
Railson Silva da Silva
3° semestre de Relações Internacionais
Tendo surgido no cenário mundial como uma potência econômica, demográfica e militar no início do século XXI, a China despontou como um dos países mais promissores do novo século. Tal condição contrasta, no entanto, com o desempenho questionável de suas forças militares no último conflito em que participou: a breve guerra sino-vietnamita de 1979, que se perdurou de 17 fevereiro a 16 de março, ainda no contexto de Guerra Fria. A última guerra da China terminou sem um vencedor claro, abrindo caminho para uma transição entre os séculos XX e XXI, onde o país se posiciona como uma potência de primeira grandeza no cenário mundial.
A origem desse conflito se deu devido a uma velha rivalidade entre URSS e a China. Ao invadir o país, Pequim desejava enviar um sinal claro a Moscou de que não iria aceitar passivamente um aumento da influência do partido comunista da união soviética (PCUS) numa área que a China considerava dentro de sua esfera de influência. A China abriu hostilidades com o lançamento de uma expedição punitiva em resposta à invasão e ocupação do Camboja pelo Vietnã em 1978 (que encerrou o reinado do Khmer Vermelho, apoiado pela China). Desse modo, a China buscou marcar a sua vontade de reafirmar seu predomínio na Ásia.
Nessa perspectiva, o neorealista Kennet Waltz discorre sobre a natureza do sistema internacional, na qual ela é estruturalmente anárquica e nesse meio os estados se configuram de certa forma no sistema para que possam fazer a manutenção da própria segurança. Dessa forma, os Estados buscam maximizar seu poderio bélico afim de se manter no sistema e se defender de potenciais ameaças externas (WALTZ, 1979). Sob essa ótica, no contexto da guerra sino-vietnamita, a causa se deu por tensões e ameaças à segurança do Estado chinês devido a investidas da URSS em sua vizinhança. Para Waltz quando ocorre uma alteração no equilíbrio de poder, pode ser gerada uma instabilidade, que pode eclodir em um conflito ou uma guerra.
Além disso, a razão alegada para o ataque chinês contra o Vietnã foi a declaração contra o Khmer Vermelho do Camboja, aliado da China; os maus tratos impostos à minoria chinesa pelo governo do Vietnã; além da ocupação vietnamita das Ilhas Spratly, reivindicadas por Pequim. Para evitar uma intervenção soviética em nome do Vietnã, Xiaoping (líder político) advertiu Moscou que, caso fosse necessário, a China estava preparada para uma guerraem larga escala contra a URSS. (PAO-MIN, 1985).
Nesse viés, as intervenções da URSS no Vietnã demostraram ameaças à segurança do Estado chinês, que por sua vez, apresentou uma reação imediata as invertidas do estado soviético em território de fronteira. Segundo o pensamento do neorrealista Mearsheimer, o mesmo enfatiza a necessidade de um Estado promover estratégias de segurança a fim de atingir a hegemonia regional, tal processo é imprescindível para a garantia da continuidade do seu domínio e consequentemente para a criação de status de hegemonia, assim eliminando qualquer possibilidade de ameaças à segurança por outra grande potência (MEARSHEIMER, 2007).
Do ponto de vista estratégico, é possível analisar o conflito de curto prazo. Sob a ótica chinesa, a guerra se estabeleceu como uma resposta militar à política vietnamita em relação à China e sua expansão no Sudeste Asiático, em paralelo às aspirações globais soviéticas. Nesse viés, a URSS poderia usar o Vietnã para criar um sistema de segurança coletiva asiático para conter a China. Do ponto de vista do líder chinês, embora a China justifique suas ações na guerra como uma forma de ensinar ao Vietnã uma lição, foi uma operação limitada, confinada à fronteira com um objetivo simples – alertar o Vietnã para não ser imprudentemente agressivo na região, de caráter eminentemente geopolítico.
Em suma, os líderes chineses acreditavam que Pequim havia alcançado seus objetivos. Em 16 de março, dirigindo-se ao Grande Salão do Povo, líderes do partido, funcionários do governo e Xiaoping declararam a “vitória” do Vietnã. Ele acreditava que a guerra havia aumentado o prestígio do país no mundo, provando que tinha as condições materiais e o poder para manter posições diplomáticas, e que a guerra era importante para conter a hegemonia soviética na Ásia. Xiaoping também acreditava que a guerra havia inspirado os chineses a reorientar seu trabalho para o desenvolvimento do estado e da necessidade da economia. Nessa viés, os chineses teriam atendido o princípio formulado por Clausewitz de que “a guerra é a continuação da política por outros meios” (CLAUSEWITZ, 1979).
Referências:
CLAUSEWITZ, Carl von. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1979.
PAO-MIN, Chang. Kampuchea between China and Vietnam. Singapore:
Singapore University Press, 1985.
BITTENCOURT, Paulo Victor Zaneratto. POLÍTICA INTERNACIONAL, DO PENSAMENTO REALISTA À TEORIA NEORREALISTA: O pensamento teórico de Hans Morgenthau e Kenneth Waltz em perspectiva comparada. Rio de Janeiro, 2017.
WALTZ, Kenneth N. Theory of International Politics. University of California, Berkeley. 1979.
MEARSHEIMER, John J. Tragedia da Politica das Grandes Potencias. GRADIVA. 2007.