Amanda Olegário

1º semestre de Relações Internacionais

Segundo o autor Luiz Alberto Moniz Bandeira (2016), a Ucrânia é considerada uma região heterogênea por ter abarcado, ao longo dos séculos, etnias, culturas, religiões e tendências políticas diferentes, tendo suas fronteiras modificadas diversas vezes. Mas sua história começa na época medieval, mais especificamente no século IX, quando sua capital Kiev se tornou o centro do primeiro Estado eslavo formado por um povo chamado Rus, que também englobava o povo russo e bielorrusso. No ano de 862, com a união dos povos eslavos e finlandeses pelo príncipe viking Rurik, foi fundada a Rússia Quievana; mas em 1240 ela se fragmentou por conta da invasão dos Mongóis, formando mais tarde uma sociedade feudal e criando vários principados, como o Principado de Kiev, Galicia-Volhynia ou Reinado da Ruthenia, Principado de Chernigov, Principado de Pinsk Marshe e o Principado de Moscou. 

A região da atual Ucrânia continuou sendo disputada por vários povos e reinos, e a partir do século XVII foi repartida entre a Rússia por Ivan IV, o Terrível (1530–1584) e a Comunidade Polaco-Lituana – sendo regida mais tarde pelo Império Austro-Húngaro -, enquanto o território conhecido como Criméia passou pelos domínios otomano e russo. Décadas depois, a Comunidade Polaco-Lituana e a Rússia czarista entraram em guerra pelas terras localizadas ao leste da Ucrânia, que acabaram sendo anexadas à Rússia Imperial. 

Em 1764, durante o reinado da imperatriz Catarina, a Grande, a Rússia avançou sobre o território ucraniano de domínio polonês e desarticulou o Estado cossaco ucraniano que controlava essa região, e mais tarde foi instituída uma política chamada de russificação a qual proibia o uso e o estudo da língua ucraniana e forçava a conversão à fé ortodoxa russa, o que fez surgir um sentimento de nacionalismo ucraniano que, a partir de então, passaram a se titularem “ucranianos” como forma de se diferenciarem dos russos (BBC, 2022).

Mas até a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) a Ucrânia ainda não era reconhecida como país, e desde a Idade Média era conhecida como Pequena Rússia (especialmente a região que fica à margem esquerda do rio Dnieper).  Porém, após a Revolução Russa e a queda do czar Nicolau II, o comandante do Exército Vermelho, Leon Trotsky, reconhece a Ucrânia como um país (1919) a partir do princípio da autodeterminação dos povos defendido por Vladimir Lênin que afirma o seguinte: “A Ucrânia é a terra dos trabalhadores e camponeses ucranianos. Somente eles têm o direito de reger a Ucrânia, de governá-la e construir uma nova vida nela.”

No entanto, Lênin declara em nota publicada no jornal Pravda nº 82, em junho de 1917, que “o povo ucraniano não deseja separar-se da Rússia, no presente. Eles demandam autonomia sem negar necessidade da suprema autoridade do Parlamento de Toda a Rússia.” Logo, não demorou muito, após a tomada de poder pelos bolcheviques, para instituírem um governo antissoviético, com o general Pavel Petrovyč Skoropads’kyi (1873–1945), aristocrata de origem cossaca. Mas durou por pouco tempo, sendo derrubado pelo político nacionalista Symon Petlyura (1879 – 1926) o qual fundou a República Popular da Ucrânia.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), a parte ocidental da Ucrânia foi tomada da Polônia pelo líder soviético Joseph Stálin (1878 – 1953) e logo foi constituída a República Socialista Soviética da Ucrânia. Não tardou muito para a Criméia também ser anexada à república ucraniana, mantendo fortes laços com a Rússia até hoje por conta da base naval localizada na cidade de Sebastopol (BBC, 2022). E durante o período de domínio soviético, a Rússia se utilizou de várias políticas e artifícios para tentar submeter a Ucrânia à sua influência, como a grande fome (conhecida como Holodomor) que devastou milhões de ucranianos sendo usada como estratégia stalinista “para forçar os camponeses a se unirem à política comunista de fazendas coletivas” (BBC, 2022); essa crise da fome serviu como parte da propaganda nazista contra os judeus/bolcheviques durante a ocupação das tropas do Terceiro Reich na Ucrânia (BANDEIRA, 2016), realizando um massacre étnico hediondo. E por conta desse episódio, ainda existem grupos neonazistas em território ucraniano (BCC, 2022).

Mesmo empregando várias táticas, o poder central da União Soviética malogrou em dominar culturalmente a Ucrânia devido ao forte movimento nacionalista ucraniano que resistia à dominação soviética graças à educação e à cultura ucraniana ensinadas nas escolas. Em 1997, anos após a queda da URSS (1991), foi estabelecido um tratado entre a Rússia e a Ucrânia definindo a integridade das fronteiras ucranianas (BBC, 2022), mas ainda ocorrem divergências e contrastes nas regiões de domínio ucraniano por conta de todo esse passado turbulento o qual, de um lado, há a população da parte oriental que tem uma forte conexão com a Rússia, fala o idioma russo e segue a religião ortodoxa russa, enquanto na parte ocidental já há um nacionalismo ucraniano maior, valorizando e exaltando a língua e a cultura ucraniana e almejando seguir por caminhos independentes.

Referências Bibliográficas

BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A desordem mundial: O espectro da dominação – guerras por procuração, terror, caos e catástrofes humanitárias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

BBC BRASIL. Como nasceu a Ucrânia – e quais seus vínculos históricos com a Rússia. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-60549234.> Acessado em: 04/04/2022.

BBC BRASIL.  Sol Negro: o que é o símbolo associado ao nazismo usado por militar ucraniano em foto viral de guerra. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60646562.> Acessado em: 04/04/2022.