
Em 13 de setembro de 2022 a jovem iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, foi detida pela polícia da moral, acusada de violar a lei do código de vestimenta das mulheres e não estar usando corretamente seu hijab. Dias depois, a morte da jovem foi confirmada, 16 de setembro, dando início ao que se tornou um dos maiores movimentos de manifestações e lutas no país.
O movimento de protestos tem a juventude feminina como protagonistas na luta pela vida e direitos das mulheres, levando lemas como “mulheres, vida, liberdade”, cortando e raspando seus cabelos e até retirando seus véus e ateando fogo. O principal motivo da luta é a busca pelo fim da opressão sofrida por toda a população feminina do Irã.
Nesse contexto, uma das respostas do presidente iraniano às manifestações foi um silenciamento midiático, em que autoridades do país estão bloqueando o acesso a redes, promovendo apagões de internet e obrigando manifestantes a apagarem conteúdos de teor contrário ao governo (NBC NEWS, 2022). Tendo como objetivo frear manifestações nas redes sociais, além de evitar que imagens que mostram a repressão e protestos cheguem em outros lugares do mundo.
O conceito de necropolítica, criado pelo autor Achille Mbembe, se baseia em um instrumento de poder, utilizado geralmente por um estado, que determina quem deve viver ou morrer, com base no biopoder, termo cultivado por Michel Foucault. De acordo com a teoria, por meio do controle dos corpos e da população, se torna aceitável que algum corpo morra, alguma comunidade em específico (LIMA, 2018).
Logo, percebe-se a comunidade feminina como aquelas vítimas desse biopoder, tendo seus corpos controlados pelo governo atuante e como objetos dessa necropolítica, tendo seus corpos colocados como aqueles aceitáveis de morrer. Apesar disso, a população segue lutando, indo contra o fundamentalismo religioso que se encontra no controle do estado do Irã, cantando e pedindo “morte ao ditador” em referência a Ebrahim Raisi, presidente ultra-conservador do Irã, para que seja derrubado.
Nesse viés, observa-se que o som de protestos pedindo pelos direitos das mulheres ecoa por todo o Irã, se espalhando por escolas e faculdades, principalmente entre mulheres, entre a juventude feminina que leva o protagonismo e a vanguarda das manifestações no país.
Apesar de ser uma luta dura, gerando muitas mortes, a coragem e luta de mulheres e meninas iranianas se faz importante e ecoa não só pelo seu país, mas pelo mundo, que já promovem manifestações em apoio. Apesar de um governo rígido e ultra-conservador, pode-se vislumbrar um futuro com esperança graças às mulheres que hoje lutam e as que já se foram lutando pela causa.
Referências:
GALÃO, Fábio. EM BUSCA DE LIBERDADE: MENINAS SÃO PROTAGONISTAS NOS MAIORES PROTESTOS DO IRÃ DESDE 2009. Gazeta do Povo, 5 de out de 2022. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/em-busca-de-liberdade-meninas-sao-protagonistas-nos-maiores-protestos-do-ira-desde-2009/
IGNACIO, Julia. “Necropolítica: explicamos o conceito de Achille Mbembe”. Link: https://www.politize.com.br/necropolitica-o-que-e/
LIMA, Fatima. “Bio-necropolitica: dialogos entre Michel Foucault e Achille Mbembe”. Arq. bras. psicol. [online]. 2018, vol.70.
SCATOLA, Ivana. PROTESTOS NO IRÃ: O QUE EXIGEM AS MANIFESTANTES QUE PERMANECEM NAS RUAS. BBC News Brasil, 7 de out de 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63179033
YANG, Ângela. IRANIANS ARE EXPOSING THEIR REGIME’S ABUSES ON-LINE – AND THE WORLD IS WATCHING. NBC News, 30 de set de 2022. Disponível em: https://www.nbcnews.com/news/amp/rcna49513