Amanda Olegário

Graduanda em Relações Internacionais e Historiadora

            Nas últimas semanas, a Ucrânia tem enfrentado um grande clima de tensão com a Rússia, onde no dia 24 de fevereiro de 2022, foi noticiado a invasão russa na região com fortes explosões que atingiram até a capital ucraniana, Kiev. Entretanto, é importante salientar que esse conflito não é algo recente, e é muito mais complexo e profundo de se entender, pois a história dessas nações remonta desde o período medieval quando os russos e ucranianos, até mesmo os bielorrussos, faziam parte de um mesmo povo chamado Rus.

Com a união dos povos eslavos e finlandeses graças ao príncipe viking Rurik, em 862, formou-se a Rússia Quievana, mas que só duraria até o ano de 1240 com a invasão dos Mongóis (conhecidos como Tártaros) no Estado de Kiev onde estabeleceram uma sociedade feudal, desintegrando o Estado e formando depois o Grão-Ducado de Moscou e dividindo o território onde é a atual Ucrânia em duas áreas: a oriental e a ocidental.

A primeira é controlada e, mais tarde, anexada à Rússia, a qual mantem uma forte ligação com a cultura do Estado russo, enquanto que a ocidental foi controlada pela República Polaco-Lituana, depois passou a ser regida pelo Império Austro-Húngaro em 1772 até o fim da Primeira Guerra Mundial, e ao contrário da oriental, essa região desenvolveu sua própria cultura e nacionalidade, e esse é um dos principais pontos para compreendermos o interesse da Rússia na Ucrânia, especialmente na área oriental, o qual é a questão do sentimento de nacionalidade, de pertencer ou ter traços culturais, linguísticos e históricos ligados a um lugar.

Não foi por acaso que, recentemente, o presidente russo Vladimir Putin reconheceu de forma oficial a independência de duas regiões separatistas na Ucrânia, Donestsk e Luhansk, localizadas na região de Donbas. Durante seu discurso na TV russa, uma de suas afirmações foi que “a Ucrânia moderna foi “criada” pela Rússia” (BCC, 2022) e que para a Rússia “a Ucrânia não é apenas um país vizinho, mas parte da nossa história, dos nossos camaradas e parentes” (BCC, 2022). Putin também afirmou que “a Rússia foi “roubada” com o colapso da União Soviética em 1991” (BCC, 2022), o que nos leva a outro momento histórico importante para compreendermos esse conflito atualmente.

Após a Primeira Guerra Mundial, ocorreu a independência da República da Ucrânia a partir do Tratado de Brest-Litovski em 1918, mas durou por pouco tempo por conta da Guerra Soviético-Ucraniana em 1921 a qual anexou a Ucrânia como uma das repúblicas que englobavam a União Soviética, passando a ser chamada de República Socialista Soviética da Ucrânia.

Com o fim e a dissolução da URSS em 1991, a Ucrânia juntamente com os outros países do Leste Europeu, se tornaram independentes, mas logo começaram a ser vistos como alvos de interesse e disputa tanto pela Rússia quanto pela Europa Ocidental, para ampliarem suas áreas de influência. Dessa forma, durante os anos 1990 e 2000, além da Ucrânia, países como a República Tcheca, Polônia, Hungria, a região dos Balcãs, dentre outros, entraram para a União Europeia, o que não agradou a Rússia.

Em 2014, por conta da Revolução Ucraniana e da saída do presidente ucraniano pró-Rússia Viktor Yanukovych, o presidente Vladimir Putin, com medo de perder apoio, criou uma campanha militar para anexar o território da Criméia que, primordialmente, é um território étnico russo, mas desde 1954 pertencia à Ucrânia. Isso gerou uma guerra civil no país, mas Putin acabou tendo êxito na anexação dessa área graças ao apoio da maioria dos soldados ucranianos da Criméia que “eram céticos em relação à independência da Ucrânia” (POLITIZE, 2022).

A partir desse momento, as relações entre União Europeia e Ucrânia se estreitaram, e os EUA têm fornecido ajuda militar à Ucrânia desde então, especificamente “US$ 1,5 bilhões em assistência à segurança, incluindo tudo, desde Humvees e barcos de patrulha a radares de contra artilharia e armamento letal, como mísseis antitanques Javelin” (NPR, 2019). Com a invasão à Ucrânia nessa semana, o presidente americano Joe Biden anunciou que não enviará tropas para defender os ucranianos (BCC, 2022), uma vez que não seria interessante a intervenção americana em um conflito com a Rússia por diversas razões.

Mesmo após assinado o acordo de paz em Minsk (2015) intermediado pela França e pela Alemanha, o clima de tensão e conflito ainda permanece na região de fronteira entre Ucrânia e Rússia, e é nesse momento que a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a qual consiste numa aliança militar composta por potências ocidentais que existe desde a época da Guerra Fria, acaba entrando nessa história; a Ucrânia tem o desejo de fazer parte da OTAN, mas o presidente Putin enxerga isso como uma ameaça à sua própria segurança e influência territorial, pois assim a OTAN, à medida que se expande pelos países do leste europeu, cercaria a Rússia e a Ucrânia se fortaleceria. Por isso, a Rússia usa esses discursos como justificativa para uma ação bélica preventiva por parte do exército russo.

 Após a invasão e o ataque à Ucrânia, Putin se mostrou aberto a conversar e a negociar com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, estabelecendo condições para o fim desse conflito, como a “desmilitarização” e a “desnazificação” da Ucrânia, e retomando um status “neutro”, ou seja, mantendo-se longe da OTAN. Zelensky concordou em negociar com Putin, mas o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, afirmou que a Ucrânia “desapareceu”. O que nos resta agora é aguardar o desenrolar desse conflito e torcer para que a paz seja estabelecida.

Referências:

BBC BRASIL. Invasão da Ucrânia: o que Putin quer com a ofensiva russa?. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60514952.

BBC BRASIL. O papel dos vikings na origem da Rússia, que os soviéticos tentaram apagar. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-tra-41908732.

BBC BRASIL. Putin reconhece independência de regiões separatistas na Ucrânia e prevê envio de tropas para ‘manutenção da paz’. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60471555.

BBC BRASIL. Rússia invade Ucrânia: porque Biden não envia tropas para defender ucranianos. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60527310.

BCC BRASIL. Rússia invade Ucrânia: fortes explosões atingem capital; invasão deixa ao menos 137 mortos. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60503097#:~:text=For%C3%A7as%20militares%20russas%20iniciaram%20nesta,uma%20ampla%20invas%C3%A3o%20da%20Ucr%C3%A2nia.

CARTA CAPITAL. Rússia diz que Ucrânia ‘desapareceu ‘após sinalizar disposição par diálogo. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/mundo/russia-diz-que-ucrania-desapareceu-apos-sinalizar-disposicao-para-dialogo/

HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

NPR. How U.S. Military Aid Has Helped Ukraine Since 2014. Disponível em: https://www.npr.org/2019/12/18/788874844/how-u-s-military-aid-has-helped-ukraine-since-2014.

POLITIZE. Ucrânia e Rússia: 3 pontos para entender a crise. Disponível em: https://www.politize.com.br/ucrania-e-russia/.