Carlos Eduardo Rodrigues Maciel- Acadêmico 4º Semestre de Relações Internacionais da Unama.

O dia 28 de junho é a data em que se comemora mundialmente o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. A presente data foi determinada em homenagem a um dos mais importantes marcos da luta da comunidade LGBTQIA+ pelos seus direitos:, a “Rebelião de Stonewall Inn”, que aconteceu em 1969, no bar Stonewall Inn, em Nova York, Estados Unidos. Nesse período, a homossexualidade era crime no país e a opressão policial dentro de locais que recebiam o público lgbt era frequente, o que provocou tal rebelião naquele estabelecimento.

Por conta da criminalização de pessoas não heterossexuais, a State Liquor Authority (SLA) também proibia a venda de bebidas alcoólicas para locais que recebiam o público gay. Não à toa, drag queens tiveram que abolir o uso de saltos altos para poderem correrem de policiais sempre que necessário. Além disso, qualquer indivíduo que não utilizasse ao menos três peças de roupas “adequadas ao seu gênero” poderia ser acusado de “conduta indecente” e até mesmo ser preso. 

O bar Stonewall Inn pertencia à um mafioso poderoso, conhecido como Fat Tony, que pagava cerca de 1200 dólares para evitar as fiscalizações policiais e praticar a venda de bebidas alcoólicas a um preço exagerado. Por conta da opressão pública contra tal comunidade, o bar se tornou um refúgio para a população gay local, o que rendia. Com isso, no dia da rebelião, em que policiais foram em horários diferentes do comum, o estabelecimento estava cheio e ao adentrar, os policiais ameaçaram prender os empregados responsáveis pela venda ilegal de bebidas alcoólicas e o público presente por conta do uso de “vestimentas inapropriadas”, o que gerou uma resposta violenta dos presentes naquele local, que faziam provocações e atiravam objetos contra os seus opressores.

No ano seguinte, cerca de 10 mil pessoas se reuniram para comemorar um ano da rebelião, dando início às modernas paradas LGBTQIA+, que passaram a acontecer em diversos locais do mundo. No Brasil, a primeira parada ocorreu em 1997, reunindo cerca de duas mil pessoas na cidade de São Paulo.

Com o passar dos anos, o número do público participante dessa manifestação foi crescendo. Em 2019, no Brasil, esse movimento reuniu mais de 2,5 milhões de pessoas, fazendo com que a parada LGBTQIA+ de São Paulo fosse reconhecida como a maior do mundo e entrasse para Guinness Book, como a maior do gênero.

No âmbito das Relações Internacionais, as teorias queer foram introduzidas por autores como Cynthia Weber (1998), Amy Lind (2010), Laura Sjoberg (2012) e V. Spike Peterson (2013) e buscam desconstruir conceitos já estabelecidos de Estado, soberania, poder, economia e segurança ao contestar, por instância, a heteronormatividade e as relações conflitivas entre agência pessoal (que consiste na reflexão de cada indivíduo sobre suas ações) e estrutura estatal (que corresponde a estrutura de formação de um estado e o funcionamento desta para a manutenção do poder)(THIEL, 2014; THIEL, 2017). Além disso, muito se debate sobre como políticas LGBT+ influenciam a geopolítica (relações de poder entre os Estados) e o soft power (capacidade de um corpo político de influenciar ações de outros de acordo com seus interesses por meios não bélicos) em torno de direitos humanos e difusão de normas; ; como o Estado moderno está associado ao patriarcado e à heteronormatividade, entre outros. (RICHTER-MONTPETIT & WEBER, 2017).

Alguns dos conceitos citados foram introduzidos e explicados por alguns autores em suas obras, como o de “soft power”, explicado por Joseph Nye em sua obra “Soft Power: The Means to Success in World Politics”. No mais, Max Weber também auxilia o entendimento das transformações ocasionadas pela introdução de tais teorias na sociedade por conta da sua crença de que os indivíduos dispõe de liberdade para agir e alterar sua realidade. 

Assim, o dia do orgulho LGBTQIA+ se faz necessário para o mundo como forma de manifestação e resistência de uma comunidade historicamente silenciada, graças a forte presença da intempestividade na comunidade internacional. Além disso, esse dia  é uma homenagem aos que um dia lutaram para que a liberdade dessas pessoas pudesse ser concedida em uma sociedade que até hoje carrega traços de um conservadorismo que são diariamente combatidos pelos membros desta comunidade. 

REFERÊNCIAS

FERNADES, Nathan. Revolta de Stonewall: tudo sobre o levante que deu início ao movimento LGBT+. Revista Galileu, 2019. Acesso em: 15 de jun. 2022

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. 13a. Edição. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1999.

LIND, Amy. “Out” in International Relations: Why Queer Visibility Matters. International Studies Review, vol. 16, no. 4, p. 601-604, 2014.

OLIVEIRA, Glaucia da Silva Destro de. Construção, negociação e desconstrução de identidades: do movimento homossexual ao LGBT. Cadernos Pagu, n. 34, p. 373–381, 2010. Acesso em: 15 jun. 2022.

PETERSON, V. Spike. The intended and unintended queering of states/nations. Studies in Ethnicity and Nationalism, 13(1), 57–68, 2013.

WEBER, Cynthia. Queer International Relations: From Queer to Queer IR. International Studies Review, v. 16, n. 4, p. 596-601, 2014