Thaís Roberta Carvalho – Acadêmica do 2º semestre de Relações Internacionais da Unama

O Brasil, país de extensão continental e detentor de diversas fronteiras ao longo de seu território, apresenta as relações internacionais interligadas em seu cerne, fundamentais para a manutenção de uma relação concisa e de cooperação mútua entre os demais países. Entretanto, foi apenas após a independência do país que as relações externas passaram a ser voltadas para a nação verde-amarela em si e destacou-se principalmente durante a república.

A princípio, com uma abrupta mudança na forma de governo do país, foi proclamada em 15 de novembro de 1889 a República do Brasil. Instaurada através de um golpe contra o Império de D. Pedro II, a república foi um momento em que se fez exacerbado o pensamento de reconstrução da nação, com inúmeras mudanças nas políticas internas e externas, visando uma postura avessa à política imposta pelo império durante anos. Desse modo, o Brasil buscou, em seus anos iniciais de república, uma política externa mais cordial com os países que tinha certo vínculo – em especial os países latinos-, e priorizou também as relações econômicas com os Estados Unidos, relação esta que ficou conhecida como o “americanismo ingênuo” (DORATIOTO,2017), isto é, um alinhamento automático às ideias americanas acerca das relações internacionais e comerciais entre os demais países.

Por conseguinte, já com a presença do Barão do Rio Branco como Ministro das Relações Exteriores do Brasil (1902-1912), houve um maior aprofundamento da política externa (PEX) brasileira, com destaque à política de não-intervenção em assuntos internos dos países sul-americanos e uma maior comercialização de produtos primários com os países da Europa e os EUA, visando, através desse modelo econômico, uma estabilização e desenvolvimento da economia brasileira.

Assim, é notório destacar que devido ao novo sistema governamental instituído no Brasil, buscava-se também construir novas relações externas, diferenciando-se assim do antigo império que usava da desconfiança e do isolamento para se manter no governo. Seguindo cronologicamente, urge citar a presença do Brasil na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), podendo-se destacar o título de único país sul-americano a se envolver no conflito, fato que lhe garantiu o direito à participação na Conferência de Paz de Versalhes (1919) e de ser um dos 44 fundadores da Liga das Nações.

Desse modo, ao longo dos anos, foi mantida a política externa de unilateralismo e de priorização das relações internacionais com os Estados Unidos, até a chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930 e de acordo com Amado Cervo, a iniciação de uma política externa para o desenvolvimento. Ou seja, o país ainda priorizava as relações com os EUA, porém buscava outros parceiros para financiar o desenvolvimento industrial do país, pondo em prática o perfil de autonomia na dependência (MOURA, 1980).

Isto posto, a política externa de Vargas ficou conhecida como “equidistância pragmática” (DORATIOTO e VIDIGAL, 2017), haja vista que o governo mantinha um vínculo internacional vertical com os EUA, como também possuía negociações com a Alemanha, de modo a equilibrar o âmbito externo e interno visando um aumento das exportações brasileiras e maiores vantagens comerciais. Entretanto, tal movimento pendular da PEB ocorreu até a Segunda Guerra Mundial, que por motivos de pressões dos Estados Unidos – e maiores acordos de desenvolvimento-, cortou-se o vínculo internacional com os alemães.

Desta forma, com a Nova República (1945-1964) houve diversos momentos de variação das relações internacionais do Brasil, buscando ligações que trouxessem o tão desejado desenvolvimento ao Brasil. Outrossim, nos períodos dos governos Dutra (1946-1951) e Vargas (1951-1956) foi mantido uma política externa de “alinhamento sem recompensa” com os EUA (DORATIOTO e VIDIGAL, 2017), a qual buscava uma segurança maior à América Latina no contexto de Guerra Fria e, nesse viés, faz-se válido citar o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), em 1947, isto é, um acordo de defesa mútua e uma aproximação das relações militares dos EUA com a América Latina, visando uma possível ameaça da URSS e uma forma de repressão ao comunismo.

Em seguida, no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) foi adotada a Política Externa de “Plano de Metas”, política esta que visava uma iniciação de um multilateralismo em decorrência da necessidade de capital externo para o investimento do desenvolvimento industrial e rodoviário no país, e reduzindo, também, a grande dependência econômica do Brasil em relação aos EUA (GOYENA,2017).

Nesse sentido, embora as relações de multilateralismo se façam presentes desde o governo Vargas, foi a partir dos governos de Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961-1964) que se modificou, nitidamente, as relações exteriores e a política externa do Brasil. Nessa perspectiva, foi através da Política Externa Independente, que pontos como multilateralismo, a diversificação das relações internacionais, o universalismo e autonomia no cenário internacional se fizeram presentes na agenda diplomática brasileira até os dias atuais, iniciando, desse modo, um nova fase das relações exteriores do país, voltada para o desenvolvimento econômico e a variação de parceiros internacionais de forma a manter as relações verticais (Norte-Sul) e as horizontais (Sul-Sul).

Conclui-se, assim, que a história das Relações Internacionais do Brasil está intimamente ligada às variações das suas políticas externas ao longo dos anos, sendo de suprema importância para a compreensão do surgimento de novas políticas internacionais e relações externas entre o Estado brasileiro e os outros países.

Referências bibliográficas:

DORATIOTO, Francisco; VIDIGAL, Carlos Eduardo. História das Relações Internacionais do Brasil. São Paulo: Saraiva Uni, 2017.

GOYENA, Rodrigo. Coleção Diplomata – História do Brasil II: o tempo das repúblicas. São Paulo: Saraiva Jur, 2017.

VISENTINI, P. F. História e Relações Internacionais: o caso do Brasil. Intelligere, [S. l.], n. 10, p. 46-69, 2020. DOI: 10.11606/issn.2447-9020.intelligere.2020.178687. Disponível em: >https://www.revistas.usp.br/revistaintelligere/article/view/178687<.  Acesso em: 27 jun. 2022.