Camila Neris Magalhães – Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da Unama.

O desemprego configura-se como um dos maiores desafios a serem superados pelos governos nacionais. Diversos movimentos globais explicam a tendência ao aumento do desemprego, onde pode-se apontar a globalização, o neoliberalismo e a financeirização da economia como principais causas. No entanto, o Brasil vem sentindo seus efeitos de forma mais acentuada nos últimos anos, marcando a faixa de mais de 10 milhões de desempregados, segundo censo do IBGE de 2022. As consequências são o aumento da pobreza, o aprofundamento das desigualdades e da exclusão social.

O desemprego estrutural que a Inglaterra tem experienciado desde a Segunda Revolução Industrial, quando as máquinas passaram a substituir os trabalhadores, atualmente é sentido em quase todos países capitalistas (CAMPOS, 2017). Como consequência, cria-se um exército industrial de reserva, isto é, a parcela de População Economicamente Ativa desocupada, de modo que ocorre exponencial aumento do trabalho informal, sinalizando um movimento de precarização do trabalho.

Também relacionado aos progressos tecnológicos e alteração na escala de produção, hoje o que se vende é o know-how e patentes que melhorem e reduzam o custo do produto final. Torna-se cada vez mais importante a qualificação profissional, fazendo-se essencial que os governos nacionais invistam em educação e pesquisa para fornecer meios de qualificar os profissionais. No Brasil, desde que a lógica Neoliberal vigorou de forma efetiva nos governos, ações de desmonte da educação, como a reforma do ensino médio, o sucateamento das universidades públicas e o fim do programa Ciência Sem Fronteiras comprometeram seriamente a formação desses profissionais e o próprio desenvolvimento nacional (SERRANO, MELIN, 2015).

Não obstante, o processo de financeirização da economia igualmente se configura como fator de desemprego estrutural, pois ocorre o “encolhimento da base produtiva” (CAMPOS, 2017). A economia real, ou produtiva, emprega mão de obra e, por isso, garante salários e consumo, fazendo a economia girar, o que não ocorre na economia financeira, que Dowbor (2017) denomina de “capital improdutivo”.Nela a dinâmica é monopolizada por bancos e corretoras através da especulação.As consequências são ainda mais sentidas nas nações em desenvolvimento,  pois comprometem a arrecadação de impostos pelo governo ao retirá-lo da função de causador de externalidades – Wonnacott & Wonnacott (apud MARTA, 1999) define externalidade como efeito colateral adverso ou benéfico de produção ou de consumo, nesse sentido o Estado causa externalidades para promover bem estar aos produtores e consumidores –  impossibilitando-o de assegurar os direitos sociais, tais como educação, saúde e emprego.

Os efeitos do desemprego provocam o aumento da pobreza nos seus aspectos mais diversos. Robert Castel conforme citado por Edson Miagusko (1999), aponta que “é a privação do trabalho ou sua precariedade que primeiro se materializa em exclusão social, desigualdade e pobreza”.  Muito além da escassez de dinheiro, a pobreza diz respeito à produção, acumulação e distribuição de recursos que promovem um processo dinâmico de exclusão econômica (o desemprego inviabiliza o acesso à educação e saúde), política (não fornece as condições mínimas para que a população se organize politicamente) e cultural (ARRIAGADA, 2000).

Josué de Castro, em Geopolítica da Fome alerta que “A fome é, conforme tantas vezes tenho afirmado, a expressão biológica de males sociológicos.”. Pensando nisso, a volta do Brasil ao Mapa da Fome em 2018 é o mais severo efeito do aumento do desemprego em um contexto de promoção de políticas neoliberais no Brasil. O fim de políticas assistencialistas, que promovam o bem estar social bem como a impossibilidade de inserção dos cidadãos na economia retroalimenta o círculo vicioso da pobreza.

REFERÊNCIAS:

ARRIAGADA, Camilo. Pobreza en América Latina: nuevos escenarios y desafíos de políticas para el hábitat urbano. Cepal, 2000.

CAMPOS, Rosana Soares. O impacto das reformas econômicas neoliberais na América Latina: desemprego e pobreza. Polis. Revista Latinoamericana, n. 47, 2017.

CASTRO, Josué de. Geopolítica da fome: ensaio sobre os problemas de alimentação e de população do mundo. In: Geopolítica da fome: ensaio sobre os problemas de alimentação e de população do mundo. 1961. 

DOWBOR, Ladislau. A era do capital improdutivo. São Paulo: Autonomia Literária, 2017.

MARTA, José Manuel Carvalho. Externalidades: uma resenha. Revista de Estudos Sociais, v. 1, n. 2, p. 17-26, 1999.

MIAGUSKO, Edson. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário, de Robert Castels. Plural, v. 6, p. 169-172, 1999.

SERRANO, Franklin; MELIN, Luiz Eduardo. Aspectos políticos do desemprego: a guinada neoliberal do Brasil. Mimeo, 2015.