
Camilly Alves – Acadêmica do 2º semeste de RI da Unama
O voto representa, de forma direta, o exercício pleno e racional da cidadania. Nesse sentido, é essencial ressaltar a dimensão da importância da participação popular nas eleições, com grande destaque para o público jovem, visto que o engajamento político da juventude é basilar para a manutenção da democracia.
No Brasil, o processo de inclusão juvenil na esfera eleitoral ocorreu de forma tardia, considerando que apenas no ano de 1988, a juventude conquistou o direito ao voto para adolescentes entre a faixa etária de 16 a 17 anos, de forma facultativa, isto é, a votação é opcional, cabendo ao jovem a decisão de optar ou não por exercer tal garantia até atingir a maioridade, momento no qual o voto passa a ser obrigatório.
Nesse contexto, no atual cenário brasileiro, o interesse da população juvenil por pautas políticas ainda está em fase de desenvolvimento e, em entrevista ao Correio Braziliense (2022), cientistas políticos apontam que há um afastamento e desinteresse dos jovens no exercício da cidadania por meio do voto, ocorrendo por conta de diversos fatores, como envelhecimento de líderes partidários, desconfiança no sistema político, falta de perspectiva de emprego e renda e, sobretudo, a polarização e o crescente discurso antipolítica.
Partindo dessa linha de pensamento, o fenômeno de encolhimento da juventude em relação à conjuntura política provoca um grande impacto democrático, haja vista que os repertórios de interesse deste público são postos em segundo plano nos projetos de governo. Diante disso, as principais pautas defendidas pela juventude – em sua maioria originárias de um viés progressista – a exemplo de medidas de aprimoramento educacional, mitigação das mudanças climáticas e igualdade de gênero acabam não sendo atendidas de forma expressiva.
Dessa forma, dados do TSE -Tribunal Superior Eleitoral – registram que em março de 2022, o envolvimento de jovens entre 16 e 17 anos era o mais baixo em relação aos períodos eleitorais brasileiros anteriores, compondo apenas aproximadamente 1 milhão e 50 mil jovens que possuíam título de eleitor e estavam aptos a votar, um contingente preocupante se comparado à proporção da população jovem no país (Politize, 2022). Isso posto, com a finalidade de engajar a comunidade juvenil e expandir o eleitorado, além de facilitar o processo de emissão e regulação do título de eleitor, que passou a ser totalmente virtual, o TSE desenvolveu uma série de campanhas de incentivo ao alistamento, como a “Semana do Jovem Eleitor 2022” e o “Bora Votar!”.
Ademais, artistas, influenciadores digitais e inúmeras outras personalidades notáveis utilizaram as redes sociais e os principais veículos de comunicação para cooperar com a campanha, potencializando de forma significativa os seus resultados. Desse modo, o número de eleitores registrados, entre 16 e 18 anos, após o fim do projeto, passou a ser de 2.530.875 – um aumento significativo, porém numericamente não tão relevante, pois mesmo com o crescimento, a juventude ainda representa somente 1,66% do total de eleitores que irão contemplar as urnas no dia 2 de outubro, primeiro turno do pleito eleitoral de 2022, em que serão definidos os representantes para os cargos de presidente, senador, governador, deputado federal e deputado estadual.
Outrossim, é válido salientar a importância do voto e da participação dos jovens como alternativa de enfrentamento à violência na juventude, haja vista que a população juvenil, acima de tudo, em regiões periféricas e de maior vulnerabilidade social, tem sido alvo de atos de violência estrutural e o Estado brasileiro não demonstra eficiência no combate à essa problemática. À luz do exposto, a formação política constitui-se como provedora de empoderamento, autonomia da sociedade para construção de uma cultura de reivindicação e conquista de direitos, visando garantir a essa comunidade os meios suficientes para sua emancipação, possibilitando a eleição de representantes que atendam às suas necessidades e promovam o bem-estar comum. De acordo com o raciocínio de Chaves Júnior, a juventude ao mesmo tempo que possui condições de mudar a ordem vigente, apresenta um anseio para expor os anseios do universo social a que pertence (JÚNIOR, 1999).
Por fim, conclui-se que o voto juvenil, em conjunto com a formação política, é fundamental para a conservação do regime democrático e além disso, torna-se necessário incentivar a juventude a integrar-se, progressivamente, ao cenário político atual. Como resultado disso, haverá promoção de mudanças estruturais de favorecimento à sociedade como um todo.
Referências:
Alistamento de eleitores jovens é recorde nos três primeiros meses do ano – Tribunal Superior Eleitoral, 2022. Disponível em: <https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Abril/alistamento-de-eleitores-jovens-e-recorde-nos-tres-primeiros-meses-do-ano>. Acesso em: 17 de set. 2022.
CHAVES JUNIOR, Elizeu (1999). Políticas de Juventude: evolução histórica e definição. Cadernos juventude, saúde e desenvolvimento. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde. Acesso em: 17 de set. 2022.
SOUZA, Candida; PAIVA, Ilana; OLIVEIRA, Fernandes; MELLO, Leonardo; ALENCAR, Vitor. Formação política como uma forma de enfrentamento à violência na juventude. Revista Psicológica Política, 2014. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X20140002000 10>. Acesso em: 16 de set. 2022
VASCONCELOS, Lara. Participação de jovens nas eleições: veja dados do TSE. Portal Politize, 2022. Disponível em: <https://www.politize.com.br/participacao-de-jovens-nas-eleicoes/>. Acesso em: 16 de set. 2022.
Visão do Correio: o voto dos jovens pela democracia – Portal Correio Braziliense, 2022. Disponível em:<https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2022/05/5004892-visao-do-correio-o-vot o-dos-jovens-pela-democracia.html>. Acesso em: 17 de set. 2022.