Alana Andrade – Internacionalista formada pela Universidade da Amazônia.

O Sistema Internacional é o palco de uma batalha ferrenha entre seus integrantes. Poder e riqueza se complementam formando um ciclo de influência mútua, no qual os Estados utilizam deste meio para alcançar seus objetivos. Quem não consegue acompanhar esta estrutura, acaba à mercê da decisão alheia, sendo dependente e vulnerável.

De acordo com Reinaldo Gonçalves (2005), a economia política configura a relação entre poder e riqueza, concretizada pelas ações de Estados e empresas, onde o interesse estatal advém do objetivo em alcançar influência econômica se utilizando da estrutura e poder das empresas, enquanto estas se aproveitam da autoridade política do Estado.

À vista disso, o modelo de desenvolvimento energético russo situa-se como ponto de referência para o entendimento da dinâmica explicada anteriormente. Durante o governo Putin-Medvedev, o qual reestruturou a máquina política e econômica russa após a crise de 1990, buscou-se, através do plano “National Champions” (Campeões Nacionais) valer-se de empresas do setor energético sob controle nacional para promover interesses políticos (ALBUQUERQUE et al, 2021), seja por meio da promoção de vantagens como diminuição de preço e fornecimento de energia, ou por métodos coercitivos através do bloqueio total.

O plano de fato teve proveito quando é visto que em 2009 houve início ao maior embargo energético registrado até então, onde a Rússia bloqueou o fornecimento de gás natural à Ucrânia (afetando também 17 Estados europeus), da qual, em 2013, Moscou solicita o pagamento da dívida com o objetivo de pressionar o Estado ucraniano a não assinar um acordo com a União Europeia (ALBUQUERQUE et al, 2021). O embargo tem fim apenas em 2014 com a anuência da Ucrânia aos interesses russos.

Oito anos após este acontecimento, Rússia e Ucrânia voltam a se enfrentar em um conflito armado cujos interesses são de soma zero. Os objetivos do Kremlin vão contra os interesses da Ucrânia e vice-versa, onde o setor energético se torna peça fundamental de elo com os personagens secundários desta trama.

Um claro reflexo desta situação é o aumento do preço do petróleo em razão da diminuição das exportações russas, no qual em março deste ano foi contabilizado o aumento em 4% (CNN Brasil, 2022). Para contra atacar as decisões de Moscou, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, proibiram a importação do petróleo advindo da Rússia, além disso, a Europa passa a aprovar medidas alternativas que diminuam sua dependência, como a procura por fornecedores alternativos e a mudança para energia renovável (CNN Brasil, 2022).

Por consequência dessas medidas para conter a estratégia de “Tap Weapon” — expressão referente aos bloqueios de fornecimento energético a países contrários às exigências russas (SUSSEX, 2014) , abre-se um gap no mercado mundial para suprir a demanda europeia. Logo, os Estados Unidos lançam-se como Plano B pois são grandes exportadores de hidrocarbonetos, uma base energética, acabando por aumentar a complexidade do conflito pois afeta a arma russa de barganha (HAGE, 2022).

Isto posto, os recursos naturais devem ser entendidos como o meio e o fim. A relação econômica entre oferta e demanda aqui assume uma face de assimetria política, pois como todo bem essencial, o seu controle determina um poder sobre os demais, sendo utilizado de forma persuasiva ou coercitiva. Esta estratégia é utilizada como arma durante o atual conflito entre Rússia e Ucrânia, onde não apenas os dois Estados são afetados, mas também trazem à tona outros interesses interligados à questão energética, como a Europa e os Estados Unidos. 

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, F. P. S.; CARVALHO PACHECO, C.; CUNHA LEITE, A. C.; FUCCILLE, A. La instrumentalización del sector energético bajo Putin-Medvedev (2000-2018) y el regreso ruso al tablero geopolítico internacional. Revista de Relaciones Internacionales, Estrategia y Seguridad, v. 16, n. 1, p. 125–152, 7 may 2021.

CESNAKAS, G.. Energy resources as the tools of foreign policy: The case of Russia. Lithuanian foreign policy review35, 9-40, 2016. http://dx.doi.org/10.1515/lfpr-2016-0002

CNN BRASIL. Preço mundial do petróleo atinge maior valor em dois meses, negociado a US$ 117. 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/preco-mundial-do-petroleo-atinge-maior-valor-em-dois-meses-negociado-a-us-117/#:~:text=Pre%C3%A7o%20mundial%20do%20petr%C3%B3leo%20atinge,a%20US%24%20117%20%7C%20CNN%20Brasil 

GONÇALVES, Reinaldo. Economia Política Internacional – Fundamentos Teóricos e as Relações Internacionais do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2005.

HAGE, José Alexandre A. Ucrânia e Rússia: uma guerra também por recursos energéticos. Jornal Nexo, 2022. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2022/Ucr%C3%A2nia-e-R%C3%BAssia-uma-guerra-tamb%C3%A9m-por-recursos-energ%C3%A9ticos 

SUSSEX, M.. Russian Foreign Policy and the Asia-Pacific Power Shift. Em R. E. Kanet e R. Piet (eds.), Shifting priorities in Russia’s foreign and security policy (pp. 205-223). Ashgate Publishing Company, 2014