
Rafaela Vale – Acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
Ficha técnica
Ano: 2020
Diretor: Goran Kapetanović
Distribuidora: Netflix
Gênero: Ação. Drama.
País de origem: Suécia
Adotando uma dinâmica de bilinguismo, a trama de Califado alterna entre duas localidades, Síria e Suécia, que apresentam uma problemática em comum: a ameaça do Estado Islâmico.
Na capital Raqqa, assolada pela guerra civil arrastada desde a primavera árabe, a imigrante sueca Parvin (Gizem Erdogan) encontra-se desacreditada de um futuro seguro para sua filha recém-nascida, Latifa. Para proteger a criança, Parvin decide arriscar a própria vida e recorrer às autoridades de seu país de origem, mesmo que para isso precise também entregar seu marido, Husam (Amed Bozan), que integra a organização jihadista.
As informações fornecidas por Parvin acerca de um ataque terrorista eminente em Estocolmo iniciam uma operação visando impedir a tragédia. Porém, simultaneamente, membros do Estado Islâmico em território sueco recrutam jovens para integrar o grupo e agir como mártir após um longo processo de doutrinação embasada em ideologias radicais.
Na produção sueca, o personagem Ibbe (Lancelot Ncube) demonstra atitudes de um jovem e exemplar ajudante em um ambiente escolar de Estocolmo frequentado majoritariamente por filhos de imigrantes originários do Oriente Médio, entretanto, utiliza de seu carisma para aproximar-se de jovens fragilizados pela xenofobia local e que também enfrentam crise de identidade cultural, o que os tornam mais suscetíveis para a imersão nos ideais do Estado Islâmico.
Leheny (2002) aponta a constante discussão no campo das Relações Internacionais acerca da premissa teórica que melhor pode ser utilizada para as análises de estratégias terroristas, além da mudança que o entendimento do que seria o terrorismo adquiriu desde o ataque ao World Trade Center em 2001.
O realista Samuel Huntington apresenta em O Choque de Civilizações (1993) a confrontação causada por diferenças, principalmente ligadas a religião em proporções fundamentalistas, quando comparadas ao ocidente. Com isso, Huntington cita uma vertente de ideia antiocidental voltada para Europa e América do Norte, que resultou em construir no ocidente uma mentalidade de ameaça advinda da região do Oriente Médio.
Desse modo, é possível observar em Califado, características apresentadas no autor de Relações Internacionais partindo de ambas as localidades, enfocando em aspectos de conflitos étnicos-religiosos e culturais para a tentativa de explicar o que culminaria em uma atitude extremista.
REFERÊNCIAS
HUNTINGTON, Samuel PO; DE CIVILIZAÇÕES, Choque. a recomposição da Ordem Mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.
LEHENY, David. Symbols, Strategies, and Choices for International Relations Scholarship after September 11. Dialogue IO, v. 1, n. 1, p. 57-70, 2002.