
Ana Mel da Silva Grimath*
Gabriel Micael Contreira Ferreira*
Lara Victoria Araújo Lima*
Maria Beatriz dos Anjos Machado*
*Acadêmicos do 3º semestre de Relações Internacionais da Unama
Para abordar sobre o poder bélico alemão, precisamos retroceder para 9 de novembro de 1989, data na qual o muro que dividia a Alemanha Oriental socialista da Alemanha Ocidental desmoronou. Após a queda do muro de Berlim, iniciou-se o projeto de reunificação do território alemão, mas ela só foi celebrada em setembro de 1990, na cidade de Moscou, através do Tratado Dois-Mais-Quatro, que era uma regulamentação definitiva da nova realidade alemã.
A partir desse fato, entendemos que na década de 90 o país passaria por momentos decisivos para a sua reunificação e um dos pontos relevantes nestes acordos é a entrada da Alemanha na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), sendo muito debatida no processo. Nesse cenário, nota-se uma queda significante nos gastos militares do país, o que logo após a queda do muro, eram de 61,4 bilhões de dólares e tornaram-se 43 bilhões até o fim da década, alcançando inclusive números menores, como foi o caso do ano de 1997, onde os gastos foram de U$42 bilhões. Seguindo nesse ritmo durante o início dos anos 2000, a Alemanha atingiu o menor gasto em 2005, com apenas U$33,3 bi, cenário que mudou com a aproximação da década de 2010.
No auge da Guerra Fria, os efetivos militares somavam 495 mil no lado ocidental e 175 mil no oriental, limitando, assim, a capacidade militar do país a menos de 370 mil militares, além de ratificar o impedimento da Alemanha em desenvolver armas nucleares, biológicas e químicas. Com a crise do lado oriental, que ocorreu durante a década de 80, a Alemanha ocidental teve que modernizar e reconstruir a economia do lado oriental, o que gerou um imenso custo econômico mediante as novas prioridades do setor de defesa, que ficou em segundo plano. De 1980 a 1999 o poder bélico alemão sofreu quedas significativas.
Oposto a outras potências militares europeias, a Alemanha ao longo da última década dos anos 2000, empreendeu uma política de redução gradual de seus excessivos gastos bélicos, que em 2009 atingiram um valor de 6,7% mais baixos em relação ao início da década. É válido enfatizar que desde a Guerra Fria, o país manteve uma estrutura militar reduzida, a qual não se envolve em conflitos armados de magnitude e voluntariamente renunciou a aquisição de diversos tipos de armamentos sofisticados. Contudo, a redução de gastos militares alemães não hostiliza risco, dada a deterioração da sua capacidade militar, pois o país reforça programas de treinamento e modernização de suas forças armadas e preserva um elevado investimento em capital no setor de defesa.
É perceptível que entre os anos de 2007 e 2010, a Alemanha investiu cada vez mais no seu acervo militar. No primeiro ano, o valor era de 38,4 milhões de dólares e em 2010, subiu para 41 bilhões. Porém, no ano seguinte, no governo de Ângela Merkel, o gasto diminuiu, pois a então primeira-ministra, acreditava em sanções mais cooperativas e pacíficas, mas sem deixar os gastos militares. O valor só voltou a subir de forma aguda em 2016 após o ataque terrorista em Berlim. A Bundeswehr (exército alemão) mantém uma média nas despesas militares e em 2019 o valor ultrapassou a casa de 50 milhões. Já em 2022, com fim do governo Merkel e com a guerra travada entre a Rússia e Ucrânia, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz anunciou um investimento de 100 milhões de euros para modernizar as forças armadas alemãs e um repasse de mais de 2% do PIB em defesa nacional.
O neorrealismo, teoria positivista das Relações Internacionais, tem como principais premissas a anarquia do sistema internacional, o Estado como principal ator das relações internacionais e a inexorabilidade da guerra. Dentro dessa teoria é encontrada uma diversidade de autores que a desenvolvem. Dentre eles, Kenneth Waltz se destaca ao ser o primeiro autor a desenvolver sua teoria a partir dessa nova visão, a qual distingue da vertente anterior, o Realismo Moderno.
Em seu livro “Man, The State and War” (1959), Waltz diz que o verdadeiro motivo para o acontecimento da guerra é o sistema internacional. Anos depois, em “Theory of International Politics” (1979), o autor desenvolve ainda mais sua teoria, ditando-a como sistêmica, ou seja, independe do âmbito interno dos Estados e da natureza do homem, já que a guerra é inexorável e no sistema anárquico os Estados agem através da competição. Waltz vai dizer que os Estados buscam melhorar e aumentar cada vez mais seu poder para se defender. Por isso, sua teoria também ficou conhecida como teoria neorrealista defensiva. Essa capacitação é medida pelo Poder/Força de cada Estado. Em outras palavras, a quantidade, o título de armas, quanto dinheiro é destinado para o investimento do poderio bélico, etc. Dessa forma, Waltz caracteriza um Estado como forte a partir de seu Poder/Força, que influenciará o sistema internacional na formação de um equilíbrio de poder, por meio do dilema de segurança.
Podemos concluir a partir do pensamento de Kenneth Waltz, que a força militar alemã e a sua influência a partir do poder bélico se reduziram com o passar do tempo. Durante a Segunda Guerra Mundial, os germânicos dominavam grande parte da Europa, dominando as outras potências. Hodiernamente, com o fracasso da guerra e com a irregularidade da sociedade alemã, o Governo da Chanceler Ângela Merkel (de 2000 a 2018) se baseou em uma política externa cooperativa, sem gastos militares excessivos e nos piores casos, possuía a proteção a OTAN (Organização do Tratado do Norte).
Sob a ótica do pensamento neorrealista, é possível observar que a Alemanha perdeu espaço no cenário internacional militar, dando mais importância para as “low politcs”, políticas que deveriam ser importantes apenas em segundo plano, de acordo com os neorrealistas. Entretanto, mesmo com o baixo arsenal militar, o país ainda é uma referência no âmbito econômico e social e essa política cooperativa e apaziguada tende a se alterar com o advento do governo de Olaf Scholz, que prometeu converter 2% do PIB em gastos militares, um valor histórico para os índices alemães.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BENEDITO, Edilson. FRACALOSSI, Rodrigo. Dos “dividendos da paz” à guerra contra o terror: Gastos militares mundiais nas duas décadas após o fim da guerra fria – 1991 – 2009. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Rio de Janeiro, julho de 2012.
DW MADE FOR MINDS. Alemanha investirá 100 bilhões de euros nas forças Armadas. Disponível em https://www.dw.com/pt-br/alemanha-investir%C3%A1-100-bilh%C3%B5es-de-euros-nas-for%C3%A7as-armadas/a-60937933. Acessado em 22/04/2022
SIPRI. Military Expenditure Database. Disponível em https://sipri.org/sites/default/files/Data%20for%20all%20countries%20from%201988%E2%80%932020%20in%20local%20currency%20%28pdf%29.pdf. Acessado em 22/04/2022
WALTZ, Keneth. Man,the state and war. Columbia University Press, 1959.
1990: Kohl e Gorbatchov selam acordo para a reunificação alemã (terra.com.br)