Nivia Iani Silva Imbiriba

Acadêmica do 1º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Revolucionária no esporte de modalidade artística, a brasileira Daiane Garcia dos Santos nasceu em 10 de fevereiro de 1983 em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Dona de uma carreira reconhecida por criar marcos e ser a pioneira no sucesso da ginástica artística brasileira, a atleta é uma ex-ginasta que remodelou o mundo dos esportes e despertou a vontade e o sonho de milhares de pessoas a seguirem na carreira de acrobacia artística.

Em adição, diferentemente da tradição da modalidade, a qual se costuma iniciar antes do período de alfabetização, a esportista ingressou aos 11 anos de idade no exercício da ginástica. Nesse mesmo período, Daiane foi descoberta por uma professora de treinamento esportivo que a viu em uma praça e percebendo seu talento, a convocou para treinar em um centro esportivo estadual. Após isso, a brasileira foi transferida para um clube, e decolou completamente, seu desenvolvimento na ginástica foi grandiosíssimo.

Além disso, mais tarde, aos 16 anos, despontou a sua jornada de conquistas, competiu nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg de 1999 e ganhou suas primeiras medalhas. Em 2001, disputou o seu primeiro mundial, o Campeonato Mundial de Ginástica Artística de Gante, na Bélgica, encerrando em 5º lugar na final do solo. Ademais, foi a partir do Campeonato Mundial de Anaheim, nos Estados Unidos, ocorrido em 2003, que Daiane obteve seu maior destaque.

Apresentando-se na final do solo do campeonato, ela conquistou o público ao protagonizar movimentos e acrobacias artísticas nunca antes executadas, entre elas estava o duplo twist carpado, o que, ao som da música “Brasileirinho”, um clássico brasileiro dos anos 60, encantou a todos, inclusive aos jurados, tanto que o feito levou a nota máxima e, como forma de homenagem pela execução pioneira, o movimento passou a se chamar “Dos Santos”. Nessa esplendorosa apresentação, Daiane ganhou a sua primeira medalha de ouro em mundial e, também, fez história ao ser a primeira medalha brasileira de ouro da ginástica artística em um mundial. Somado a isso, ela revolucionou o campo da ginástica no Brasil e no mundo, pois foi – a primeira ginasta brasileira, mulher e negra – a ganhar uma medalha de ouro em um campeonato mundial.

Consoante a esse pioneirismo, nota-se a magnitude do esporte como integrante fundamental na construção e, principalmente, no desenvolvimento de um país, “não se pode dissociar o racismo do contexto social e histórico de um país e de uma sociedade, sendo o racismo no esporte decorrente de um padrão social […].” (MENDONÇA, 2020, p.26), dito de outro modo, não há como separar o racismo no esporte da realidade social, ele ocorre em todas as situações contra a população preta, no esporte, infelizmente, não foi e não é diferente, por conta dos preconceitos enraizados na sociedade até os dias atuais. Sendo assim, o racismo no esporte é decorrente da formação histórica e cultural da sociedade.

Outrossim, o protagonismo preto na ginástica artística promovido por Daiane foi, sem dúvida, além de seu tempo. Ela se tornou medalhista de ouro no começo deste século XXI, época em que, com grande maioria, passou a se debater acerca de acabar de uma vez com a infeliz herança do racismo de séculos anteriores e de implementar políticas sociais eficientes de inclusão, possibilitando as mesmas oportunidades para todos, sem distinção de cor, todavia, sabe-se que o mundo ainda precisa caminhar muito para que todas as pessoas pretas tenham seus direitos e suas oportunidades asseguradas.

Logo, ter uma mulher preta como atleta, no lugar mais alto do pódio, quebrou barreiras, abriu portas, deu visibilidade aos ginastas pretos de todos os gêneros, representou e deu inspiração aos atletas de sua geração e das gerações futuras para que pudessem conseguir realizar o sonho de chegar no ponto em que Dos Santos chegou. Ao ser reconhecida, prestigiada, respeitada por seu talento, sua cor, suas características e suas raízes, Daiane é o exemplo de quem teve de superar todos os preconceitos do padrão social nitidamente racista para chegar ao topo mundial da ginástica artística. Assim, ter a ícone que é Daiane dos Santos representando toda a população preta, é imprescindível para o desenvolvimento esportivo, cultural e social antirracista do Brasil e do mundo.

REFERÊNCIAS

GONÇALVES, Vinícius. Daiane dos Santos e a sua importância na história, Todos Negros do Mundo. 29 jul. 2021. Disponível em: Daiane dos Santos e a sua importância na história – Todos Negros do Mundo. Acesso em: 27 de junho de 2022.

NHOQUE, Danielle. Que fim levou? Daiane dos Santos, Terceiro Tempo. Disponível em: Daiane dos Santos – Que fim levou? – Terceiro Tempo (uol.com.br). Acesso em: 27 de junho de 2022.

Daiane dos Santos, Educação Uol. Disponível em: Daiane dos Santos – Biografias – UOL Educação. Acesso em: 27 de junho de 2022.

MENDONÇA, O. RACISMO NO ESPORTE: O Papel Da Justiça, Federações, Tribunais E Códigos Desportivos. Monografia (Bacharel em Direito) – Faculdade de Direito Professor Jacy de Assis, Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, p. 67. 2020. *TCC Otávio Lacerda Mendonça (ufu.br)