Matheus Castanho Virgulino – acadêmico do 8° semestre de Relações Internacionais da Unama

No último dia 27 de Julho, a gigante Russa de energia Gazprom anunciou uma redução para apenas 20% no fornecimento de gás natural através da Nordstream 1, que liga a Rússia à Alemanha (ZALAN, 2022). Esse não seria um movimento sem precedentes pro Kremlim, tendo feito várias revisões no fornecimento de gás nos últimos meses desde a invasão da Ucrânia. No entanto, a diminuição da disponibilidade da fonte energética se aproxima se um momento delicado da economia Europeia.

A dependência Europeia em relação ao gás Russo se dá diretamente à política externa Alemã e o processo de integração continental desde a guerra fria. Na década de 60, sob a liderança do chanceler Willy Brandt, a Alemanha Ocidental começou a política de Ostpolitik (BRITANNICA, 2022) que consistia na normalização de relações com os países do bloco oriental, além da expansão de laços comerciais no leste Europeu. Nesse intermeio, o projeto de integração Europeu estava ganhando força, sob a liderança da Alemanha e da França, o que iniciou o processo de interdependência das economias da Europa ocidental.

O processo de expansão comercial energética começou após a reunificação da Alemanha e o colapso da URSS, em especial sob a liderança do chanceler Gerhard Schröder do Partido Social Democrata (ESCALONILLA, 2022). A oposição Franco-Alemã em relação ao governo Bush e a guerra no Iraque tiveram como consequência o desejo de um distanciamento do Oriente Médio e do petróleo Árabe como centrais às economias da União Europeia. Nesse quesito, o gás natural Russo se mostrou uma alternativa atraente, com sua promoção sendo incentivada pelo presidente Vladimir Putin. A nova Ostpolitik Alemã então concentrou-se na formação de uma aliança estratégica com a Rússia e facilitação de acesso ao gás natural, do qual a indústria Alemã tornou-se dependente. A tendência foi continuada pela chanceler Angela Merkel com o começo da construção da linha de suprimento Nord Stream 2 que atravessaria o Báltico.

A invasão Russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 causou um choque na arquitetura de segurança europeia e na ordem mundial liberal da qual a União Europeia faz parte. Agora cada vez mais é cobrado que governos democráticos tomem iniciativa política em detrimento de interesses econômicos com atores antagônicos (WAY, 2022). A política de dependência energética construída sobre a Europa pela Alemanha mostrou-se um pacto faustiano que põe em risco a quarta maior economia mundial e a principal liderança da União Europeia. Apesar de iniciativas que poderiam aliviar a crise, como maior cooperação energética entre a Europa e o Cazaquistão (DORSEY, 2022) a Europa irá passar um inverno difícil com chances de recessão econômica.

REFERÊNCIAS:

BRITANNICA. OSTPOLITK. Encyclopedia Britannica, 2022: Disponível em https://www.britannica.com/event/Ostpolitik

DORSEY James M.. ESCAPING A BEAR HUG: KAZAKHSTAN SEEKS CLSER TIES TO US, EUROPE. Responsible Statecraft, 2022. Disponível em https://responsiblestatecraft.org/2022/07/30/escaping-a-bear-hug-kazakhstan-seeks-closer-ties-to-us-europe/

ESCALONILLA Álvaro. GERHARD SCHRÖDER, SYMBOL OF GERMAN PARALYSIS IN THE UKRAINIAN WAR. Atalayar, 2022: Disponível em https://atalayar.com/en/content/gerhard-schroder-symbol-german-paralysis-ukrainian-war

WAY Lucan. THE REBIRTH OF THE LIBERAL WORLD ORDER? Journal of Democracy: 2022. Disponível em https://www.journalofdemocracy.org/the-rebirth-of-the-liberal-world-order/

ZALAN Eszter. RUSSIA CUTS NORD STREAM 1 GAS TO 20% CAPACITY. Euobserver, 2022: Disponível em https://euobserver.com/ukraine/155656