
Natalia Antunes (acadêmica do 5º semestre de RI da UNAMA)
Keity Silva de Oliveira (acadêmica do 3º semestre de RI da UNAMA)
Os agrotóxicos são produtos químicos, feitos de forma sintética, usados sob a justificativa de controle de doenças provocadas por vetores e para a regulação e crescimento da vegetação, tanto no ambiente rural quanto urbano (Inca, 2021). O Brasil é um dos principais países com maior consumo de agrotóxicos no mundo, onde há a importação de diversos produtos altamente perigosos e proibidos em determinados países e que são usados diariamente no país, causando impactos sociais e ambientais em sua utilização indiscriminada. Nesse sentido, é importante analisar as problemáticas geradas pelo seu uso no Brasil e na Amazônia e como o seu elevado crescimento representa sérios riscos para a população e para o meio ambiente.
A lógica do sistema produtivo agrícola criada pela Revolução Verde, na década de 50, é a responsável pela aderência ao uso em massa de agrotóxicos. Tendo como objetivo a modernização dos processos da agricultura e a produção em grande escala, a Revolução Verde se apresenta ao contexto brasileiro aproximadamente 10 anos depois, incentivada pelo governo do país, trazendo consigo a utilização abundante de agrotóxicos. Desde essa época, é tradição no Brasil o incentivo do Estado ao uso e à comercialização dessas substâncias, uma vez que essa dinâmica gera lucro ao país.
De maneira oposta, os impactos socioambientais da utilização de agrotóxicos são extremamente negativos. O uso dessas substâncias é considerado atualmente como um dos maiores problemas ambientais enfrentados pelo globo, causando contaminação da água e do solo, bem como prejudicando espécies variadas de animais. Além do impacto no meio ambiente, a massificação do uso de agroquímicos representa também um perigo para a saúde humana, como é exposto cada vez mais em estudos sobre o assunto. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a tecnologia agrícola destas substâncias químicas causa, entre países em desenvolvimento, 70 mil intoxicações graves e/ou crônicas ao ano. O agrotóxico é relacionado também com vários tipos de câncer, uma vez que pode causar alterações celulares a partir de uma exposição mais duradoura.
A região amazônica, alvo da lógica desenvolvimentista econômica fundada na exploração e desmatamento e regida pelo agronegócio, também é vítima da utilização em abuso dos chamados agrotóxicos. Um uso bastante comum dessas substâncias tem como objetivo, especificamente, o desmatamento da floresta amazônica, ameaçando o bioma como um todo e atacando comunidades nativas da região. Essa prática de desmonte é permitida pela fiscalização falha da comercialização e utilização das substâncias químicas, o que por sua vez é justificado, segundo a lógica do governo, pelo ganho econômico.
Durante o governo Bolsonaro, o Brasil foi parar no holofote no que diz respeito a práticas que vão essencialmente contra a tradicional política ambiental do país, (Fearnside, 2019). A partir do ano de 2019, início do mandato do atual presidente, a política ambiental brasileira é feita de retrocessos. Sobre os agrotóxicos, o governo Bolsonaro quebra recordes continuamente quando permite o uso em quantidades expressivamente alarmantes, em 2021, houve a liberação de 550 novas substâncias agroquímicas, decisão que gerou revolta em grupos ativistas ambientais ao redor do globo.
Portanto, o uso exacerbado de agrotóxicos apresenta-se como um fator alarmante para a saúde humana e animal e para os possíveis danos que podem gerar nos biomas brasileiros. O elevado número de produtos químicos no Brasil, que cresceram em abundância, entre 2019 e 2022, têm trazido efeitos degradantes, sendo esses muito maiores que qualquer benefício e que fazem parte das políticas anti-ambientais voltadas para o crescimento e enriquecimento do agronegócio.
Dessa forma, uma das principais alternativas para a minimização desses impactos é a agroecologia, compreendida como ciência e prática que considera não somente o conhecimento científico, mas principalmente, as técnicas e saberes dos povos tradicionais (Inca, 2019). Logo, através de princípios ecológicos e tradições culturais, que promovem a preservação da biodiversidade, justiça social e ambiental, segurança e soberania alimentar, a agroecologia representa o lócus ideal ao desenvolvimento de uma agricultura ambientalmente sustentável e livre de agrotóxicos.
Diante da temática exposta, recomenda-se a leitura do “Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os Impactos dos Agrotóxicos na Saúde”, que reúne três partes do Dossiê Abrasco lançadas ao longo de 2012, além de uma quarta parte inédita intitulada “A crise do paradigma do agronegócio e as lutas pela agroecologia”. O livro é uma co-edição da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz, e da editora Expressão Popular e aborda estudos, acontecimentos e decisões políticas, com informações que envolvem os agrotóxicos, as lutas pela redução dessas substâncias e pela superação do modelo de agricultura químico-dependente do agronegócio.
Disponível em: < https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/26221 >
Ademais, destaca-se o trabalho feito pelo INCT – Observatório das Dinâmicas Socioambientais (ODISSEIA), que faz parte do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UNB) e seu objetivo geral é entender os diferentes níveis de interação das dinâmicas sociais e ecológicas no contexto das mudanças climáticas, ambientais e sociodemográficas com a finalidade de encontrar, junto aos atores locais e a formuladores e executores de políticas públicas, possíveis soluções sustentáveis para adaptação. A proposta tem foco nas populações mais vulneráveis, nos meios rural e urbano de três biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Caatinga.
Para mais informações, acesse:
Site Oficial: < http://inct-odisseia.i3gs.org/ >
Facebook: < https://www.facebook.com/odyssea.amazonia >
Twitter: < https://twitter.com/odysseamazonia1 >
Por fim, evidencia-se o trabalho mencionado anteriormente no Amazônia em Foco, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), da Universidade Federal do Pará (UFPA), uma referência na Amazônia no ensino em nível de pós-graduação em desenvolvimento regional sustentável. Seus principais objetivos são a identificação, a descrição, a análise, a interpretação e o auxílio na solução de problemas regionais amazônicos e a difusão de informações dentro da realidade amazônica, desenvolvendo e priorizando a interação entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
Para mais informações, acesse:
Site Oficial: < http://www.naea.ufpa.br/ >
Instagram: < https://www.instagram.com/naea.ufpa/ >
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Guilherme Souza; LOPES, Carla Vanessa Alves. Agrotóxicos e seus impactos na saúde humana e ambiental: uma revisão sistemática. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/sdeb/a/bGBYRZvVVKMrV4yzqfwwKtP/ > Acesso em: 19 de março de 2022.
FEARNSIDE, Philip Martin. Retrocessos sob o Presidente Bolsonaro: um desafio à sustentabilidade na Amazônia. Sustentabilidade International Science Journal, v. 1, n. 1, p. 38-52, 2019. Disponível em: < http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/2019/Fearnside-Retrocessos_sob_o_Presidente_Bolsonaro-Revista_Sustentabilidade.pdf > Acesso em: 18 de março de 2022.
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Ambiente, trabalho e câncer: aspectos epidemiológicos, toxicológicos e regulatórios / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro: INCA, 2021. Acesso em: 21 de março de 2022.
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva Exposição no trabalho e no ambiente. Agrotóxico. Rio de Janeiro: INCA, 2019. Acesso em: 21 de março de 2022.