
Nivia Iani Silva Imbiriba
Acadêmica do 2º semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Personalidade imprescindível no sucesso da corrida espacial dos Estados Unidos, Dorothy Vaughan, nascida Dorothy Jean Johnson, nasceu no dia 20 de setembro de 1910 em Kansas City, no estado de Missouri, Estados Unidos. Com 15 anos de idade, completou o seu ensino médio na cidade de Morgantown, sendo a oradora da turma. Somado ao seu sucesso escolar, recebeu uma bolsa de estudos da Universidade Wilberforce, iniciou a sua graduação e, aos 19 anos, formou-se em matemática.
Posteriormente, atuou por 14 anos como professora em escola pública e vivenciou, ainda mais de perto, o período em que estava estabelecida uma das leis mais absurdas do mundo, as leis de Jim Crow. Estas leis escancaravam a segregação racial nos Estados Unidos, definiam que as escolas públicas e os locais públicos, em geral, tivessem instalações distintas para separar os brancos dos pretos. Ademais, a docente queria mudar esta desumana realidade que, com ou sem lei, era profundamente vigente nos Estados Unidos.
Outrossim, pós-crise de 1929, o presidente daquele tempo, Franklin Roosevelt, promulgou a Ordem 8802, criando o Comitê de Práticas Justas de Emprego, que estabeleceu que o governo federal não admitiria a discriminação étnica, religiosa e racial na contratação dos trabalhadores, visando o desenvolvimento industrial americano.
Tal promulgação reascendeu os sonhos de Dorothy e a esperança de poder mudar. Desse modo, mudou-se com marido e filhos para a cidade de Newport News, Virgínia, com o intuito de trabalhar como matemática na agência espacial americana, o ‘Comitê Nacional para Aconselhamento sobre Aeronáutica’ (National Advisory Committee for Aeronautics – NACA).
Em adição, a, atual, NASA necessitava de mais mão de obra para suprir a grande demanda advinda da Guerra Fria, e um dos ofícios de maior necessidade era o de cálculos e processamentos de dados para as missões espaciais, o que motivou a contratação de mulheres negras para trabalhar nas funções.
Desse modo, Dorothy foi aceita no laboratório do Memorial Langley, mais especificamente no local chamado “computadores da área oeste”, lugar composto por matemáticas negras, forçadamente sendo separadas para refeições e nos banheiros, leis de Jim Crow.
Contrariando as expectativas de fracasso, essas mulheres contribuíram com, praticamente, todas as áreas de pesquisa de Langley, realizaram um trabalho magnífico, tanto que Dorothy foi promovida à supervisora do departamento, cargo histórico, a matemática foi a primeira supervisora preta da Nasa.
A sua luta pela presença das mulheres em todas as áreas era sempre presente, nunca deixou de expor as desigualdades pelas quais, ela e suas parceiras enfrentavam. A professora aspirava que a segregação das áreas, das refeições e nos banheiros, terminassem de uma vez por todas, que os direitos das mulheres pretas na agência espacial fossem respeitados.
Entretanto, inúmeros desafios continuavam a surgir, entre eles, quando NACA passou a se chamar NASA, houveram mudanças significativas na agência, deu-se vez à tecnologia de ponta, automatizou-se a resolução de cálculos com o uso de computadores IBM, o que significaria ter de demitir a mão de obra humana para dar vez à tecnologia. Demais, Vaughan, certamente, não se daria por vencida, ela, perseverantemente, aprendeu sozinha a linguagem de programação Fortran, primeira linguagem imperativa desenvolvida para computadores IBM, ferramenta essencial na escrita de programas numericamente intensivos. Em seguida, a cientista ensinou a linguagem de programação para suas parceiras que, com o pioneirismo, garantiram os seus trabalhos e deixaram as suas realizações marcadas na história da agência e do mundo.
