Personalidade Internacional: Otto Von Bismarck

Heitor Sena – Acadêmico do 3º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Alto e imponente, Otto von Bismarck foi um aristocrata prussiano que viria a ser reconhecido como um dos maiores policymakers do século XIX, em grande parte pelo seu protagonismo no processo de unificação da Alemanha e sua eventual ascensão como grande potência mundial no século XX.

Em 1862, apesar de lhe faltar experiência com cargos administrativos, Bismarck foi escolhido Ministro-Presidente da Prússia, não obstante, a análise dos anos que sucedem sua nomeação tornar-se-iam fundamentais para a formulação das Relações Internacionais, em especial para as correntes teóricas positivistas do  realismo e do liberalismo.

A ideia de unificar a Alemanha sob o domínio prussiano era almejada por Bismarck, o que o levou a usar uma das principais ferramentas do arsenal político da Prússia: a guerra. Neste ponto, cabe destacar a influência de seu compatriota Carl von Clausewitz para a conduta da política externa prussiana, para ele, a guerra seria apenas uma continuação da política. 

Indubitavelmente, a incorporação da guerra como instrumento só é possível de ser incorporada a partir da dissociação da ética do meio político, ideia defendida por Maquiavel (2019), que também defendia o uso da virtu (força) e da furbizia (decepção) como formas de alcançar objetivos.

Sob essa perspectiva o Reino da Prússia, conduzido por Bismarck lutou em guerras contra seus vizinhos, Dinamarca (pelas regiões de Schleswig e Holstein), Áustria (pelo controle da Confederação Alemã) e França, enfim culminando na unificação da Alemanha em 1871, além usar a diplomacia como um instrumento para negociar com outros Estados.

A guerra contra a Áustria em 1866 foi fundamental para a supremacia prussiana no território alemão. Para Henry Kissinger (2012, p.159), “Bismarck chegava à conclusão de que a Prússia precisava romper o elo de confederação com a Áustria”

Com a vitória prussiana no conflito, a Confederação da Alemanha, criada pela Áustria em 1815 com o congresso de Viena, seria desfeita em prol da Confederação do Norte da Alemanha, liderada pela Prússia, estabelecendo o país como uma potência em ascensão, o que iria afetar profundamente a balança de poder na região, levando as grandes potências da região a tentar conter o crescimento prussiano, algo que Bismarck estava perfeitamente ciente.

Nesse ponto, é possível compreender a política do final do século XIX a partir do paradigma Realista das Relações Internacionais. A balança ou equilíbrio de poder é um ponto chave para as correntes do Realismo, uma vez que tanto a vertente clássica de Morgenthau, a defensiva de Waltz quanto a ofensiva de Mearsheimer convergem em relação a aspectos como a racionalidade dos Estados, o objetivo de sobreviver antes de tudo, e crucialmente, que os Estados temem uns aos outros.

 Deste modo, o realismo entenderia o desequilíbrio provocado pela ascensão da Prússia como algo que tornaria seu embate com a França em 1870 inexorável, tal como Tucídides compreendia a dinâmica entre Atenas e Esparta na Guerra do Peloponeso.

Bismarck, no entanto, não pode ser visto apenas sob um olhar realista, e o desenrolar da Guerra Franco-Prussiana demonstra isso plenamente. Teórico do Neoliberalismo, Joseph Nye (2012) aponta Bismarck como um exemplo de personalidades históricas que demonstraram maestria sobre o uso de Smart Power, ou seja, o empreendimento de Hard Power (comandar) concomitantemente com o Soft Power (cooptar). Essa perspectiva torna-se indispensável para compreender a condução da política externa de Bismarck, uma vez que seria impossível unificar a Alemanha sem a cooptação de outros Estados na Alemanha, além da imposição prussiana no campo de batalha.

A Guerra Franco-Prussiana nasceu em meio a tensões acerca da sucessão ao trono espanhol, mas na realidade, era a balança de poder que estava em jogo. Apesar de ambos os países verem a guerra como o meio definitivo para alcançar seus objetivos, um conflito desse tipo inevitavelmente atrairia a atenção de outras grandes potências, tal como a Inglaterra, Rússia e Áustria, o que tornou-se uma barreira para que ele acontecesse.

Kissinger (2012) destaca que a relutância de ambas as partes em iniciar a guerra seria habilmente contornada por Bismarck, que conseguiu incitar um ataque francês ao editar um telegrama, que foi recebido como um insulto prussiano pelos franceses.

O triunfo em 1871 marcou a unificação da Alemanha, Bismarck alcançou seus objetivos como Ministro-Presidente e agora seria Chanceler do poderoso Império Alemão, cargo que ocupou até 1890. Indubitavelmente, suas ações resultaram na ascensão de uma nova potência no continente europeu, o século XX prometia ser o século alemão, isto é, até a Primeira Guerra Mundial.

REFERÊNCIAS

KISSINGER, Henry: Diplomacia, São Paulo: Editora Saraiva, 2012.

JATOBÁ, Daniel: Teoria das Relações Internacionais, São Paulo: Editora Saraiva, 2013.

NYE, Joseph: Futuro do Poder, São Paulo: Benvirá, 2012.

CLAUSEWITZ, Carl von: On War. Oxford University Press, 2007.

MAQUIAVEL, Nicolau: O Príncipe. Barueri: Ciranda Cultural, 2019.