Keity Oliveira, Lana Borges, Rebecca Brito e Thaís Borges – acadêmicas do 3º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

No decorrer de sua independência, em 1948, perante a ameaças vizinhas e conflitos, “Israel focou, desde o princípio, na qualidade de seus equipamentos e na excelência do treinamento proporcionado às suas tropas, de forma a estar preparado para atuar tanto defensivamente quanto ofensivamente.” (SCHWETHER, 2021, p.95). Nessa conjuntura, com a criação do próprio Estado de Israel, forma-se uma poderosa força militar, conhecida como Forças de Defesa de Israel (FDI), composta assim como a maioria dos países em corpo terrestre, aéreo e marítimo, os quais possuem objetivos de segurança baseados em “defender a soberania e a integridade territorial do Estado de Israel, deter todos os inimigos, e coibir todas as formas de terrorismo que ameacem a vida diária” (Embassies)

Dentro da perspectiva histórica após a independência do Estado de Israel, houve o surgimento de novas ameaças que foram caracterizadas pelo uso de armas nucleares, mísseis balísticos e por conflitos assimétricos com atores não estatais, como o Hezbollah (Freilich, 2018). Diante disso, destaca-se o conflito israelense-libanês, uma série de confrontos militares que envolveram Israel, Líbano e Síria, entre os anos de 1968-2006 devido às tensões entre árabes e israelenses pela posse do território da Palestina circunstância essa que se dividiu em duas Guerras, que mudaram o cenário estratégico e militar do país.  A primeira ocorreu em 1982 e teve o embate entre as Forças de Defesa de Israel e as milícias libanesas aliadas a grupos islâmicos de guerrilha, liderados pelo Hezbollah (organização política e paramilitar fundamentalista islâmica de vertente xiita), tendo terminado em 2000 com a vitória do Hezbollah.

Observa-se, com mais ênfase,o segundo momento do conflito, conhecido como Guerra do Líbano de 2006, um episódio que trouxe o cessar-fogo entre os dois países e que destacou a Operação Justa Recompensa, ação militar israelense que contou com um elevado número de recursos bélicos como fogos de artilharia, ataques aéreos e bombardeios navais, demonstrando o aumento do poder-força do país naquele período (Freilich, 2018).

Trazendo para o contexto contemporâneo, o último conflito de Israel, foi em 2021, ocorrido contra o grupo palestino Hamas e pela Jihad Islâmica Palestina, com duração de 11 dias. A divergência foi desencadeada após eventos do dia 6 de maio, devido a uma decisão antecipada da Suprema Corte de Israel para o despejo de seis famílias palestinas em Sheikh Jarrah, área efetivamente anexada por Israel, mas que, no entanto, fazia parte do território palestino, gerando por conta disso, uma série de protestos na Jerusalém Oriental pelos palestinos. No dia 10 de maio, o grupo Hamas deu início a disparada de foguetes contra o território israelense que, respondeu instantaneamente. O cessar-fogo fora emitido em 20 de maio, ambas as partes concordaram com o fim do conflito que teve como resultado a morte de 232 palestinos em Gaza e 12 pessoas em Israel.

Os conflitos e movimentações estratégico políticas do estado de Israel podem ser explicados pelo autor Kenneth Waltz, em seu livro Man, the State and War (2001), no qual ele coloca que a principal razão causadora da guerra é a própria condição de existência dos estados: o caráter anárquico do sistema internacional. Neste sentido, o autor fala na Razão do Estado, conceito criado pelo filósofo clássico Richelieu, que separa a ética do Estado da ética universal, ressaltando que o mesmo faz aquilo que é necessário para garantir sua sobrevivência no sistema internacional, privilegiando seus próprios interesses em detrimento dos outros, já que a responsabilidade de assegurar os mesmos é intransferível e necessária para garantir a soberania de seu território. Para isso, o Estado vai mobilizar todos os seus recursos a serviço da segurança nacional, transformando-o em poder, que pode ser quantificado em capacidade material bélica, ou seja, a força do estado para se impor e garantir seus interesses no sistema internacional, a qual o autor denomina de Poder-força (WALTZ, 2001). 

Nesse sentido, pelo fato de Israel ser um estado que se estabeleceu em meio a guerra, ele busca, tal qual estabelecido pelo autor Kenneth Waltz, mobilizar todas as suas capacidades e recursos para garantir a soberania de seu território e a segurança do mesmo. Ressalta-se que, hodiernamente, esse país segundo o ranking fornecido pelo Global Firepower (2022) está em 18º entre as forças armadas mais poderosas do mundo e além disso, vale ressaltar que Israel destina às despesas militares cerca de 5,2% de seu PIB, o que corresponde a 23 bilhões de dólares. 

 Eventualmente, evidencia-se que esse caráter de poderio bélico foi alcançado a partir de experiências de batalhas realizadas pelo Estado israelense e se nota o aumento contínuo de seu poder-força, principalmente no que se refere aos investimentos feitos no setor bélico e os investimentos dados por outros países como os Estados Unidos. Ademais, Israel também está cada vez mais exercendo sua capacidade de se proteger e se armar de forma eficiente com sua política de ambiguidade ou opacidade nuclear, onde o mesmo não afirma e nem desmente a existência de armamentos nucleares no país, sendo essa uma importante movimentação estratégica usada pelo país com o intuito de desenvolver sua capacidade bélica e proteger seus interesses.. 

REFERÊNCIAS

FREILICH, Charles. Israeli national security: a new strategy for an era of change. Oxford University Press: New York, 2018. 470p. Acesso em: 02 de maio de 2022.

WALTZ, Kenneth. O homem, o estado e a guerra. 3.ª edição In: O Homem, o Estado e a Guerra. New York : Columbia University Press, 2001.

SCHWETHER, Natália Diniz. A FORÇA DO FUTURO NO EXÉRCITO DE ISRAEL. Centro de Estudos Estratégicos do Exército: Análise Estratégica, v. 20, n. 2, p. 93-106, 2021

Ranking de Força Militar de 2022. Disponível em: https://www.globalfirepower.com/countries-listing.php. Acesso em: 01 de maio de 2022.

O Estado: FDI:  . Disponível em: https://embassies.gov.il/MFA/Portuguese/Pages/ESTADO-FDI.aspx. Acesso em: 01 de maio de 2022.

ALJAZEERA (Comp.). Israel and Hamas agree Gaza ceasefire after 11 days of fighting. 2021. Disponível em: <https://www.aljazeera.com/news/2021/5/20/israel-and-hamas-annouce-gaza-ceasefire&gt;. Acesso em: 2 maio 2022.

ALJAZEERA (Org.). Palestinians say 21 killed as Israeli air raids on Gaza continue. 2021. Disponível em: <https://www.aljazeera.com/news/2021/5/10/israeli-forces-raid-al-aqsa-compound-live&gt;. Acesso em: 2 maio 2022.

SIPRI (Org.). SIPRI Military Expenditure Database. 2022. Disponível em: <https://milex.sipri.org/sipri&gt;. Acesso em: 2 maio 2022.

SHERMAN, Martin. Gaza Conflict 2021: Hamas, Israel and Eleven Days of War. Middle East Quarterly, v. 29, n. 2, p. 4-5, 2022.