
Larissa Schoemberger – Internacionalista
No decorrer dos séculos, pode-se observar, através de observatórios políticos, como os países de uma determinada região tendem a seguir as políticas internas e externas dos países vizinhos. Isso se dá também pela influência das superpotências e pela mudança do sistema internacional, que atualmente está na fase globalista. Um bom exemplo é percebido no início do século XXI, quando muitos pesquisadores dizem que a América Latina fez uma “curva à esquerda” nos seus governos (PECEQUILO, 2008).
Esses governos buscaram, principalmente, corrigir certas políticas dos governos passados, que eram em sua maioria governos de direita e neoliberais, e estreitar os laços com a comunidade internacional, reajustando dessa forma seus objetivos a nível nacional para casar-se com a mudança da política externa, saindo assim de um bilateralismo que muitos governos seguiam nos anos 1990 e passando para o eixo global-multilateral.
No período de 2010, depois da guinada à esquerda na América Latina, aconteceu o que é conhecido como “onda conservadora”, que se intensificou e ficou mais forte com a vitória de Trump nos EUA, que é republicano (conservador – direita), em 2016. A partir daí, não só na América Latina como em muitos outros países também elegeram candidatos da ala direita, como Macron na França, Viktor Orbán na Hungria, Rodrigo Duterte nas Filipinas, entre outros (MONTANINI, 2022).
Historicamente, a Colômbia é um país que sempre foi governado pela direita e isso se dá por diversos fatores, como as diversas guerras e pactos feitos entre liberais e conservadores no século XIX. Depois de passar por um golpe militar no período de 1953-1959, houve uma redemocratização em 1958. A partir disso, surgiram as guerrilhas, iniciando dessa forma um processo de estigmatização da ala esquerda no país. Com isso, a imagem da esquerda ficou associada a lutas armadas e violência, o que tirou o espaço para que ela existisse democraticamente na Colômbia (COLOMBO, 2022).
Depois de todos esses anos, é a primeira vez na história da Colômbia que é eleito para presidente um governo da chapa centro-esquerda, formada por Gustavo Petro e sua vice-presidente, Francia Márquez, que é ativista ambiental e dos direitos humanos afro-colombiana. Pode-se relacionar essa grande mudança governamental com o que o sociólogo Manuel Castell fala no seu livro “Ruptura: a crise da democracia liberal”, que hoje vivemos uma crise democrática devido o avanço da direita no cenário político mundial e o resgate do fenômeno das ideologias nos governos, levando dessa forma a morte das democracias (CASTELLS, 2017).
Apesar de ser chamada por muitos líderes de “grande vitória” para a democracia, de acordo com alguns analistas políticos, Petro vai enfrentar diversas dificuldades para conseguir implementar as reformas que tanto prometeu em suas campanhas, pois ele não tem maioria no congresso, o que pode representar o bloqueio de suas reformas, o que pode acarretar diversos protestos no seu mandato.
REFERÊNCIAS:
CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
COLOMBO, Sylvia. Presidentes de direita dominam história da Colômbia, onde esquerda não teve vez. Folha de São Paulo. 18 Jun. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/amp/mundo/2022/06/presidentes-de-direita-dominam-historia-da-colombia-onde-esquerda-nao-teve-vez.shtml. Acesso em: 20 Jun. 2022.
MONTANINI, Marcelo. Além do Brasil: extrema direita aposta em 5 eleições no mundo em 2022. Metrópoles. 19 Jan. 2022. Disponível em: <https://www.metropoles.com/brasil/eleicoes-2022/alem-do-brasil-extrema-direita-aposta-em-5-eleicoes-no-mundo-em-2022?amp>. Acesso em: 20 Jun. 2022.
PECEQUILO, Cristina Soreanu. A política externa do Brasil no século XXI: os eixos combinados de cooperação horizontal e vertical. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 51, p. 136-156, 2008.