
Prof. Dr. Mário Tito Almeida
Há quase um mês acontece o conflito entre Rússia e Ucrânia. A guerra envolve situações e nuances diversificadas e multiformes. É um xadrez complexo que exige cuidado na análise. Os atores principais desse xadrez são Rússia, Ucrânia e OTAN. Em um mundo cada vez mais interdependente e interconectado, os efeitos dos embates acabam chegando a todos os cantos do planeta.
A Rússia, historicamente, desenvolveu suas ações de política externa baseando-se na defesa e ampliação de sua esfera de influência no leste europeu e hoje é guiada pela evocação das narrativas de um passado simbólico, cuja base reside na memória de uma identidade comum que havia sido fragmentada com a desintegração da antiga URSS em 1991, mas possui um novo projeto pós-soviético integrador, especialmente com a chegada de Vladimir Putin ao poder. É nesse contexto que se entende a anexação da Crimeia em 2014 e a atual investida russa no território ucraniano.
A Ucrânia, durante a Guerra Fria, era parte da União Soviética e sempre foi considerada uma importantíssima base militar soviética, especialmente marinha pelo acesso ao Mar Negro. Quando da dissolução da URSS, em 1991, tornou-se independente, mas continuou na zona de influência da Rússia.
A OTAN é um ator fundamental nesse contexto. Nascida como uma aliança militar dos países do Ocidente, liderada pelos Estados Unidos, para fazer frente ao Pacto de Varsóvia, foi crescendo em importância ao longo do século XX. Com o fim da Guerra Fria em 1991, atuou decisivamente na Guerra dos Balcãs e se consolidou como força militar na Europa, liderada pelos Estados Unidos.
O conflito entre Rússia e Ucrânia tem a ver com esses fatores geopolíticos. O desejo do governo ucraniano (mais alinhado com o Ocidente) de fazer parte OTAN (e o incentivo desta a este pleito) é entendido na Rússia como ameaça às suas fronteiras e aos seus princípios de política externa. Um dos motivos alegados por Putin para sua ação ancora-se na defesa de seus compatriotas e na proteção desses territórios. No entanto, o avanço das tropas até a capital Kiev, demonstra que Putin pretende dominar a Ucrânia toda, mantendo o país como um escudo diante dos interesses da OTAN.
Um fator importante é o elemento econômico. É sabido que pelo menos 50% do gás natural consumido na Europa provém da Rússia. Tal dependência é vital para os países, pois serve para aquecimento no inverno. Difícil acreditar que a Europa entraria em um conflito arriscando prejudicar seus habitantes.
Ninguém está certo numa guerra. Um conflito bélico é sempre o fracasso da diplomacia e mediação de conflitos. O que mais se tem notado é a ausência da ONU neste processo de escalada do conflito. Num campo onde o Brasil já foi referência, causa impacto as atitudes erráticas da diplomacia brasileira, dando sinais contraditórios sobre a situação e reafirmando a face empobrecida da Política Externa Brasileira.
É preciso paz.