PENSAMENTOS

A Teoria Construtivista sob a óptica de Wendt e Adler

Heitor Sena – Acadêmico do 3º semestre de Relações Internacionais

Yasmin Garcia – Acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais

A corrente teórica construtivista é uma das primeiras teorias pós-positivistas de Relações Internacionais. Nesse âmbito, é indispensável conhecer os autores Adler e Wendt, que contribuíram para a formulação dessa teoria. Inicialmente, é necessário fazer uma breve introdução a algumas características do construtivismo. 

A acepção construtivista postula uma perspectiva diferente em relação ao sistema internacional anárquico, ponto chave para as teorias positivistas. Esta perspectiva diferenciada se realiza através da incorporação da “teoria da estruturação” do sociólogo Anthony Giddens, primeiramente aplicada às RI por Alexander Wendt  (Jatobá, 2013, p.93). Com isso, a teoria construtivista contrapõe o consenso ortodoxo sobre a estrutura anárquica do sistema internacional, uma vez que afirma não haver um precedente ontológico entre agente e estrutura, sua relação, portanto, é de construção mútua. A forma como os agentes interagem moldam a estrutura, tão como a forma que eles percebem dita estrutura molda suas interações (ADLER, 2019).

O construtivismo apresenta um mundo em constante movimento, passível de transformações. Segundo essa teoria, as ordens sociais internacionais se modificam devido a certos mecanismos como, por exemplo, as transações dentro de comunidades de prática, que contribuem para constituir uma cognição social, uma vez que cada membro inserido nessas comunidades tem a sua experiências e consciências (Wendt apud. Adler, 2019). A corrente construtivista, entende o mundo como um projeto em construção, formação, e que nem toda prática tem o mesmo valor epistêmico e autoridade e que eles são socialmente e culturalmente selecionados. (ADLER 2019, p.32).

Ao elaborar essa teoria, Alexander Wendt apresentou pontos interessantes, além de certamente polêmicos. Primeiramente, é necessário destacar que Wendt confere protagonismo aos Estados, para o autor, a anarquia é o que os Estados fazem dela, desse modo, ao interagirem com países que têm boas relações os Estados buscarão a cooperação, enquanto ao se depararem com um adversário, irão partir para o balanceamento de poder (SARFATI 2005, p. 264).

 Além disso, Wendt postulou a ideia de que Estados tinham identidades. Essa ideia afirma que identidades são “entendimentos e expectativas associados a papéis específicos e relativamente estáveis entre si” (WENDT Apud. JATOBÁ, 2013). As identidades são a base para a os interesses dos Estados, que se estabilizam em torno de instituições sociais. (JATOBÁ 2013)

Notar-se-á que Wendt buscou mesclar aspectos das teorias positivistas com as pós-positivistas na elaboração de sua teoria, algo que pode ser melhor observado na obra – Social Theory of International Politics (1999). O autor buscava ser a via média ou terceira via do terceiro debate de RI, buscando conciliar a epistemologia (teoria) positivista com a ontologia (realidade) pós-positivista.

Outro importante construtivista é Emmanuel Adler. Na obra Constructivism in world politics (1999), o teórico explana sobre a natureza da ciência social, além de buscar entender o modo pelo qual o mundo material forma a ação e como os indivíduos dão sentido ao mundo material.

Em primeiro plano, ao falar sobre realidade social, Adler (1999) ressalta que cada vertente tende a dar um conceito diferente para essa epistemologia, mencionando as teses reflexivas – na qual a realidade independe da cognição -, constitutiva – na qual a realidade material não pode ser conhecida além da linguagem humana, pois apenas a organização do discurso importa – e mediativa – na qual a realidade é afetada pelo conhecimento e por fatos sociais, emergindo da atribuição de sentido e funções a objetos físicos.

Sobre esse conceito, o construtivismo o aborda sob uma perspectiva interpretativa, através da qual as identidades, interesses, e comportamento dos agentes políticos são socialmente construídos por significados sobre o mundo; formando, assim, a realidade social. Assim, a corrente teórica ainda defende que as ações humanas são motivadas majoritariamente pelas ideias, que são o meio propulsor da ação social, definindo os limites e resultando nas práticas. (ADLER, 1999).

Em seguida, o autor discorre sobre a abordagem da ciência. Sob seu ponto de vista, a razão é uma prática fundada na ciência, e tem efeitos nos empreendimentos e nas situações humanas coletivas.

Para melhor entendimento, a tese da causalidade é inserida no estudo: esta conecta entidades e ocorrências em estruturas e padrões, argumentando que as pessoas fazem coisas por razões que são socialmente constituídas por suas interpretações coletivas do mundo exterior, especificando as sequências de tempo.

Emmanuel Adler (1999) também teceu críticas a outras vertentes teóricas. A exemplo disso, primeiramente, o mesmo aponta que o neorrealismo – sobretudo o de John Mearsheimer – falha por não ter uma teoria de evolução institucional do Estado, sendo fadada ao pensamento de ter que escolher entre sobreviver ou ser destruído. Depois, ele alega que o neoliberalismo, ainda que mais evoluído que o neorrealismo, falha ao não descrever melhor agentes inovadores.

Desta maneira, ao apresentar o construtivismo, o autor mostra os pontos que a teoria abrange com maior eficácia. Por exemplo, a ideia de poder: além ser ser um instrumento de autoridade, legitimidade e de evocação de verdade, significa determinar as semânticas compartilhadas que atribuem interesses. Através da persuasão, que é a capacidade de definir entendimentos mútuos e afetar o entendimento do outro, o poder é posto em prática.

Finalmente, os construtivistas comentam sobre a agenda de pesquisa da área. Inicialmente, a mudança nas Relações Internacionais se torna inegável. Após a Guerra Fria, houve uma modificação de entendimentos intersubjetivos, como o fato da deslegitimação do comunismo e imperialismo soviétivo, e sobre tecnologia e economia. Além disso, a própria concepção sobre desenvolvimento ganhou espaço, com o surgimento de instituições criadas pela ONU.

Adler (1999) explicou as importâncias das comunidades epistêmicas, que são exemplificadas por Organizações Não Governamentais, movimentos sociais, etc, que ajudam a construir a realidade social das Relações Internacionais, haja vista que podem realizar mudanças nos modos como os líderes políticos pensam sobre ciência e suas consequências, transformando identidades e interesses, difundindo e internalizando novas normas constitucionais. Sob esse viés, infere-se a relevância dos dois autores, Emmanuel Adler e Alexander Wendt, na constituição de uma nova agenda de pesquisa.

Referências

ADLER, Emmanuel. O construtivismo no estudo das relações internacionais. Revista Lua Nova: 1999.

ADLER, Emmanuel. World Ordering: A Social Theory of Cognitive Evolution. Cambridge: Cambridge University Press, 2019.

JATOBÁ, Daniel. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.

SARFATI, Gilberto. Teorias de Relações Internacionais. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.