Lorena Carneiro de Freitas – acadêmica do 3º semestre de Relações Internacionais da Unama

Após um longo período marcado por escândalos e crises, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson renunciou ao cargo na manhã desta quinta-feira, 07 de julho. Contudo, sua renúncia não significa sua saída imediata do governo inglês, pois o Partido Conservador deve escolher nos próximos meses um novo líder e consequentemente, em breve, o Reino Unido terá um novo premiê.

Eleito para concretizar o Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia – Johnson conseguiu retirar a participação britânica do bloco, enfrentando as duras consequências que tal ato provocou aos países envolvidos no processo. A crise de abastecimento, de mão de obra e escassez de alimentos foram os primeiros sinais de que o Brexit iria mexer drasticamente com a vida dos ingleses (CNN BRASIL, 2021).

Com a pandemia, Johnson conseguiu ser o primeiro líder mundial a entregar vacinas contra o coronavírus à população, sendo por muitos considerado um pedido de retratação (FOLHA DE SÃO PAULO, 2022) por ter demorado a impor as restrições sociais recomendadas pela OMS- Organização Mundial da Saúde, fazendo com que o Reino Unido fosse um dos países mais atingidos pela crise sanitária.

Paralelamente à figura de líder preocupado com seu povo, o premiê recebeu inúmeras críticas por ter promovido festas na sede do governo enquanto o lockdown foi estabelecido no país. Tão grave foi a situação que Johnson pediu oficialmente desculpas à Rainha Elizabeth.

A política externa desenvolvida por Johnson, especialmente nos últimos meses, conseguiu desviar a atenção das crises já existentes em seu governo. Por várias vezes, o primeiro-ministro usou a guerra da Ucrânia como foco de seu discurso. O Reino Unido enviou ajuda militar aos ucranianos, porém pouco fez no campo humanitário, sendo um dos países que não ofereceu refúgio àquela população, o que gerou, mais uma vez, críticas ao premiê. Johnson ganhou destaque, também, quando se aliou aos Estados Unidos e a Austrália, ao formar o AUKUS, aliança militar que garante acesso a submarinos nucleares na Oceania a fim de evitar o avanço chinês na área.

As denúncias de assédio sexual contra o deputado Chris Pincher, vice-líder do governo na Câmara, foram o estopim para que a crise política explodisse. O premiê britânico sabia do caso desde 2019 e nada fez a respeito dos crimes praticados pelo deputado. Em junho, Boris foi alvo do voto de desconfiança do Parlamento (FOLHA DE SÃO PAULO, 2022), ocasião em que 40% dos seus integrantes votaram a favor de sua saída. Além disso, Boris sofreu o golpe de grande parte de seu apoio no governo, quando vários integrantes renunciaram aos seus cargos.

A saída de Boris Johnson acentua o momento de grande instabilidade no Reino Unido. Desde o advento do Brexit e da pandemia, que tornaram a vida dos ingleses mais inflacionada e com vários problemas sociais, até os conflitos domésticos, como a tentativa de secessão escocesa e a volta da tensão entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, mostram o quanto é necessária uma reavaliação das políticas britânicas frente ao novo contexto europeu, onde a integração no continente tem ganhado força.

Alguns nomes já são cotados para a substituição de Johnson, porém nenhum com favoritismo, já que os contextos político e econômico britânicos precisam ser (re)avaliados, trazendo para o centro da discussão as verdadeiras necessidades do povo.

Referências:

2021. Dura realidade do Brexit afeta todos os britânicos, menos Boris Johnson. CNN Brasil. Publicado em 12 de setembro de 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/dura-realidade-do-brexit-afeta-todos-os-britanicos-menos-boris-johnson/. Acesso em 07 de julho de 2022.

2022. Boris Johnson renuncia no Reino Unido após escalada de crises. Folha de São Paulo. Publicado em 07 de julho de 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/07/boris-johnson-renuncia-no-reino-unido-apos-escalada-de-crises.shtml. Acesso em 07 de julho de 2022.