Gabriela Cavalcante Grosso – acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), fundado em 1988, é um órgão das Nações Unidas composto por cientistas do mundo inteiro, que avaliam as mudanças climáticas e informam políticas públicas para combatê-las, por meio de Relatórios de Avaliação que são publicados periodicamente.

Por meio deste artigo, será analisado o novo relatório do IPCC, de 2022, que trata principalmente de mitigação, ou seja, a redução dos gases de efeito estufa e explica a evolução nos esforços para essa diminuição de emissões globais.

Dentre os principais pontos levantados, foi destacado que somente na última década houve um aumento total de 9,1 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa a quando comparado à década passada, marcando o maior aumento da história humana. Esse valor equivale a dezessete por cento de todo o carbono já emitido e lançado no ar. O relatório ainda aponta que a humanidade já atingiu 80% do nível de gás carbônico que pode emitir se quiser estabilizar o aquecimento da terra em 1,5°C, segundo o Acordo de Paris. Ademais, para se alcançar esse resultado, as emissões globais deveriam cair em 43% até 2030, embora esteja ocorrendo o movimento contrário.

Os impactos desse agravamento poderão ser fortemente perceptíveis em breve, se não houver uma mudança de rumo, afetando diretamente a vida dos seres humanos e ecossistemas. Dentre as possíveis consequências, pode-se citar o aumento da umidade e do calor que poderão ultrapassar os limites humanos, caso não haja uma redução. São levantadas, também, as questões das secas e enchentes, os quais tendem a aumentar os seus números de ocorridos, além de que a área alimentícia sofreria com um impacto significativo devido à queda da produção de arroz, trigo, milho, entre outros. É válido ressaltar que, se o nível se mantiver, o Brasil sofrerá impactos econômicos, além de ambientais, uma vez que os eventos mencionados acima afetam diretamente essa área. Haverá uma redução na capacidade de trabalho e na agricultura, que caíra em 24% segundo um estudo mencionado no relatório do IPCC.

Portanto, nota-se o quanto a emissão de gás de efeito estufa afeta diretamente toda a sociedade e tal problemática necessita ser resolvida, e o próprio relatório indica que o mundo tem capacidade para esse feito. É apontado, segundo o relatório, que o mundo possui a capacidade de redução de emissões de gases de efeito estufa pela metade em relação dos anos de 2019 até o ano de 2030, por meio de tecnologias e estratégias de mitigação que custam até $100 a tonelada, e no setor de energia, focando nas energias eólica e solar, que tem potencialidade de redução, deixando claro que as energias renováveis são mais baratas de se adotar do que as fósseis. Quanto antes isso ocorrer, menor será o risco de um overshoot, que é quando se excede o limite de 1,5°C na temperatura, podendo resultar em um dano permanente.

Para mais, a questão do desmatamento e das queimadas foram igualmente levantadas e, sobre o assunto, é válido destacar a frase do diretor de Economia Verde do WWF-Brasil, Alexandre Prado, que diz “(…) o país precisa eliminar totalmente o desmatamento dos nossos biomas. Não faz sentido do ponto de vista ambiental, social ou econômico queimar nossas riquezas naturais como está acontecendo” (WWF-Brasil, 2022).

Outrossim, durante o relatório, foi levantado algumas vezes a questão do Acordo de Paris – tratado que foi discutido durante a COP21 e aprovado em dezembro de 2015, que tem como objetivo reduzir o aquecimento global com a diminuição de emissão dos gases de efeito estufa, onde contou com a ratificação de 147 países, inclusive o Brasil.

 Esses países firmaram um compromisso que precisa ser cumprido, como é declarado por Hugo Grotius, teórico da vertente idealista clássica nas Relações Internacionais. O idealista pontua que o ser humano tem um desejo de viver em sociedade e por conta disso estabelece regras para o ordenamento da sociedade. “Dentre esses princípios, destaca-se sobremaneira a obrigação de cumprir os pactos, pois é a fonte de todas as obrigações jurídicas estabelecidas entre os homens.” (BARNABÉ, 2009, p. 29).

Dessa forma, pode-se concluir que o quadro ainda pode ser revertido se uma atitude for tomada imediatamente, por meio principalmente de investimentos financeiros que atualmente não se encontram alinhados com as reais necessidades. O relatório do IPCC indica que o investimento precisaria ser seis vezes maior do que é agora para uma mudança no cenário, ele ainda indica que há recursos para isso, mas muitas barreiras impedem que sejam aplicadas. É preciso um maior comprometimento por parte dos envolvidos para que haja uma mudança significativa no cenário, e, por consequência, um alinhamento com as colocações de Grotius.

Referências:

AINDA É POSSÍVEL CONTROLAR O AQUECIMENTO GLOBAL, DIZ IPCC. ArchDaily, 2022. Disponível em < https://www.archdaily.com.br/br/979641/ainda-e-possivel-controlar-o-aquecimento-global-diz-ipcc >  Acesso em: 9 de abril de 2022.

ANGELO, Claudio. “21 recados fundamentais do novo relatório do IPCC.” eCycle, 2022.  Disponível em < https://www.ecycle.com.br/21-recados-fundamentais-do-novo-relatorio-do-ipcc/ > Acesso em: 9 de Abril 2022.

BARNABÉ, Gabriel Ribeiro. “Hugo Grotius e as relações internacionais: entre o direito e a guerra.” 2009. Disponível em < https://www.revistas.usp.br/cefp/article/view/82606 > Acesso em: 8 de abril de 2022.

Climate Change 2022: Mitigation of Climate Change.” IPCC.  Disponível em < https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg3/ > Acesso em: 7 de Abril de 2022.

Impactos das mudanças climáticas: o recado do novo relatório do IPCC para o Brasil.” ClimaInfo, 2022.  Disponível em < https://climainfo.org.br/2022/02/28/impactos-das-mudancas-climaticas-brasil/?gclid=CjwKCAjw3cSSBhBGEiwAVII0ZzsfaXkHFU_x8OJyhUIrmPz1PZgPwO3BOcemxxwo99S5FJuCpmRc1RoCi2EQAvD_BwE > Acesso em: 08 de abril de 2022.

VIEIRA, João Pedro Bazzo; CARVALHO, Matheus Henrique. “Acordo de Paris: o que é?” Politize!, 2021.  Disponível em < https://www.politize.com.br/acordo-de-paris/ > Acesso em: 9 de Abril de 2022.