
Ana Carolina Gomes, Gabriela Grosso e Luciana Alves – Acadêmicas do 3° semestre de Relações Internacionais da Unama.
É importante compreender o ambiente no qual os atores internacionais estão inseridos para que se entenda a movimentação dos mesmos. Para Kenneth N. Waltz, uma das figuras mais notáveis da corrente neorrealista nas teorias de Relações Internacionais, a garantia da sobrevivência e segurança do Estado é uma prioridade no meio anárquico, onde nenhum dos dois pode ser assegurado. Ele afirma que “a ausência de uma autoridade acima dos Estados para prevenir e conciliar os conflitos que surgem necessariamente de vontades particulares significa que a guerra é inevitável” (WALTZ, 2004, P. 235). Portanto, a guerra é uma forma de se encontrar um equilíbrio de poder no Sistema Internacional.
A guerra é resultado direto do desequilíbrio de poder, da relação de poder/força de cada Estado, e por meio disso, a teoria de Waltz se propõe a compreender as práticas que envolvem e exercem o uso da força, pela qual os Estados interagem no Sistema Internacional. Concomitante a isso, é válido pontuar que para Castro (2001), a política internacional, na qual as nações se relacionam, é baseada em condutas que envolvem o uso da força efetiva ou ameaçada.
Em consequência aos conflitos resultantes da busca pela segurança estatal, Waltz cita as Bandwagons, que é o alinhamento de países mais fracos com um mais proeminente.
“Não esperamos que o mais forte se junte com o mais forte para aumentar seus poderes sobre os outros, mas sim procurar aliados que o poderão ajudar a manter sua hegemonia.” (WALTZ, Kenneth. 1979. p. 126)
Dessa forma, nota-se a importância de saber como se colocar dentro do Sistema Internacional, saber medir suas forças, e, dessa forma, agir da melhor maneira possível dentro de um conflito. Para Waltz, o poder de um Estado é medido por meio da sua força armamentista e investimento na área bélica e militar, justamente por ser um melhor meio de garantir sua segurança.
Entre os anos de 1960 e 1970 a Força Armada Revolucionária de Cuba (FAR) teve investimento intenso para atuar em processos revolucionários na América Latina e na África. O objetivo principal era aumentar sua influência econômica, política e ideológica na região e consequentemente enfrentar a influência norte-americana. Com amplo apoio econômico e militar da União Soviética, Cuba transformou-se em uma forte potência militar na América Latina. Entretanto, na década de 90, com fim da Guerra, dissolução da URSS e mudança na ordem mundial, a FAR foi muito afetada, e o setor bélico cubano sofreu diversos cortes.( SILVA,2016 )
É possível observar que Cuba perdeu seu poder-força ao analisar a participação de gastos militares no produto interno bruto (PIB) ao decorrer dos anos. Em 1985, correspondia a cerca de 9,6% do PIB, já em 2001, esse número caiu para 3,9%. O número de soldados cubanos também sofreu quedas: em 1990, havia180.500 soldados ativos e Cuba era a segunda maior potência militar da América Latina e Caribe, ficando atrás apenas do Brasil. Já em 2010, esse número era de apenas 49 mil soldados.(International Institute for Strategic Studies: The Military Balance, 1990,2004-2005,2010)
Em 2022, o poder militar de Cuba, em comparação com os os países da América Latina e Caribe é o segundo menor exército, ficando na frente apenas do Equador. O principal objetivo da FAR mudou e agora se concentra na defesa de seu território, as missões internacionais são quase nulas devido a falta de recursos e obsolescência de equipamentos do exército. (International Institute for Strategic Studies: The Military Balance 2022, p.379,410)
A presença militar na América é um fator presente na história há a muitos anos;, a partir dos dados históricos apresentados, é possível analisar que Ccuba entra em declínio não só econômico, mas principalmente militar, e para Waltz, o sistema internacional funciona a base de poder bélico, sendo assim Cuba está em posição de desvantagem em relação aos demais países da América Latina, o que consequentemente os coloca em posições vulneráveis, afinal para a teoria de Kenneth, a demonstração de poder-força militar é o que garante um posicionamento vantajoso no Sistema.
Nos anos anteriores, Cuba era regida 60% por militares que controlavam a economia local e esbanjavam um vasto exército, o que os sustentava numa posição de influência nas suas Relações Internacionais. Vale ressaltar que com a queda da União Soviética, o governo Cubano sofreu perdendo seu maior aliado, econômico e militar, tornando- os assim nos dias atuais: uma nação desprovida de autoridade já que seu exercito diminui com o passar dos anos e este fator era sua maior forma de demonstrar poder-força.
O novo cenário que Cuba se encontra no pós fim do bloco soviético, criou um espaço para as FAR atuarem em âmbito doméstico, abrindo portas nos âmbitos políticos e econômicos, fazendo a manutenção básica de áreas empresariais e em setores turísticos, o que passou a gerar uma renda substancial para a superação da crise e a volta por cima do país, contrariando a visão de Waltz, que resguarda seu ponto de vista na demonstração de poder-força militar.
REFERÊNCIAS
BARROS, Vinícius Tijolin. “Waltz, Keohane e Wendt: análise de construções conceituais sobre o poder.” 2015. Disponível em <https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/3875/1/ViniciusTijolinBarros.pdf.>
BERNARDES, Pollyana. “O Bandwagon de Kenneth Waltz e sua relação com o alinhamento EUA x Brasil.” Internacional da Amazônia, 2021.Disponível em < https://internacionaldaamazonia.com/2021/03/24/o-bandwagon-de-kenneth-waltz-e-sua-relacao-com-o-alinhamento-eua-x-brasil/>.
CORRÊA, Fernanda das Graças. “A balança de poder sob a ótica de Kenneth Waltz: Uma discussão da teoria sistêmica.” InterAção, 2016. Disponível em <:///C:/Users/HP/Downloads/joseinteracao,+A-balan%C3%A7a-de-poder-sob-a-%C3%B3tica-de-Kenneth-Waltz+REVISTA+INTERA%C3%87%C3%83O.pdf>
COMO Cuba passou pelo colapso da URSS e sobreviveu como último bastião do comunismo no Ocidente. Disponível em <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/12/27/como-cuba-passou-pelo-colapso-da-urss-e-sobreviveu-como-ultimo-bastiao-do-comunismo-no-ocidente.ghtml>
COGGIOLA, O. Revolução Cubana: história e problemas atuais. São Paulo, Ed. Xamã, 1998.
CASTRO, Thales. Teoria das Relações Internacionais. Brasília, 2012. Disponível em <http://funag.gov.br/loja/download/931/Teoria_das_Relacoes_Internacionais.pdf>
Challenges to a Post-Castro Cuba. Harvard International Review. 2010.
SILVA, da Marcos Antonio. As transições em Cuba e as Forças Armadas Revolucionárias (FAR): a emergência de um ator político e econômico. Revista Intellector-ISSN 1807-1260-[CENEGRI], v. 12, n. 24, p. 132-148, 2016.
International Institute for Strategic Studies: The Military Balance: 1990,2004-2005,2010,2022.
The Cuban military and transition dynamics (PDF). 2014.