
Após dois anos sem receber a imagem de Nossa Senhora de Nazaré presencialmente, em 2022 o Círio de Nazaré volta às ruas, evidenciando – mais um ano – a bagagem histórica, religiosa e cultural do povo paraense. Declarado como Patrimônio da Cultura Nacional em 2004 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ele é considerado uma das maiores manifestações católicas do Brasil.
Em primeiro plano, é imprescindível mencionar que o Círio tem mais de 200 anos de história: devoção de origem portuguesa, a lenda religiosa conta que Plácido José de Souza, caboclo, encontrou a imagem e levou-a para casa; porém, no dia seguinte, não a encontrou, pois a mesma voltara para seu lugar de origem. Em contrapartida, histariadores – como Pierre Nora – argumentam que a imagem foi trazida para o Pará pelos jesuítas, em 1653. (PASSOS, 2014)
Com a influência da igreja, o primeiro círio – festa já comum em Portugal para demonstração de fé e devoção a outros santos – de Nazaré foi realizado em 1790, com a união entre Igreja e Estado. A procissão saía do Palácio do Governo até 1882, quando Dom Macedo Costa legislou a respeito, mudando o local de partida para a catedral.
No decorrer dos anos, algumas polêmicas aconteceram envolvendo a festividade, como a questão nazarena e a questão da corda. Entretanto, um ponto essencial a ser citado é o aumento de devotos pela Virgem de Nazaré, tornando-a ainda mais cultural. Segundo Passos (2014), “as realizações dos pedidos e o cumprimento de promessas revelam a devoção popular, o respeito e humildade perante o sagrado”, haja vista que os promesseiros carregam a história de uma geração, um povo e uma nação.
Sob esse viés, percebe-se que a tese das práticas discursivas de Foucault (1970 in BRAGANÇA, S.I.) relaciona-se com o evento: assim como as mesmas descrevem o modo da sociedade de ressaltar os discursos dominantes, expressando o domínio da ideia sobre a população, o imaginário religioso foi produzindo práticas sociais, culturais e históricas, como uma forma de (re)construir sua identidade fragmentada. (PASSOS, 2014)
Por fim, além de ser uma festa cultural e religiosa, Altman (2019) ainda acrescenta que o comércio é muito beneficiado: “artigos religiosos de Nazaré estampam camisetas, broches, imagens em resina ou gesso e fitas multicoloridas”, sendo os mais procurados pelos peregrinos e pelos turistas, que também movimentam a cidade.
Com notoriedade do Círio de Nazaré para além do território estadual, pessoas de todos os cantos do mundo vêm prestigiar tamanho evento, estimulando a economia do estado, visto que hotéis ficam lotados, e os pontos turísticos da capital paraense ganham cada vez mais visitantes. (WYDEN, 2017).
Portando, infere-se a relevância do Círio de Nazaré para os paraenses. Mais do que um ato religioso, como supracitado, representa um ato cultural, histórico e social, que ocorre há mais de 2 séculos.
REFERÊNCIAS
S.I. SOCIÓLOGA EXPLICA A HISTÓRIA E O CRESCIMENTO DO CÍRIO DE NAZARÉ. Wyden: 2017. Disponível em <https://www.wyden.com.br/noticias/sociologa-explica-historia-e-o-crescimento-do-cirio-de-nazare>
ALTMAN, Carlos. Poder do Círio de Nazaré. Correio Braziliense: 2019. Disponível em <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/turismo/2019/10/09/interna_turismo,795934/poder-do-cirio-de-nazare.shtml>
BRAGANÇA, Daniel Avellar. A Teoria Pós-moderna Das Relaçõesinternacionais: Uma Discussão. UFSC: São Paulo, [S.I].
PASSOS, Mauro. Quando o povo é a festa – o significado social e religioso do Círio de Nazaré. Encontro: Brasil, 2014.