
Maria Bethânia Galvão e Natalia Antunes (acadêmicas do 5º semestre de RI da UNAMA)
Keity Silva de Oliveira (acadêmica do 3º semestre de RI da UNAMA)
A urgência com que se discute sobre a mudança climática e a atual situação global do meio ambiente é crescente. Porém, ao contrário do esperado, as estratégias para lidar com as problemáticas ambientais, consequências da ação humana no planeta, que se tornam cada vez mais agravantes e irreversíveis, não têm a eficiência necessária. Uma agenda ambiental constitui num plano de desenvolvimento e manutenção sustentável do meio ambiente, que procure a minimização de danos e o melhor aproveitamento de recursos naturais. A criação de uma agenda para lidar com a emergência ambiental vivida atualmente na floresta amazônica seria o primeiro passo para um processo de desenvolvimento sustentável.
A teoria sobre uma nova era geológica, chamada de Antropoceno, foi criada pelo cientista Paul Crutzen em meados de 2000. Do ponto de vista desta teoria, o autor afirma que o planeta Terra sempre seguiu uma evolução predeterminada pelas forças geológicas desde a sua criação, há cerca 4,5 milhões de anos. Dessa forma, com o desenvolvimento da agricultura e o início da primeira Revolução Industrial, a população do mundo teve um explosivo crescimento e este feito transformou a pressão sob os recursos naturais e promoveu uma aceleração no uso destes. Com isso, Crutzen explica que a partir das constantes alterações no clima e na biodiversidade, causadas por ações humanas, o planeta entraria em uma nova era geológica, denominada por ele como Antropoceno e caracterizando os impactos do homem na Terra (Artaxo, 2014).
Diante desta teoria, têm-se o agravamento das mudanças climáticas, que ocorrem em nível global, regional e até mesmo local, seja de forma lenta ou acelerada e que mostram os resultados por trás das ações antrópicas desenfreadas sob o meio ambiente.
No Brasil, estas transformações são possíveis de serem observadas pelo aumento da produção de biomassa, mortalidade de árvores e ecossistemas, aumento de temperatura e alterações na distribuição e abundância de espécies, elevando dessa maneira, o CO2 atmosférico e que são consequências do desmatamento e da degradação dos biomas, que aumentam a vulnerabilidade dos ecossistemas e ameaçam a biodiversidade existente no país (Artaxo, 2020).
Nesse seguimento, a região Amazônica sofre com o modelo desenvolvimentista econômico baseado na ocupação predatória e no amplo desmatamento feito pelo agronegócio, por corporações transnacionais e grandes latifundiários, sendo estes fortemente apoiados e financiados pelo Estado brasileiro.
Em análise, essas ações são responsáveis pelo agravamento da crise climática global e comprovam que o Brasil está vivenciando uma emergência climática devido a destruição de importantes ecossistemas em seus biomas. O governo de Bolsonaro, que se iniciou em 2019, é marcado por um grande retrocesso nas políticas ambientais e de preservação da Amazônia, com o desmantelamento do arcabouço legal de políticas ambientais e suas instituições executoras, irregularidades na fiscalização ambiental, estruturas ambientalistas nas mãos de forças contrárias à proteção dos ecossistemas, práticas que foram possíveis por conta da destituição de normas e instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (Fearnside, 2019).
Como resultado, se formou uma opinião pública e global acerca da urgência de preservação da Amazônia, onde ressaltou-se a importância e protagonismo da região como fundamental e essencial para a trajetória das políticas ambientais no Brasil. Nesse cenário, o Brasil, anteriormente reconhecido e prestigiado como um importante ator em temas de cooperação e desenvolvimento, no que tangesse o clima e à preservação, está cada vez mais perdendo a imagem que projetava para a comunidade internacional.
O debate sobre uma problemática global como as mudanças climáticas, tema discutido inclusive na COP26 de 2021, ressalta a importância da recuperação de uma agenda ambiental para o país, que obtenha a minimização dos efeitos causados pelas ações humanas e que dialogue com um processo de desenvolvimento sustentável, compatibilizando assim, a conservação ambiental de um importante bioma como a Amazônia.
Cabe afirmar que a Amazônia está no centro dos debates internacionais acerca da questão do clima e da preservação, tendo em vista o traçado histórico de luta pela proteção da floresta e das comunidades tradicionais que nela habitam, em razão da constante ameaça de desmatamento pelas ações antrópicas. Nesse sentido, o Brasil, apesar de ser o segundo país mais rico em cobertura florestal remanescente do mundo (fica atrás apenas da Rússia), também é um dos que mais desmata as suas florestas. O país perde, anualmente, mais de 20 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa, por causa da derrubada de árvores e de incêndios florestais causados pelas atividades econômicas do país, as quais são a pecuária extensiva, a agricultura, principalmente com a expansão da soja, a construção de estradas, hidrelétricas e atividade madeireira, muitas vezes ilegal (MOREIRA, 2009, p.8). Portanto, é imprescindível que a Amazônia alcance visibilidade internacional para seus problemas, a fim de angariar recursos e apoio de atores transnacionais da sociedade civil global, a fim de fomentar a governança global sobre o território amazônico.
Diante da temática exposta no texto, o Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA), criado em 2007 pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), possui cadernos de debates chamados de tomos, frutos de suas contribuições nas reuniões em grupo, contando com a participação de pesquisadores, professores e cientistas como Bertha Becker. Destaca-se a obra “TOMO I – Mudanças climáticas, Água no mundo moderno e Biodiversidade amazônica” como indicação de pesquisa sobre o tema exposto.
Disponível em: < https://repositorio.inpa.gov.br/bitstream/1/4740/1/geea_tomo1.pdf >
Por fim, destaca-se o trabalho feito pelo Observatório do Clima, fundado em 2002 e que representa uma rede de organizações da sociedade civil, tendo como principal objetivo discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro, sendo um dos poucos grupos da sociedade civil que incluem representatividade, pluralidade e longevidade na discussão de mudanças climáticas.
Para mais informações, acesse:
Site Oficial: < https://www.oc.eco.br/ >
Facebook: < https://www.facebook.com/ObservatorioClima >
Instagram: < https://www.instagram.com/observatoriodoclima/ >
REFERÊNCIAS
ARTAXO, Paulo. As três emergências que nossa sociedade enfrenta: saúde, biodiversidade e mudanças climáticas. Estudos Avançados, v. 34, p. 53-66, 2020. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/ea/a/TRsRMLDdzxRsz85QNYFQBHs/?format=html > Acesso em: 07 de março de 2022.
ARTAXO, Paulo. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno?. Revista Usp, n. 103, p. 13-24, 2014. Disponível em: < https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/99279 > Acesso em: 07 de março de 2022.
FEARNSIDE, Philip Martin. Retrocessos sob o Presidente Bolsonaro: um desafio à sustentabilidade na Amazônia. Sustentabilidade International Science Journal, v. 1, n. 1, p. 38-52, 2019. Disponível em: < http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/2019/Fearnside-Retrocessos_sob_o_Presidente_Bolsonaro-Revista_Sustentabilidade.pdf > Acesso em: 07 de março de 2022.
MOREIRA, Helena Margarido. A importância da Amazônia na definição da posição brasileira no regime internacional de mudanças climáticas. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais “San Tiago Dantas” (UNESOP, UNICAMP, PUC-SP): São Paulo, 2009. Disponível em: < https://www.fclar.unesp.br/Home/Pesquisa/GruposdePesquisa/NPPA/C.E_Helena_MargaridoMoreiraHelena-LASA.pdf > Acesso em: 09 de março de 2022.