
Maria Clara Cruz – Acadêmica do 7º semestre de Relações Internacionais da Unama.
Instituída pela ONU no dia 21 de março como o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, a presente data foi definida em memória às vítimas do “Massacre de Sharpeville”, que aconteceu na província de Gautung, África do Sul, no período do Apartheid, para que determinasse a relevância dessa grande batalha contra a discriminação racial, que, até hoje, permeia de forma “comum” o cotidiano e avança trazendo traumas e muitas vítimas por todo o mundo.
O fim da primeira metade do século XX foi assinalado, especificamente na África do Sul, pela instauração do Apartheid. Traçado pela segregação racial, este regime certificou e garantiu à população branca do país, minoria dentro do contexto populacional, monopólios (políticos e econômicos). A datar deste momento, negros tiveram o direito de voto negado, e seus terrenos poderiam ser retirados à força pelo poder público, que os direcionava à minoria branca.
Nesse sentido, o Apartheid foi uma política de “separação” das raças que arrebatou os direitos da população negra, fazendo com que eles ficassem dependentes da população branca, na região da África do Sul, ao longo da década de 40. Esse regime contava com a “Lei de Passe”, uma exigência feita aos negros para que portassem um documento indicando os horários e os lugares que os mesmos poderiam circular dentro da cidade. Caso esta fosse descumprida durante as fiscalizações policiais, a população seria detida.
No turn around para os anos 60, grande parte da oposição, incluindo o famoso Congresso Nacional Negro (CNA) que ficou conhecido por ter o grande e destacado líder Nelson Mandela, passou a focar sua bravura em destronar a temida “Lei do Passe” e tudo o que era severamente exigido. Com isso em foco, em 21 de março de 1960 mais de 20 mil sul-africanos se aglomeraram ao sul da capital Joanesburgo, em Sharpeville, para protestar.
Uma ideia um tanto genial: forçar a polícia a prender todos os manifestantes ali presentes, causando uma crise no sistema prisional. Com o caos ali presente, esperava-se uma maior reflexão através dos grandes líderes do país, no tocante ao racismo presente em sua legislação. No entanto, um grupo de policiais revidou ao protesto, que ocorria de maneira pacífica, como se os mesmos fossem criminosos, disparando com armas de fogo contra a multidão. Ao total, contabilizou-se sessenta e nove mortos e quase duzentos e cinquenta feridos. A forma com que o governo respondeu à isso foi igualmente violenta; proibindo quaisquer tipo de organizações políticas na África do Sul, colocando diversos grupos como o CNA na invalidade, e também se reproduziu em uma repressão ainda maior à comunidade negra e seus porta-vozes, com o exemplo Mandela, que foi preso no ano de 1964, sendo condenado à prisão perpétua.
Trazendo para um viés teórico, a teoria do pós-colonialismo se apresenta na presente reflexão histórica e social, contemplando não somente as questões relacionadas à situação dos países que trocavam a experiência de um domínio colonial na sua história de forma atual, como também na questão das relacionadas difusões que geograficamente estão presente nos países que no passado pertenciam à seus colonizadores.
A condição dos que descendem dos povos colonizados presentes nas áreas urbanas das sociedades ocidentais de “Primeiro Mundo” provoca o estudo da forma como, eventualmente, a arcaica relação “colonizador e colonizado” ainda resiste de uma maneira natural dentro das relações sociais e organizacionais, na qual a sociedade ocidental cria de maneira unilateral as atuações dos elementos da dispersão que, em alternativa, se empenham por afastar, antepondo os seus conceitos próprios; enxergando assim, como na relação do presente texto, as relações entre África do Sul e os povos ingleses e holandeses (de origem historicamente branca) que desde 1795, lutavam para assumir o controle da região africana com o pressuposto de soberania intelectual, histórica e também racial.
Em conclusão, é de vasta importância que todos compreendam que a luta contra a discriminação racial deve ser não somente um trabalho único e exclusivamente de apenas um movimento, mas sim, um trabalho coletivo, pertencente à uma instituição e constante nos mais diversos âmbitos da nossa sociedade, pois apenas se combatendo a enraizada ideologia do racismo é que existirá um mundo mais justo e equânime. Parafraseando a grande filósofa negra Angela Davis, é necessário perceber que na nossa atual conjuntura racista, não se pode apenas “não ser racista”, mas sim, é necessário se fazer antirracista, lutando em conjunto e buscando entender as desigualdades sociais e éticas, ocasionadas pelo racismo.
Referências:
Porto Editora – pós-colonial na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. Disponível em https://www.infopedia.pt/$pos-colonial. Acesso em 14 mar. 2022.
SHARPEVILLE massacre: South African history [1960]. Sharpeville massacre. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/apartheid/Opposition-to-apartheid . Acesso em: 15 mar. 2022