No entanto a paz é frágil, com insurreições de outros grupos rebeldes continuando no sul do país, e ainda sem um acordo formal de divisão de poder entre as facções.

A comunidade internacional tinha a chance de desenvolver as instituições do Sudão do Sul. Pois são as instituições, sejam elas políticas, econômicas ou educacionais, que determinam o futuro de uma nação. Agora o mundo encontra-se com mais um conflito paralisado, que pode retornar a qualquer momento, e consequentemente trazer mais sofrimento para a população civil.

Referências:

BRITANNICA. South Sudan. Encyclopedia Britannica, 2022. Disponível em: https://www.britannica.com/place/South-Sudan

CENTER FOR PREVENTIVE ACTION. Civil War in South Sudan. Global Conflict Tracker, 2022. Disponível em: https://www.cfr.org/global-conflict-tracker/conflict/civil-war-south-sudan

CAMPEANU Andrea. South Sudan Humanitarian Crisis. Care, 2022. Disponível em: https://www.care.org/our-work/disaster-response/emergencies/south-sudan-humanitarian-crisis/

MARTELL Peter. First Raise a Flag: How South Sudan Won the Longest War But Lost the Peace. Oxford: Oxford University Press, 2019.