
Rafaela Vale
Acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
A dualidade de identidades históricas no território da Palestina destaca a complexidade envolta na disputa interna entre o, até então, recente Estado de Israel e resistências palestinas pela dominação regional, ocorrendo de forma política e sobretudo, religiosa. É neste fator em que se concentram questões de legitimidade e pertencimento para ambos os povos.
Os primórdios da migração judaica para a Palestina se dão em meados de 1881, com a ameaça de movimentos antissionistas se intensificando no continente europeu, como os Porgroms — Políticas de perseguições étnicas realizadas no Império Russo contra minorias, grupo no qual também se enquadravam os judeus. A região é vista significativamente pelos sionistas como uma Terra Santa, podendo ter sido um fator determinante para este deslocamento. Anteriormente dominada pelos Otomanos, a região possuía também vasta população muçulmana e cristã (BERRY; PHILO, 2006). A migração de judeus europeus para a Palestina se deu por incentivo também de pioneiros das ideias sionistas, como o austro-húngaro Theodor Herzl, seguido de Chain Weizmann, fundamentados no imperialismo europeu, traziam uma definição para a região do Oriente Médio como descivilizada (CLEARY, 2002).
O conflito presente na região está bastante embasado na questão religiosa e suas diferentes visões do que aquele território representaria para cada povo. Porém, a questão que levanta a tensão conflituosa está também atrelada à cultura. A pluralidade cultural apresentada por judeus e árabes palestinos é complexa, tornando dificultoso o estabelecimento de um sistema secular de coexistência de respectivas individualidades de práticas religiosas (LEVINE; O’MARA, 2014).
Durante a década de 1920, uma crescente onda de revoltas violentas passou a ser praticada por ambos os povos, resultando em alto índice de mortes. A justificativa seria um processo de redução da cultura árabe local pelo aumento da migração judaica para a região, que poderia acarretar um processo de dominação por essa nova população crescente e que já estava adquirindo destaque na região pelo suporte dos britânicos — os novos dominadores da região após a Primeira Guerra Mundial — por meio do Livro Branco de Passield (BERRY; PHILO, 2006). O documento afirmava uma consolidação de influência judaica na gestão de diferentes setores logísticos da Palestina, iniciando uma idealização da nacionalização judaica. Com o passar dos anos, já na década de 30, novas formulações deste documento enalteciam a atuação dessas novas políticas regidas pela vertente judaica (LISSOVSKY, 2009).
Em 1948, o domínio britânico na região da Palestina chegou ao fim, o que permitiu a consagração do Estado de Israel, que logo recebeu retaliações dos vizinhos de etnia árabe e religião muçulmana. Em parceria com potências ocidentais como o Reino Unido e França, o recente país logo se envolveu em conflitos, como no caso da Guerra de Suez — Travada em 1956 contra o Egito — e a Guerra dos Seis Dias, que em 1967 envolveu outros vizinhos e permitiu a Israel a conquista de mais territórios, como as Colinas de Golã e a Península de Sinai — Pertencentes respectivamente à Síria e Egito — além de outros territórios palestinos como Cisjordânia e Faixa de Gaza (LYBARGER, 2018). Futuramente, a conquista desses territórios desdobraria a onda de protestos conhecida como Intifada Palestina.
Em contrapartida aos avanços israelenses, em 1964 surgiu a Organização para a Libertação da Palestina, iniciativa formada por palestinos e países da Liga Árabe, reconhecida em 1975 pela Organização das Nações Unidas, pelo objetivo de se consagrar como uma representação oficial do povo palestino. Porém, o cenário também favoreceu, na década de 1980, o surgimento do Hamas, Movimento de Resistência Islâmica, regido por uma diretriz jihadista (LYBARGER, 2018).
A questão Israel e Palestina é apresentada por Mearsheimer (2001) em A Tragédia das Grandes Potências, onde o autor de vertente neorrealista utiliza as dinâmicas entre esses atores para exemplificar o nacionalismo como um grande fator de fortalecimento para nações, pois, a necessidade de obter território para firmar a ideia de nação, como observado neste conflito — e tendo Israel estabelecido seu território como Estado — é uma ferramenta para fomentar a busca por uma soberania, como é almejada pelos palestinos.
O conflito entre Israel e Palestina apresenta duas populações distintas em sua totalidade, ocupando o mesmo território, com o qual compartilham vínculos históricos e culturais. Devido a isso, ainda disputam por suas respectivas independências, apesar de a complexidade existente nas discussões acerca de direitos para propor limites territoriais, se arrastar a conflitos cada vez mais intensos, na busca por consolidar definições concretas de soberanias para ambos os povos.
REFERÊNCIAS
BERRY, Mike; PHILO, Greg. Israel and Palestine: competing histories. Pluto, 2006.
CLEARY, Joe. Literature, partition and the nation-state: culture and conflict in Ireland, Israel and Palestine. Cambridge University Press, 2002.
LEVINE, Mark; MOSSBERG, Mathias (Ed.). One Land, Two States: Israel and Palestine as Parallel States. Univ of California Press, 2014.
LISSOVSKY, A. 2000 anos depois: o renascimento de Israel. Rio de Janeiro: CentroEdelstein de Pesquisas Sociais, 2009. A palestina na década 1929-1939. pp. 181-246.
LYBARGER, Loren D. Identity and Religion in Palestine. In: Identity and Religion in Palestine. Princeton University Press, 2018.
Mearsheimer. John J. The tragedy of Great Power politics. W. W. Nanon & Company, Inc., 2001.