
Jhennyfer Gonçalves, Luiz Sampaio e Kalwene Ibiapina, do 8º semestre de Relações Internacionais.
As Relações Internacionais são um campo de estudo que não se limitam apenas a política ou a economia, mas está presente na cultura, no comércio, na psicologia, no direito, no meio ambiente, e em todo o sistema internacional. Gilberto Sarfati (2005) afirma que o campo das Relações Internacionais, em seu próprio processo constitutivo, assume um caráter multidisciplinar, aprofundando ideias, teorias e ideologias.
Nesta lógica, um dos temas globais a serem tratados com urgência atualmente é o do meio ambiente. A preocupação com a questão ambiental nas RI surgiu ainda na década de 60, período no qual a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), realizou uma conferência internacional que abordou, principalmente, o uso racional e a conservação dos recursos naturais mais utilizados pelo homem (POTT & ESTRELA, 2017).
Neste sentido, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram pensados e criados a fim de atender as necessidades do presente, com urgência, e impedir o comprometimento das gerações futuras. A sua criação é o resultado da Conferência Rio+20, de 2012 e do legado deixado pelos Objetivos do Milênio (ODM), criados em 2000 – compostos por 21 metas a serem realizadas até 2015. Logo, os ODS foram implementados pela ONU, em 2015, fazendo parte de uma agenda global, chamada Agenda 2030, que conta com quatro dimensões principais: a ambiental, social, econômica e institucional.
Durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), o Brasil contava com uma Agenda Ambiental voltada à preservação da Amazônia, seguindo os critérios do Acordo de Paris. Nesse período, o país participou de diversos encontros e conferências que buscavam soluções para problemas globais, sendo país sede da ECO-92, em 1992, o que proporcionou o estabelecimento de importantes relações entre o Brasil e outras nações, além de alcançar um status de referência na proteção ambiental.
Este panorama mudou com a eleição presidencial de Jair Bolsonaro (2018) que, antes mesmo de sua posse, já ameaçava efetuar reformas como a dissolução do Ministério do Meio Ambiente e junção deste com o da Agricultura em uma única pasta, a extinção de órgãos de fiscalização ambiental, a diminuição de investimentos em energias renováveis e a flexibilização de licenças ambientais. Com posicionamentos e discursos que vão de encontro às metas e objetivos estabelecidos pela Agenda 2030, ameaças aos princípios firmados na ONU e mudanças drásticas no Ministério do Meio Ambiente colocaram o país no foco da maior crise socioambiental já vivenciada (GRESSE; ENGELS, 2020).
Os posicionamentos do atual governo do Brasil mediante assuntos ambientais de interesse global, foi um dos principais fatores que colocou o país em uma posição de pária internacional, fazendo com que este perdesse seu status de uma das principais referências mundiais no que consiste à legislação e ao manejo ambiental.
Diante do contexto brasileiro atual, da agenda política que está em andamento, podemos concluir que as ações do governo brasileiro o afastam cada vez mais das metas idealizadas para o meio ambiente, por meio dos objetivos estabelecidos pelos ODS, colocando em risco o futuro da Amazônia, de seus habitantes e, de certa forma, dentro da lógica da interdependência complexa, impactando também outros países.
Para o economista Ronaldo Seroa (UERJ), a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), seria a grande oportunidade para o Brasil se redimir globalmente. O que não foi o caso, já que o evento nem ao menos contou com a participação do líder brasileiro. Diante disso, independentemente dos resultados das eleições de 2022, a imagem do país ainda levará tempo para se restabelecer frente às nações, visto que, em menos de 3 anos, o país foi capaz de se tornar “inimigo” de qualquer forma de cooperação e o “vilão” nos debates de assuntos internacionais, desconstruindo as tradições diplomáticas brasileiras.
REFERÊNCIAS:
GRESSE, Eduardo; ENGELS, Anita. ODS: Desafios para o planejamento e a governança ambiental na Macrometrópole Paulista. São Paulo: Editora UFABC, 2020.
POTT, Crisla; ESTRELA, Carina. Histórico ambiental: desastres ambientais e o despertar de um novo pensamento. Rio Grande do Sul: Estudos Avançados, 2017.
SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.