Luciana Neves – Acadêmica do 3º semestre de Relações Internacionais da Unama.

De acordo com a Agência da ONU para refugiados no Brasil, o termo ‘refugiado’ é designado para aqueles que precisaram deixar o seu país de origem, por diferentes motivações incluindo intolerância racial e religiosa, opinião política, conflitos armados, perseguição por discriminação ao gênero, e até mesmo por orientação sexual.

Quando surge a necessidade de deixar o seu próprio país em busca de um novo local seguro, passamos a questionar até onde a vontade humana de dominação já matou civis inocentes, que sofrem com as consequências dos atos e decisões dos indivíduos. 

Para Hannah Arendt, os Direitos do Homem, que supostamente deveriam ser inalienáveis, mostram-se inexequíveis, ou seja, aquilo que não pode ser cumprido de fato, nos casos de refugiados que procuram abrigo. Pois as tentativas de moldar os direitos humanos, só são validas naquilo que vem beneficiar economicamente uma sociedade, e na circunstância dos imigrantes, é sempre visto como maléfico e prejudicial. Sendo assim, na mais pura e lamentável realidade, não existem direitos humanos para os refugiados. Esta problemática na prática, não tem qualquer ligação com questões de superpopulação, mas sim de organização política (ARENDT, 2009). Segundo Arendt (2009),“ninguém se apercebia de que a humanidade, concebida durante tanto tempo à imagem de uma família de nações, havia alcançado o estágio em que a pessoa expulsa de uma dessas comunidades rigidamente organizadas e fechadas via-se expulsa de toda a família das nações”. 

Aqueles que conseguem escapar de seus países em busca de refúgio, tem sonhos e desejos em suas histórias de vida, e se encontram fugindo de uma realidade de perseguição e hostilidade que ameaçam suas vidas. Estar nessa posição vulnerável e não ter abrigo, comprova que os direitos humanos só vêm a se valer para aqueles que de alguma maneira encontram benefícios. Cabe somente as entidades governamentais compreender que ‘refugiados’ são seres humanos que precisam de acolhimento e proteção, passando assim a elaborar recursos que venham promover propostas humanitárias entre os indivíduos e os órgãos políticos, em favor de vidas humanas em perigo. 

O testemunho de um refugiado no Reino Unido, demonstra que é necessário abrigar a quem precisa de um refúgio. Hadi, um homem gay que fugiu do Iraque, implora para que seja morto ao invés de voltar a seu país de origem, onde sofreu tortura e abusos. Histórias como esta, ocorrem diariamente em inúmeros países no mundo. O problema dos refugiados no mundo vai muito além de disputas econômicas, políticas, opção religiosa ou orientação sexual, se trata de ser humano, de direitos e de empatia. 

Estar na posição de ser um refugiado independe de classe social ou posicionamento político, como nos casos recentes do conflito entre Rússia e Ucrânia, em que os civis que precisaram deixar suas casas, são pessoas que tinham orgulho de seus lares, trabalhos remunerados e uma vida livre, assim como nós, e agora encontram-se perdidos e sem casa para chamar de sua. Para Zygmunt Bauman, “os refugiados simbolizam, personificam nossos medos. Ontem, eram pessoas poderosas em seus países. Felizes. Como nós somos aqui, hoje. Mas, veja o que aconteceu. Eles perderam suas casas, perderam seus trabalhos. O choque está apenas começando” (ZYGMUNT, 2018). 

REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. A mentira na política: considerações sobre os Documentos do Pentágono. In: Crises da república, São Paulo: Perspectiva, 2004 p.9-48 

ARTIGO EXTRA: ‘’Matem-me, mas não me mandem a Ruanda’: refugiado gay implora por asilo no Reino Unido”, 2022. Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/mundo/matem-me-mas-nao-me-mandem-ruanda-refugiado-gay-implora-por-asilo-no-reino-unido-25525792.html 

Bauman. Zygmunt. Zygmunt Bauman: o medo dos refugiados Disponível em: https://www.fronteiras.com/leia/exibir/zygmunt-bauman-o-medo-dos-refugiados

LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos- um diálogo com Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das letras, 2009. 

SILVA PEREIRA, Ana Paula. A CRÍTICA DE HANNAH ARENDT AOS DIREITOS HUMANOS E O DIREITO A TER DIREITOS. Disponível em:  <https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjM44qLgqv4AhUeuZUCHYFHC_kQFnoECAcQAQ&url=https%3A%2F%2Fperiodicos.ufpe.br%2Frevistas%2Fperspectivafilosofica%2Farticle%2Fdownload%2F230244%2F24478&usg=AOvVaw0eEBFpey1WODjGMLM7LqtP&gt;