Rafaela Vale – Acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

Ficha técnica

Ano: 2016

Diretor: Garth Davis

Distribuidora: Diamond Films

Gênero: Biográfico

País de origem: Austrália, Estados Unidos e Reino Unido.

Lançado em 2016, o filme biográfico Lion remonta uma história real de como um infortúnio pôde transformar o destino de duas famílias completamente distintas.

Pertencentes à casta de camada mais inferior da sociedade indiana, uma dupla de irmãos se esforça para conseguir o mínimo de alimentação para a família. Guddu (Abhishek Bharate), como irmão mais velho, realiza as tarefas mais árduas enquanto é acompanhado diariamente pelo irmão caçula, Saroo (Sunny Pawar/Dev Patel).

Um breve momento de separação entre os irmãos é suficiente para que Saroo, de aproximadamente seis anos, acidentalmente embarque em um trem e seja deslocado para o outro lado do país, onde seu dialeto, o hindu, sequer é compreendido.

Após enfrentar situações inimagináveis, a criança é enviada a um orfanato, de onde é entregue por meio da adoção transnacional à uma família australiana.

O passar dos anos levou Saroo, agora adulto, a imergir na cultura australiana e perder a própria identidade, idioma e lembranças de sua terra natal. O desejo de resgatar o seu passado acontece após o contato com outros indianos em um curso profissionalizante na Tasmânia, o que leva o jovem a iniciar uma investigação para retornar à sua família biológica.

A obra de Garth Davis apresenta por meio de aspectos como a multilinguagem as diferentes facetas de uma Índia culturamente vasta. A influência australiana na criação de Saroo – Exercida por pais brancos – é explorada como um processo de aculturação.

A questão identidade cultural de um povo ou individuo é abordada em estudos pós-modernos das Relações Internacionais. Hall (2006), em A Identidade Cultural na Pós-modernidade, explica como fatores de migração –  Assim como da fluidez de um mundo globalizado – podem influenciar em processo da perda cultural de povos, junção de culturas e até mesmo de pensamentos extremos contra as culturas advindas de países antes colonizados influenciando em territórios de colonizadores.

É possível observar a partir de Mantosh (Divian Ladwa), irmão adotivo mais novo de Saroo, também nativo indiano, uma diferença de proximidade com os pais adotivos, visto que Mantosh possui síndrome do pânico advinda de abusos sofridos ainda em sua terra natal, por isso, a dificuldade de esquecer do passado e de sua origem o impediu de sofrer o mesmo processo de aculturação aplicado em seu irmão, afastando-o da família.

Em suma, Lion é uma obra imprescindível para a análise aprofundada de identidades culturais distintas influenciando não apenas relações entre estados ou povos, mas dinâmicas familiares.

REFERÊNCIAS

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. TupyKurumin, 2006.