
Yasmin Garcia – 5º semestre de Relações Internacionais.
O uso da água como elemento político e estratégico data desde o século VIII a.C., com as primeiras escavações de poços. As disputas por esse recurso natural são presentes até os dias atuais: o caso Israel e Palestina – motivado grande parte pelo domínio do Rio Jordão e o Mar da Galileia – pode ser mencionado. Desta maneira, não é incomum constatar que a Amazônia também se enquadra nesses contextos. (FILHO; TORQUATO, 2021)
Devido a profundas mudanças durante o século XX – como por exemplo em 1970, com a migração generalizada -, a Amazônia ganhou espaço no cenário mundial, sobretudo por ser uma fronteira de capital natural e, em especial, por seus recursos hídricos estratégicos. Com o advento da Globalização, o território amazônico virou palco de projetos internacionais, que previam a conservação e preservação da natureza. (BECKER, 2005)
Denominada como a Região Sul-Americana Compartilhada (ARSAC), a Amazônia faz parte de um sistema regional, no qual apenas 14% da água doce presente estão no Brasil. Países como Bolívia, Peru, e Venezuela possuem aproximadamente 70% das nascentes desse sistema. Por isso, através do Tratado de Cooperação Amazônico (TCA), os Estados teoricamete promoveriam o desenvolvimento econômico das respectivas regiões, incentivando os processos de cooperação entre os mesmos. (JESUS, 2015)
Sob esse viés, torna-se imprescindível associar a conjuntura ao conceito de Heartland e World-Island, de John Mackinder (1904). De acordo com o geopolítico, haveria uma massa continental, rica em recursos naturais, fronteiras com defesas inerentes e possibilitando ampla mobilidade à sua população. Quem possuísse o controle dessa área teria condições de expandir seu poder em escala mundial. (MESSIAS, 1992)
A mesma coisa acontece hodiernamente com a Amazônia: por ser uma zona com benefícios – principalmente econômicos – terrestres e marítimos, há muito interesse internacional. O fato de que maior parte da água doce global está localizada nessa faixa configura-a como grande potencial para a maioria dos países sul-americanos, que a transformam em um centro de disputa geopolítica e que pode vir a ser um espaço de disputa internacional entre países e corporações transnacionais.
No entanto, tudo se agrava com a falta de políticas públicas eficazes que valorizem o território e priorizam seu crescimento de forma a colocar o meio ambiente e sua preservação como ponto principal. À conta do mínimo investimento do governo na região, ela fica mais vulnerável a interferências externas e cada vez menos valorizada nacionalmente, deixando-a à mercê de intervenções exteriores.
Portanto, infere-se que o assunto é demasiadamente complexo, e que ocorrências como as supracitadas, afetam seu desenrolar definitivo. Entretanto, não se pode relevar sua importância para as atuais discussões nas relações internacionais. Sublinhe-se, a esse respeito, que ser acadêmico e pesquisador de Relações Internacionais na Amazônia significa também entender o que se fala da região no mundo e como falar dela para o mundo.
REFERÊNCIAS
BECKER, Bertha. Geopolítica da Amazônia. Estudos Avançados: Rio de Janeiro, 2005.
FILHO, Erivaldo C. S. TORQUATO, Carla C. A. GEOPOLÍTICA E PODER HÍDRICO NA AMAZÔNIA. Athenas: 2021.
JESUS, Samuel del. A Geopolítica da água: a Bacia dos Rios Amazonas e Paraguai sob a perspectiva Sul-Americana. Pajaguás: 2015.
MACKINDER, Halford John. The Geographical Pivot of History. Geographical Journal: 1904.