
Beatriz de Nazaré Cunha da Silva*
Victória Silva Vidal*
*Acadêmicas do 3º semestre de Relações Internacionais da Unama
As relações internacionais, de modo amplo, dialogam sobre as noções de conflito e poder. Contudo, dentre os diferentes debates teóricos que visam entender o sistema, destaca-se um autor neorrealista, Kenneth Waltz.
Para ele, o Estado era o centro do sistema internacional. De acordo com sua análise, entender o Estado, interna e externamente, seu sistema, sua natureza e o comportamento humano, era entender as causas da guerra. Ele também propunha que o sistema era anárquico, logo, cada ator tentaria organizar do seu jeito o sistema internacional. Segundo o Waltz, a ausência de uma autoridade supraestatal, com fim de prevenir e conciliar os conflitos que surgem entre os atores do sistema, viabiliza a ocorrência da guerra (WALTZ, 2004).
Há, também, críticas a esse pensamento de Waltz a respeito do equilíbrio de poder ou como ele o chama: balanço de poder. Pode-se ver o período da Guerra Fria, onde o mundo, até então bipolar, se reorganizou e deu luz a hegemonia dos Estados Unidos no sistema internacional, mas sem a necessidade de um conflito bélico direto entre as partes. Gerando assim, a instituição de uma paz momentânea no sistema internacional, a qual, segundo Norberto Bobbio, ocorre quando os atores, mesmo com capacidade de infligir golpes mortais uns aos outros, resolvem “cessar fogo” (BOBBIO, 2003).
Além disso, é possível destacar também o conceito de dilema de segurança, idealizado pelo autor John Herz, amplamente utilizado por outros autores realistas no campo das Relações Internacionais, incluindo Waltz. Em sua essência, o dilema de segurança propõe que a incansável procura pelo poder bélico esteja relacionada à constante iminência a ataques no qual o sistema internacional está sujeito. Por esse motivo, os Estados se encontram em um permanente estado de alerta e para que se sintam seguros tendem a se armar ou assinar acordos de cooperação e defesa, que por sua vez criam um cenário de tensão entre as partes.
As Forças Armadas da Coreia do Sul tiveram sua origem em 1948, após o rompimento da península coreana em duas partes. Desde então, a República da Coreia busca cada vez mais investir no seu poderio militar tendo em vista que com o passar dos anos o país tem estado mais presente em operações de paz pelo mundo e apoio a catástrofes regionais em seu território.
Pode-se dizer que, segundo Waltz nenhum Estado é forte em sua defesa nacional sem que haja investimento dentro do setor bélico. Logo, foi a partir desse pressuposto que, na década de 70, a Coreia do Sul desenvolveu medidas que priorizaram a defesa do Estado dentro do âmbito armamentista.
Ao longo das décadas seguintes, é notória a movimentação de investimentos militares motivada pelas tensões entre estados. Nesse viés, durante os anos 90 houve diversos conflitos regionais – como entre Índia e Paquistão; China e Taiwan; Coreia do sul e Coreia do Norte – que fizeram com que os países que estavam próximos a um possível cenário de conflito, começassem a investir no setor militar. Dentro desse panorama, a Coreia do Sul se fez presente tendo em vista a eclosão de conflitos diretos em regiões de fronteira com a Coreia do Norte. Em suma, o investimento foi um fator crucial naquele período, visto que as tensões entre os Estados permaneceram no âmbito externo e interno. A partir disso, o país sul coreano teve em média 25,3% do montante de gastos militares.
Índia e Coreia do Sul preservaram o acréscimo de seus gastos militares ocorrido na década de 2000 e com isso mostraram que o investimento nesse setor fez com que o aumento chegasse em, respectivamente, 67,3% e 47,2%. Entretanto, a economia desses países estava em decréscimo em relação aos gastos no setor militar e esse quadro não foi revertido no decorrer da década. Para além, foi notado que os focos de tensão ocorrido naquele período – como os confrontos entre Coreia do Norte e Coreia do Sul, ataques terroristas na Índia e conflito na fronteira da Coreia do Sul – não eram o principal fator que contribuía para a continuação da expansão dos gastos no âmbito de defesa dos Estados.
No contexto atual, a Coreia do Sul tornou-se um dos países com maior poder bélico, o qual possui uma diversidade de armas em seu arsenal. Pode-se citar que o país tem posse de mísseis, tanques de guerra, canhões, dentre outras armas de alto poder de fogo. De acordo com Sumg (2020), além do Exército, Marinha e Força Aérea, a Defesa Nacional da Coreia do Sul conta com organizações peculiares: a Força de Reservistas, o Corpo de Estudantes da Defesa Nacional e o Corpo de Defesa Civil.
Segundo Waltz, o poder força de um Estado, ou seja, o quanto ele investe em poderio bélico, determina o tamanho do seu poder e do seu papel dentro do sistema internacional. Segundo ele, um estado não deve confiar no outro e deve sempre estar preparado belicamente para futuros conflitos, já que só assim proporcionará a segurança e defesa do seu Estado e sua soberania. Aliado a essa ideia e ao dilema de segurança, a política e economia da coreia durante continuou seguindo as premissas realistas.
Portanto, compreender os conflitos na visão de Waltz é compreender que dentro da anarquia do sistema sempre haverá mudanças no equilíbrio de poder graças ao ímpeto dos Estados de serem soberanos e de organizarem o sistema de acordo com seus interesses. A guerra é inevitável e sistêmica e o principal dever de um Estado é proteger-se com seu Poder Força.
Referências:
BOBBIO, Norberto. Os problemas da guerra e as vias da paz. São Paulo: UNESP,2003.
CORREIA, Fernanda. A balança de poder sob a ótica de Kenneth Watz: uma discussão da teoria sistêmica. Revista Interação, vol. 11, 2016.
CNN BRASIL. Veja as diferenças entre os arsenais bélicos da Coreia do Norte e Coreia do Sul. CNN Brasil, 19 setembro 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/veja-as-diferencas-entre-os-arsenais-. Acesso em 15 de março de 2022.
Estado de Minas. Coreia do Sul: aumenta defesa por arsenal nuclear próprio. 11 de agosto de 2017. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2017/08/11/interna_internacional,891149/coreia-do-sul-aumenta-defesa-por-arsenal-nuclear-proprio.shtml. Acesso em 15 de março de 2022.
Nunes, Raul Cavedon. A indústria naval civil e militar na China e na Coreia do Sul: análise histórica e tendências atuais (1960-2015). 2016.
Samg Bum, C. (2020). A Defesa Nacional da Coréia do Sul: a defesa nacional, recuperado de http://www.ebrevistas.eb.mil.br/ADN/article/view/5318.
WALTZ, Kenneth. O homem, o Estado e a guerra: uma análise teórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.