Maria Bethânia Galvão (acadêmica do 4º semestre de RI da UNAMA)

Keity Silva de Oliveira (acadêmica do 2º semestre de RI da UNAMA)

A existência dos institutos de pesquisa e ensino superior na Amazônia representam um importante meio para a construção e produção de conhecimento científico em torno da região e das diversas comunidades locais existentes. Nesse sentido, é imprescindível discutir sobre o papel dessas instituições e suas contribuições para a pesquisa e identificação da complexidade de dinâmicas dos processos humanos e ambientais que fomentam a Amazônia e seu desenvolvimento, assim como, os atuais desafios enfrentados por elas para seu pleno funcionamento e conservação no país.

Em primeira instância, o estabelecimento de diversos campis pelo território amazônico, tanto de instituições privadas quanto públicas, representou a superação da visão colonial de que a Amazônia é um território “isolado” e limitado às atividades de exportação de matéria prima, a partir das discussões acerca das novas perspectivas sobre Amazônia, é que se leva em consideração seus potenciais intelectuais e acadêmicos de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Nessa perspectiva, se estabelece uma ciência que considere a vivência das comunidades amazônidas e que contribua para o bem-estar dos povos, assim como um projeto de preservação da floresta, nesse seguimento deve-se entender a região com foco nas rupturas com uma “percepção dominante da Amazônia homogênea, reconhecendo, assim, a pluralidade das experiências registradas na sua história social” (PEREIRA, et al., 2021 apud CASTRO; CAMPOS, 2015, p. 15).

Sobre esse avanço, Lima (2015) evidencia que:

Embora ainda existam muitos lugares que a universidade pública ainda não chegou, é necessário admitir os avanços advindos do processo de interiorização do ensino superior a partir da implantação desses novos campi em municípios desta região amazônica, considerada por muitos, lugar isolado com gente de pouco saber. Tais avanços podem ser verificados não somente no número de pessoas que estão adquirindo uma formação em nível superior, mas, sobretudo, na ocorrência de mudanças na infraestrutura sociopolítica, econômica e cultural das cidades que sediam tais instituições.

Em segunda instância, cabe analisar a relação da população amazônida com os institutos de pesquisa e o ensino superior na região, a partir da sua ingressão nestes espaços. Nesse contexto, se discute o nível de acesso da população ao ensino superior e considera-se suas variáveis, como as condições do transporte fluvial, moradia para alunos de outras localidades, distanciamento das famílias, infraestrutura da cidade para recebimento de novos moradores, rotatividade de professores, alunos da zona rural, etc. (LIMA, 2015). Sobre isso, é compreendido que ao longo dos anos, se estabeleceram políticas afirmativas para tornar democrático o acesso da população de baixa renda nas universidades, por meio de programas estudantis, como as cotas – para universidade pública, e o Fies – para as universidades privadas, no entanto, ingressar no ensino superior não é o mesmo que se manter nele, e esse é o maior desafio para os acadêmicos na região Amazônica, em razão das condições socioeconômicas e de infraestrutura que vivenciam os acadêmicos, como afirma Lima (2015):

As dificuldades são as mais diversas e todas concorrem para o aumento da evasão e retenção dos alunos nos cursos, quais sejam: dificuldade para conciliar estudo e trabalho, alto custo exigido para a manutenção de um curso de graduação, mesmo aquele oferecido em instituição pública, baixa produtividade nas disciplinas por conta das deficiências da educação básica, dentre outros.

Em relação aos institutos de pesquisa e ciência na Amazônia, eles são voltados para o estudo de um complexo de variáveis que abrangem múltiplas interações entre redes de pesquisadores e instituições, tendo-se ênfase em descrições que se referem a práticas de comunicação e tradução da ciência no mundo (Faulhaber, 2005). Nesse sentido, os institutos buscam pesquisar, identificar e entender a complexidade das diferentes formas de vida e dinâmicas dos processos humanos e ambientais que ocorrem na Amazônia e em suas áreas de fronteira, sendo importantes ferramentas de construção de conhecimento.

