Alana Andrade, internacionalista formada pela UNAMA.

O conflito pela conquista das terras de Jerusalém dura séculos, e já envolveu múltiplas potências militares. O território em si é de grande importância geopolítica, estratégica, econômica, e também religiosa, o que causa impasse para uma resolução definitiva da instabilidade na região. Israel e o povo da Palestina protagonizam um embate que causou (e ainda causa) milhares de mortes de civis e insegurança generalizada.

O espaço em questão é localizado entre o Mediterrâneo a oeste, o Rio Jordão e o Mar Morto a leste, o Líbano ao norte, e o Sinai Egípcio ao sul. Dessa forma, é considerada um caminho estratégico por ligar a Europa com o Mediterrâneo, e passagem entre a África e o Oriente Médio (ALCÂNTARA, 2018). Assim, por sua relevância, a história demonstra que por séculos o domínio do território foi passado de mãos em mãos. 

O povo judeu lá residia até sua dispersão, por conta da invasão de seu reino pelos assírios. Séculos depois, o Império Otomano passa a dominar a região, tendo seu comando até o fim da Primeira Guerra Mundial quando é desmembrado em vários territórios. O Reino Unido tem sua influência neste processo ao prometer a criação de um Estado Árabe independente, em troca da revolta deste povo contra a Turquia (ALCÂNTARA, 2018). Entretanto, mesmo após ter conseguido apoio, o país manteve seu protetorado na região da Palestina até o fim da Segunda Guerra Mundial. 

O terror causado pelo nazismo ao povo judeu influenciou na criação do Estado de Israel em 1945, em decisão formalizada pela ONU (Organização das Nações Unidas) também naquele ano. A Agência Judaica foi criada em 1947 para incentivar a imigração de judeus para Israel, algo que não foi aceito por árabes palestinos e por Estados árabes, devido à expansão populacional de Israel para além do que havia sido definido na resolução da ONU. Até os dias atuais o aumento do território israelita acontece, restringindo a população palestina a guetos e espaços periféricos como a Faixa de Gaza.

Atualmente o conflito ainda se estende com ofensivas armadas iniciadas pelos dois lados. No início de agosto deste ano, houve o maior ataque registrado desde maio de 2021, onde Israel e Palestina travaram uma batalha por onze dias contribuindo para a miséria de mais de 2 milhões de pessoas (DW, 2022). A ofensiva atual durou três dias, envolvendo militares israelenses e militantes do Hamas, ocasionando a morte de 44 palestinos, sendo 15 crianças e 4 mulheres.

Em vista de tal situação, o Egito se lançou como mediador e conseguiu alcançar um cessar-fogo para a região, celebrado no dia 07 de agosto, fato também comemorado por outros países, como os Estados Unidos, onde Joe Biden afirmou que as autoridades americanas, juntamente com a Autoridade Palestina, Israel, Egito, Catar e Jordânia, trabalharam para encorajar um cessar-fogo na região (DW, 2022).

Para intermediar na discussão entre os dois lados, o Estado egípcio assumiu a promessa de trabalhar em favor da libertação de dois líderes da Jihad Islâmica presos por Israel (CNN BRASIL, 2022). Pelo lado israelense, os militares reabriram parcialmente travessias por motivos humanitários, e prometeram abrir completamente caso a paz perdurasse.

Isto posto, é possível analisar que o papel da mediação é extremamente importante e ainda tem influência nos conflitos armados atuais, sendo capazes de gerar tréguas que diminuirão o custo humano causado, seja por meio do cessar-fogo completo ou tréguas para que a ajuda humanitária chegue à população presa no meio do conflito. 

Segundo o Manual de Resolução de Conflitos (2001) elaborado pela ONU, um dos modos para se chegar a um acordo é baseá-lo em interesses, que significa reconciliar as necessidades, os desejos e as preocupações de ambos os lados. Esse processo de mediação se inicia identificando os interesses materiais ou psicológicos das partes interessadas, e, a partir daí, gerir a conversa de forma que surjam resultados satisfatórios dentro dos limites impostos. 

Israel e Palestina apesar de enfrentarem um conflito secular pelo controle da região, sofrem perdas humanas diárias, além de miséria e fome para as milhões de pessoas na Faixa de Gaza. A Autoridade Palestina e o Estado de Israel entendem que o processo de mediação é necessário para a volta da estabilidade da região, ou suas forças militares se enfrentarão até a destruição completa do outro. 

O papel do Egito (e de outros Estados) como mediador, é exatamente garantir primeiro, a segurança da população por meio do envio de ajuda humanitária às vítimas locais, e determinar quais serão os próximos passos para a resolução do conflito na região, mantendo em mente o interesse das partes e a neutralidade. Assim, por meio da diplomacia, pouco a pouco se poderá chegar a um consenso.

Referências: 

ALCÂNTARA, Thuan Guedes de. Teoria Realista Aplicada Ao Conflito Com Israel E Palestina. 2018.

CNN BRASIL. Israel e Jihad Islâmica acertam cessar-fogo em Gaza após fim de semana de ataques. CNN Brasil, 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/israel-e-jihad-islamica-acertam-cessar-fogo-em-gaza-apos-fim-de-semana-de-ataques/ 

DW. Trégua entre Israel e militantes palestinos entra em vigor. Deutsche Welle, 2022. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/cessar-fogo-entre-israel-e-militantes-palestinos-entra-em-vigor/a-62741186

ONU. Manual de Resolução de Conflitos. Nova York, 2001.