
Boris Johnson, do partido conservador, responsável pela saída do Reino Unido da União Europeia – movimentação conhecida como Brexit- renúncia seu cargo de Primeiro Ministro após envolvimento em múltiplos escândalos.
De acordo com o professor de Relações Internacionais da FAAP Carlos Poggio em entrevista à CNN, a política da nação insular tem enfrentado turbulências após tal decisão e ainda adiciona que é a terceira renúncia dentro do partido desde 2016 (CNN BRASIL, 2022).
Antes dos escândalos de Johnson, o Reino Unido presenciou algumas crises que assolaram o território a partir do segundo semestre de 2021, como foi o aumento dos casos de Covid-19 e o aparecimento da variação delta. Além disso, houve, também, uma crise energética que gerou um aumento na conta de luz dos cidadãos ingleses -com agravamento durante a guerra russo ucraniana esse ano- sem contar na crise de mão de obra e abastecimento seguido de altíssimas taxas de inflação, que por sua vez gerou instabilidades no cenário político-econômico da Grã-Bretanha (CNN BRASIL 2021).
Quanto a atuação do ex-primeiro-ministro, destaca-se alguns acontecimentos que levaram seu mandato ao fim, dentre eles seu descaso com o comprimento de medidas preventivas do Covid, o caso “partygate”, em que Boris organizou festas na residência oficial (EXAME, 2022.) e consequentemente gerou uma onda de descontentamento e perda da confiança dentro e fora do parlamento.
Ademais a isto, pode-se contar com o que é considerado o estopim para a dissolução de seu cargo: o envolvimento em um escândalo de assédio sexual. Segundo autoridades, Boris decide nomear Cris Pitcher – parlamentar acusado de apalpar membros da assembleia – mesmo estando ciente de seu histórico controverso. Fato que intensificou ainda mais os votos de desconfiança entre os parlamentares e a mídia inglesa, diminuindo assim sua popularidade o que por sua vez deu fim a seu mandato (EXAME, 2022.).
Dentro do cronograma eleitoral, o mandato do partido conservador segue até 2025, tendo em vista que o cargo de Johnson foi exonerado, é responsabilidade do parlamento inglês que haja a eleição interna de um novo premiê. Ainda na ótica do professor Carlos Poggio, um dos benefícios do parlamentarismo é justamente o fato dos mandatos pertencerem ao partido e não ao ministro eleito.
No que diz respeito às eleições, as votações continuam em processo, sendo o dia 5 de setembro a data prevista para o anúncio do novo sucessor de Boris Johnson. Atualmente, quem lidera o ranking é o ex-ministro das finanças e primeiro hindu a ocupar o cargo, Rishi Sunak, que segue com um total de 88 votos (G1, 2022). Vale ressaltar, que pode ser a primeira vez que o Reino Unido tenha um ministro estrangeiro na história, sendo que dos 8 candidatos, 4 tem ascendência não-britânica e um nascido no Iraque (O GLOBO, 2022).
A teoria realista das Relações Internacionais tem como pressuposto central a soberania do estado, fomentada por uma lógica extremamente racional, além abordar questões diplomáticas e militar-estratégicas, baseada principalmente em Hobbes e Maquiavel (LACERDA, 2006)
A partir dessa lógica, percebe-se aplicabilidade de três variantes da teoria realista no atual cenário inglês. Primeiro, a saída do país do bloco como um mecanismo de defesa a possíveis ameaças econômicas as quais os países membros estão sujeitos, análise característica do realismo defensivo de Kenneth Waltz, o qual busca a manutenção do status quo. Além da ideia de maximização do poder do estado, e busca incessável pela sobrevivência dessa instituição, característico do realismo ofensivo de John Mearsheimer, relacionado ao estabelecimento e fortificação de uma estrutura hegemônica. Sem contar com análise neoclássica, a qual infere que questões internas de um estado afetam diretamente sua tomada de decisão no âmbito da política externa (SCHAITEL, 2018) [1]
Portanto, após uma onda de instabilidade resultado da saída do Reino Unido da União Europeia e diversos escândalos envolvendo a atuação do ex-primeiro-ministro Boris Johnson, a nação insular segue fragilizada e em alerta para as novas atualizações do atual conflito russo-ucraniano, que certamente afeta a conjuntura do país assim como qualquer outro do continente europeu. Logo, o que resta ao parlamento britânico é apenas a nomeação de um novo premiê e a esperança de resolução do atual cenário resultado da crise político-econômica instaurada na terra da libra esterlina.
REFERÊNCIAS
EXAME, 2022. “Fim da linha para Boris Johnson? Entenda a crise que afeta o governo do Reino Unido.” Exame, 7 July 2022,
https://exame.com/mundo/crise-de-boris-johnson-no-reino-unido-entenda/.
Accessed 3 August 2022.
CNN BRASIL, 2022. “Reino Unido vive turbulência política e econômica desde o Brexit, diz professor.” CNN Brasil, 7 July 2022, https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/reino-unido-vive-turbulencia-politica-e-economica-desde-o-brexit-diz-professor/.
Accessed 3 August 2022.
CNN BRASIL, 2022. “O que explica a crise tripla enfrentada pelo Reino Unido.” BBC, 18 October 2021, https://www.bbc.com/portuguese/media-58955359. Accessed 3 August 2022
G1. “Rishi Sunak lidera primeira rodada de votação em disputa para premiê do Reino Unido.” G1, 13 July 2022, https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/07/13/rishi-sunak-lidera-primeira-rodada-de-votacao-em-disputa-para-premie-do-reino-unido.ghtml. Accessed 4 August 2022.
O GLOBO. “Após Brexit anti-imigração, Reino Unido pode ter primeiro-ministro de origem estrangeira.” O GLOBO, 13 July 2022,
SCHAITEL, Fernandes, and Leonardo Mercher. “A SAÍDA DO REINO UNIDO DA UNIÃO EUROPEIA (UE).” 2018. UNINTER, https://repositorio.uninter.com/bitstream/handle/1/204/1112248%20-%20FERNANDES%20SCHAITEL.pdf?sequence=1&isAllowed=y. LACERDA, Gustavo. de. “Algumas Teorias Das relações Internacionais: Realismo, Idealismo E Grocianismo”. REVISTA INTERSABERES, Vol. 1, nº 1, 1, p. 56-77, doi:10.22169/revint.v1i1.87.