Nessa conjectura, apesar dos grandes avanços e conquistas ganhadas por esses centros de pesquisa, eles enfrentam uma crise que ameaça sua capacidade de produzir conhecimento científico, o que é algo considerado como vital para a proteção da Amazônia. De acordo com Silveira (2019), as instituições, que estão atualmente sob a alçada do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC), sofreram drásticas reduções em seus orçamentos nos últimos anos, a suspensão e congelamento de bolsas de pós-graduação, a queda e falta do número de pesquisadores e técnicos em atividade, perdendo assim, pessoas capacitadas para a produção e comunicação do conhecimento.

As instituições sofrem com o risco de fechamento no futuro por conta do sucateamento do aporte em investimentos nacionais em ciência e tecnologia, recebendo menos de 3% desses e devido a diminuição e evasão de pesquisadores para o exterior. Dessa forma, para Ana Luísa Albernaz, diretora do Museu Goeldi, esta crise representa a falta de valorização do conhecimento científico para a tomada de decisões e geração de tecnologias adequadas para as regiões brasileiras, condenando assim, as instituições á irrelevância em âmbito nacional e internacional (Silveira, 2019).

Portanto, visa-se a necessidade de construção de um projeto coletivo de desenvolvimento regional, através do governo federal, com a participação da vida pública, principalmente as comunidades amazônidas, em prol de transformações estruturais necessárias para a manutenção e conservação dessas instituições como importantes centros de conhecimento e produção científica em meio aos desafios postos pela realidade regional amazônica.

Em vista disso, ressalta-se a importância das indicações de pesquisas feitas no quadro Amazônia em Foco como meios para a difusão científica e agregação de conhecimento, podendo ser visualizadas a seguir:

Museu Emílio Goeldi – estudos científicos dos sistemas naturais e socioculturais da Amazônia, bem como se concentra na divulgação de conhecimentos e acervos relacionados à região. Para mais informações, acesse:

Site Oficial do Museu: < https://www.gov.br/museugoeldi/pt-br >

Instagram do Museu: < https://www.instagram.com/museuemiliogoeldi/ >

Facebook do Museu: < https://pt-br.facebook.com/museugoeldi/ >

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) – gerar e disseminar conhecimentos e tecnologias e capacitação de recursos humanos para o desenvolvimento da Amazônia. Para mais informações, acesse:

Site Oficial do Inpa: < https://pesquisa.inpa.gov.br/ >

Instagram do Inpa: < https://www.instagram.com/inpa_mcti/ >

Facebook do Inpa: < https://www.instagram.com/inpa_mcti/ >

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) – produção de conhecimento, implementação de iniciativas locais e influência em políticas públicas, de forma a impactar o desenvolvimento econômico, a igualdade social e a preservação do meio ambiente.

Site Oficial do IPAM: < https://ipam.org.br/pt/ >

Instagram do IPAM: < https://www.instagram.com/ipam_amazonia/?hl=pt-br >

Facebook do IPAM: < https://www.facebook.com/IPAMAmazonia/ >

REFERÊNCIAS:

FAULHABER, Priscila. A história dos institutos de pesquisa na Amazônia. Estudos Avançados, v. 19, p. 241-257, 2005.  Disponível em: < https://www.scielo.br/j/ea/a/j4p4F4CLNT7MNhCLyCsRDpg/?lang=pt# > Acesso em: 20 de dezembro de 2021.

PEREIRA, Jefferson William. Et al. Relações Internacionais e ensino superior na Amazônia: notas históricas e reflexões. Humanidades e Inovação: Maio, 2021, v. 8 n. 44 (2021): Ensino em Saúde I, Palmas, TO. Disponível em: < https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/3920 > Acesso em: 20 de dezembro de 2021.

LIMA, Nara Maciel Falcão. Ensino superior na Amazônia: desafios e possibilidades na região Norte. UFMA – VII Jornada Internacional Políticas Públicas: 2015, São Luiz, MA. Disponível em: < http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo13/ensino-superior-na-amazonia-desafios-e-possibilidades-do-ensino-superior-na-regiao-norte.pdf > Acesso em: 20 de dezembro de 2021.

SILVEIRA, Evanildo da. Crise dos mais antigos centros de pesquisa da Amazônia ameaça proteção da floresta. BBC News: Novembro, 2019. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50396127 > Acesso em: 20 de dezembro de 2021.