
Rafaela Vale – Acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
Ficha técnica
Ano: 1993.
Direção: Rob Cohen.
Gênero: Biográfico. Ação.
País de Origem: Estados Unidos.
Lançado em 1993, o longa-metragem biográfico do mestre das artes marciais Bruce Lee retrata a mudança repentina na vida de um jovem habitante de Hong Kong, que por motivos alheios a sua vontade precisa retornar ao país onde nasceu, Estados Unidos, dando início a uma trajetória espetacular de superação.
Além de cenas elaboradas mostrando a arte do Kung Fu, no filme “Dragão: A História de Bruce Lee” fica demonstrada explicitamente a xenofobia nos Estados Unidos da América, sendo visíveis as situações racistas expostas a Bruce (Jason Scott Lee), desde sua chegada ao país, onde mesmo com sua cidadania estadunidense passa a ser questionada por brancos devido a sua etnia.
Apesar da intensa xenofobia, Bruce se consagra como um cidadão americano pelo princípio Jus solis, lei adotada pelos Estados Unidos da América que decreta o reconhecimento de um cidadão em virtude do nascimento em seu território (SCOTT, 1930).
Dentre os maiores empecilhos enfrentados, o relacionamento interracial com Linda Emery (Lauren Holly), uma mulher caucasiana, durante a década de 60, levanta muitas questões incluindo a identidade étnica e cultural do lutador.
Edward Said, autor de Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente, culmina os pensamentos ocidentais atribuídos a região do oriente — dividido em conceitos de Oriente Próximo e Extremo Oriente, onde se encaixa a China de Bruce Lee — que são definidos como vários aspectos disseminados do Oriente sendo fruto de análise e reformulação europeia devido a anos de práticas coloniais em diversas das localidades inseridas no conceito de Oriente, sendo esta a vertente dos estudos orientalistas.
Em Cultura e Imperialismo, de 1993, é descrita como é esta visão do oriente de acordo com os Estados Unidos. É colocada na obra de Said uma noção envolta ao nacionalismo estadunidense como pretexto para a utilização de ideias equivocadas, até mesmo de cunho xenófobo, para a expansão do imperialismo da potência ocidental sob localidades da Ásia correspondentes à Coreia, Japão, China e pertencentes à antiga Indochina.
O discurso aplicado é notoriamente utilizado no filme aqui retratado, quando, devido ao fenótipo asiático, o protagonista é propositalmente relacionado a guerras da Coreia ou Vietnã como forma de provocação, além de sua cultura e idiomas de seu país de criação serem constantemente inferiorizados.
Devido a isso, a obra cinematográfica sobre a vida do lutador e ator Bruce Lee pode ser relacionada às Relações Internacionais, explorando conexões entre China e Estados Unidos sob uma vertente de discursos herdados desde períodos coloniais e que, de certo modo, apresentam estratégias de dominação para determinados povos.
REFERÊNCIAS
SAID, Edward W. Cultura e imperialismo; tradução Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Editora Companhia das Letras, 2007.
SCOTT, James Brown. Nationality: jus soli or jus sanguinis. American Journal of International Law, v. 24, n. 1, p. 58-64, 1930.