Amanda Araújo – Acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Ficha Técnica

Gênero: Drama

Direção: Aaron Sorkin

Ano: 2020

Produtora: Paramount

Distribuidora: Netflix

Movimentos sociais, manipulação midiática, racismo, julgamento parcial e muito mais, esse é o pano de fundo do filme lançado em 2020, pela Netflix, que traz uma história do passado mas que reflete cicatrizes muito atuais.

Os 7 de Chicago se passa em 1968, quando ocorreu a 35 Convenção Nacional Democrata, nos Estados Unidos, onde líderes sociais organizaram uma manifestação contra a Guerra do Vietnã. O objetivo dos mais de quinze mil manifestantes presentes era aproveitar a repercussão midiática que o evento teria para dar voz aos protestos contra o recrutamento irrefreável de civis para o combate.

A narrativa acompanha a jornada de 7 líderes de movimentos sociais, os quais acabam presos durante a manifestação – não foi autorizada pela prefeitura que enviou a polícia militar para acabar com o evento, de forma violenta e desrespeitosa. A priori, oito homens são presos e enviados a julgamento como os responsáveis pelo ato político, um deles sendo Bobby Seale, cofundador do Movimento Panteras Negras, que não possuía evidências de estar envolvido na manifestação e só foi incriminado por ser negro e para enfraquecer o movimento antirracista da época.  Depois de inúmeras provas sobre a inocência de Bobby serem expostas, sobram os outros 7 ativistas que o governo tentou a todo custo incriminar.

Trazendo para as Relações Internacionais, o filme se conecta com a teoria pós-moderna das RI, especialmente com o discurso de seu precursor, o filósofo Michael Foucault , que diz existir o Exercício de Poder dominante e o Exercício Silenciado do Poder. Exercício de Poder dominante é aquele que determina o pensar e o agir, pertencente a hegemonia, a elite, o Estado (FOUCAULT,1979).

Dentro da história, o julgamento e o juiz tendencioso representam o exercício de poder dominante, que tenta a todo momento anular as defesas dos réus, com narrativas pré prontas de culpa e crime para usá-los como ferramenta política, pois fica claro que o Estado não gostaria de uma oposição a sua narrativa de que ir para Guerra é sinônimo de patriotismo. Já os sete ativistas exercem o poder silenciado, aqueles que sofrem as consequências das decisões dos dominantes e que são silenciados.

Apesar da grande reviravolta no final da obra, e da persistência dos protagonistas em não desistirem e lutarem até o fim, o que, influenciou a história após o ocorrido, o longa-metragem mostra como a elite hegemônica se concentra em defender o interesse do Estado e como aqueles que defendem os interesses do povo são a minoria.

Uma questão para ressaltar é que muito já foi conquistado através dos movimentos sociais e das lutas contra o silenciamento político forçado da massa, mas fica o questionamento de quanto mais seria alcançado se não existisse o boicote constante do próprio governo contra seus cidadãos.

REFERÊNCIA

BRAGANÇA, Daniel Avellar. A Teoria Pós-moderna Das Relações Internacionais: Uma Discussão. UFSC: São Paulo, [S.I].

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.