
Pollyana Bernardes – Acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais da Unama
O ser humano prevê a importância da arte e das histórias desde o início da humanidade, recriando memórias, valores e exercendo a sua sensibilidade emocional, tanto com pinturas rupestres, quanto ao mais recente nível audiovisual em questão: o cinema. Com o avanço das plataformas de streaming, a democratização do cinema é um tema relevante para as Relações Internacionais, ainda que possua um longo caminho para sua total aplicação
Obras como “Moscou contra 007” (1967), “Adeus, Lenin!” (2003), “Marighella” (2019), entre outros, são grandes exemplos de análises da sociedade internacional que compreendem um contexto histórico singular. O primeiro filme da franquia de Star Wars (1977) é um exemplo de como a arte está diretamente ligada ao contexto político global, e como também é uma visão traduzida e construída de determinada realidade (ZANELLA&NEVES Jr, 2015).
Durante o período da Guerra Fria, a corrida espacial se tornou uma obsessão nas telas em meio a obras similares que contavam histórias sobre o desconhecido espaço, e assim criavam novos cenários de ficção misturados com um sentido reforçado de perspectivas sobre a nova globalização e tecnologia.
A supremacia dos filmes hollywoodianos demonstrava toda a visão etnocêntrica e individualista dos Estados Unidos, e com o passar dos anos foi possível enxergar a intencionalidade e os interesses da nação por trás das telas. Sendo assim, é importante salientar o papel do cinema na influência político-social das nações e também, entre elas.
Segundo Zanella e Neves Júnior (2015) em seu livro “Cinema e as Relações Internacionais”, “a utilização do cinema para formar e influenciar a opinião pública, induzir posições políticas, criar inimigos e legitimar políticas governamentais não é novidade”, portanto a utilização desse meio pelo próprio Estado se torna um instrumento político denominado por Joseph Nye (2014) como soft power, servindo como habilidade para manipular ideologicamente a massa popular.
Por conseguinte, em “A Indústria Cultural: o Esclarecimento como Mistificação das Massas” (Adorno; Horkheimer, 1985: 113-156) os autores criticam esse meio de comunicação sobretudo por seu caráter básico e homogêneo, levando à alienação, o que identifica um novo ponto de análise da indústria cinematográfica, em especial hollywoodiana, aplicado aos conceitos de seus ideais americanos.
Sendo assim, o uso de filmes e séries para perpetuar uma crença ideológica ou até mesmo uma forma de propaganda de um país ou nação (como no caso dos investimentos sul-coreanos), é uma maneira de se analisar as Relações Internacionais pela óptica da indústria cultural, proporcionando a qualificação do cinema e das obras audiovisuais como uma ferramenta de estudo da diplomacia internacional e do seu contexto histórico individual.
REFERÊNCIAS:
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
NYE, Joseph. Soft Power: The Means To Success In World Politics. New York. 2004
ZANELLA, Cristine; NEVES JR, Edson. As relações internacionais e o cinema. 1ºed: Belo Horizonte, MG: Fino Traço. 2015.