Consoante à exposição, segundo ao que a filósofa e escritora brasileira, Djamila Ribeiro, escreve em Feminismo Negro para um Novo Marco Civilizatório (2016), referindo-se às lutas das mulheres por seus direitos civis e ao discurso de Soujouner Truth, ex-escravizada, na Convenção dos Direitos da Mulheres em Ohio, em 1851, “enquanto àquela época mulheres brancas lutavam pelo direito ao voto e ao trabalho, mulheres negras lutavam para serem consideradas pessoas. E essa diferença radical fazia toda a diferença.”, dito de outra forma, os direitos civis das mulheres negras, desde os primórdios da luta feminina, não fizeram parte da luta, pois, enquanto as mulheres brancas lutavam para trabalhar, as mulheres pretas nem sequer podiam entrar em locais públicos, constata-se que até para se ter direitos, havia diferença, que até na hora de se lutar pelos mesmos direitos, havia separação. A – segregação de direitos – era extremamente presente, e por mais que essas palavras juntas, em si, não façam sentido, elas, unidas, falam acerca da luta feminista negra que, até hoje, tem de lutar ferrenhamente para que se possa viver em um mundo, no qual a sua história, a sua cor, as suas características e os seus direitos sejam garantidos, valorizados e respeitados plenamente por todos.
Assim, valorizar as figuras que contribuíram para que as mulheres pretas pudessem ter as suas vozes realmente escutadas, é reconhecer a luta de Dorothy Vaughan, que sempre buscou mudar a realidade vigente e fazer com que a segregação racial deixasse de existir para dar oportunidades e lugar à presença das mulheres pretas no trabalho e no cargo que almejassem alcançar, a cientista é uma das maiores protagonistas da agência espacial norte americana, seu legado é majestoso, logo, Vaughan é inspiração a todas as mulheres e, principalmente, às mulheres pretas que sonham ingressar na NASA e buscam trilhar o caminho divino de cientista e matemática dentro da corporação.
REFERÊNCIAS
BERTOLETI, Pedro. Quem foi Dorothy Vaughan: a primeira supervisora negra na história da NASA, Eldorado. 12 mar. 2021. Disponível em: https://www.eldorado.org.br/blog/quem-foi-dorothy-vaughan-a-primeira-supervisora-negra-na-historia-da-nasa/. Acesso em: 31 de julho de 2022.
COSTA, Gabriela. Dorothy Vaughan – Manual do ENEM, Quero Bolsa. 01 jun. 2019. Disponível em: https://querobolsa.com.br/enem/biografias/dorothy-vaughan. Acesso em: 31 de julho de 2022.
SANTANA, Rosi. Dorothy Vaughan, Coletivo Min@. Disponível em: https://lirte.pesquisa.ufabc.edu.br/coletivo_mina/personalidades-femininas/dorothy-vaughan/. Acesso em: 31 de julho de 2022.
PRZYGOCKI, Matheus Henry. Dorothy Vaughan (1910-2008), Unicentro Paraná. 30 mar. 2017. Disponível em: https://www3.unicentro.br/petfisica/2017/03/30/dorothy-vaughan-1910-2008/. Acesso em: 31 de julho de 2022.
Nina da Hora. Dorothy Vaughan – Estrelas além do tempo, Futura. 04 mai. 2022. Disponível em: https://www.futura.org.br/uma-estrela-alem-do-seu-tempo-dorothy-vaughan/. Acesso em: 31 de julho de 2022.
AZEVEDO, Roanna. Era Jim Crow: as leis que promoviam a segregação racial nos Estados Unidos, Hypeness. 24 fev. 2022. Disponível em: https://www.hypeness.com.br/2022/02/era-jim-crow-as-leis-que-promoviam-a-segregacao-racial-nos-estados-unidos/. Acesso em: 31 de julho de 2022.
Franklin D. Roosevelt e os direitos civis, Stringfixer. Disponível em: https://stringfixer.com/pt/Franklin_D._Roosevelt_and_civil_rights. Acesso em: 31 de julho de 2022.
NUNES, Lucas. FORTRAN: Um dinossauro das linguagens de programação volta depois de 10 anos, UFSM. 04 mai. 2021. Disponível em: https://www.google.com/amp/s/www.ufsm.br/pet/sistemas-de-informacao/2021/05/04/fortran-um-dinossauro-das-linguagens-de-programacao-volta-depois-de-10-anos/%3famp. Acesso em: 31 de julho.
RIBEIRO, Djalmila. Feminismo Negro para um Novo Marco Civilizatório. Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos, v.13, n.24, p. 99 – 104, dez. 2016. Disponível em: https://sur.conectas.org/feminismo-negro-para-um-novo-marco-civilizatorio/. Acesso em: 31 de julho de 2022.
É tão incrível ver que Dorothy nunca se dava por vencida, sempre que a desafiavam, ela mostrava do que era capaz.
Ela nunca desistiu de lutar pelo que acreditava.
Ela é gigante!
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